Dados preocupantes foram divulgados nesta segunda-feira (28) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada às Organizações das Nações Unidas (ONU). No relatório Greenhouse Gas Bulletin deste ano, vemos que a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera atingiu um recorde global sem precedentes em 2023.
Entre esses gases, estão poluentes como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), responsáveis diretamente pelo avanço do aquecimento global, que por sua vez ocasiona as mudanças climáticas que já estão gerando consequências catastróficas em todo o planeta.
A OMM aponta que o acúmulo de CO2 tem sido mais veloz do que em qualquer outra época da existência humana. O relatório mostra que o aumento da concentração deste poluente na atmosfera foi de 11,4% em apenas duas décadas. E somente em 2023, a concentração deste gás atingiu uma média global de 420 partes por milhão (ppm), tendo crescido em 2,3 ppm em comparação com o registrado em 2022.
Tal concentração chega a ser 151% maior do que os níveis pré-industriais, sendo que o CO2, sozinho, é responsável por aproximadamente 64% do aquecimento da temperatura média da Terra.
“O boletim alerta que enfrentamos um possível ciclo vicioso. A variabilidade climática natural desempenha um grande papel no ciclo do carbono. Mas, no futuro próximo, as mudanças climáticas podem fazer com que os ecossistemas se tornem maiores fontes de gases de efeito estufa. Incêndios florestais podem liberar mais carbono na atmosfera, enquanto o oceano aquecido consegue absorver menos CO2. Consequentemente, mais CO2 poderia permanecer na atmosfera, acelerando o aquecimento global. Esses ‘feedbacks’ climáticos são preocupações críticas para a sociedade humana”, disse Ko Barrett, vice-secretária-geral da OMM.
O problema fica ainda mais grave ao considerar que os gases do efeito estufa têm efeito cumulativo. Ou seja: mesmo que as emissões sejam imediatamente reduzidas, a temperatura elevada causada pela alta concentração desses gases permanecerá por décadas, até que comece a diminuir, gradativamente.
Considerando que a emissão de poluentes precisa cair 42% até 2030 para manter o aquecimento do planeta em 1,5ºC — conforme estabelecido no Acordo de Paris em 2015 —, ou cair 57% até 2035, tecnicamente ainda é possível impedir o “fim do mundo”. Porém, se a comunidade internacional cumprir os termos do Acordo imediatamente, levará décadas para que o aquecimento global comece a ser freado, o que continuará gerando graves consequências em todo o mundo, incluindo os eventos climáticos extremos que agora parecem ser o “novo normal”. Isso se os termos forem cumpridos de imediato — o que, convenhamos, é uma esperança tão otimista que pode ser considerada utópica.
Em suma: estamos “lascados”.
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