Ciência

94% do Nordeste pode virar um deserto em 30 anos

Até 2050, 94% do nordeste do Brasil será transformado em um deserto. O número de brasileiros afetados por enxurradas devastadoras vai crescer de 100 a 200%. Doenças como malária e dengue causarão mais e mais mortes. 50% da floresta da Amazônia deixará de existir. Moradores de grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, sofrerão cada vez mais com falta de água e energia.

Essas catástrofes (entre outras tão assustadoras quanto) são projeções para os próximos 30 anos divulgadas no relatório Mudança do Clima no Brasil – síntese atualizada e perspectivas para decisões estratégicas, estudo que traz um recorte, focado em nosso país, do report mais recente do Painel  Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

O documento de 106 páginas foi lançado nesta quarta-feira (6) e não apenas escancara a triste realidade da “saúde” do planeta, como elabora para o futuro próximo diversas projeções aterrorizantes como as que iniciam esta matéria. Ainda é possível “salvar a Terra” de alguma maneira, mas fica claro que o prazo está cada vez mais apertado, e o ponto de inflexão — aquele a partir do qual não há mais retorno — parece cada vez mais próximo.

Abaixo, você confere a reportagem completa da Agência Brasil com um resumo dos pontos mais preocupantes que estão no relatório oficial:

Brasil tem aumento de até 3ºC na temperatura de algumas regiões

Nos últimos 60 anos, o aquecimento em algumas regiões brasileiras foi maior que média global, chegando a até 3º Celsius na média das temperaturas máximas diárias em algumas regiões, aponta o relatório Mudança do Clima no Brasil – síntese atualizada e perspectivas para decisões estratégicas. De acordo com o estudo, desde o início da década de 1990, o número de dias com ondas de calor no Brasil subiu de sete para 52, até o início da década atual.

Ainda dá para frear o aquecimento global, mas o tempo é curto (Créditos: TheDigitalArtist/Pixabay)

“Eventos extremos, como secas severas e ondas de calor, serão mais frequentes, com probabilidade de ocorrência de eventos climáticos sem precedentes”, destaca o relatório.

O estudo, lançado oficialmente em Brasília, nesta quarta-feira (6), é um recorte para o Brasil do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e de outros estudos científicos atuais, resultado de um esforço que reuniu o Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação com as organizações sociais da Rede Clima, o WWF-Brasil e o Instituto Alana.

Projeções para os próximos 30 anos são terríveis

A partir das projeções para os próximos 30 anos, apresentadas de forma inédita pelo IPCC, com o objetivo de orientar ações de adaptações, os pesquisadores também concluíram que se o limite de 2ºC for atingido, em 2050 limiares críticos para a saúde humana e a agricultura serão ultrapassados com mais frequência.

Nesse cenário, a população afetada por enxurradas no Brasil aumentará entre 100 e 200%. Doenças transmitidas por vetores como os da dengue e malária também causarão mais mortes.

A Amazônia, por exemplo, perderá 50% da cobertura florestal pela combinação de desmatamento, condições mais secas e aumento dos incêndios. O fluxo dos rios serão reduzidos e a seca afetaria mais os estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. O ciclo de chuvas no Brasil e na América do Sul também serão afetados.

Os estoques pesqueiros serão reduzidos em 77%, com redução de 30% a 50% dos empregos no setor. O impacto estimado na receita, em relação ao Produto Interno Bruto é 30%.

O Nordeste, onde vivem atualmente quase 55 milhões de pessoas, segundo dados preliminares do Censo 2022, pode ter 94% do território transformado em deserto.

(Créditos: jcomp/Freepik)

Pessoas que vivem nas grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte ficarão expostas à escassez de água. A estimativa é que no cenário de mais 2ºC, em 2050, 21,5 milhões de pessoas em áreas urbanas sejam afetadas pela quebra do ciclo hídrico e do impacto nas safras.

Medidas para combater os extremos climáticos

Nas conclusões, os pesquisadores consideram ser necessário manter o limite de 1,5ºC no aumento médio da temperatura global e não permitir que as emissões de gases do efeito estufa continuem crescendo e para isso é necessário rever as ambições das políticas nacionais. “As metas brasileiras não têm correspondido ao tamanho da redução das emissões que cabem ao país” destaca o relatório.

Entre os ajustes imediatos apontados pelo estudo estão: zerar o desmatamento em todos os biomas, investir em programas de pagamentos por serviços ambientais para incentivar a conservação, migrar para uma agricultura de baixo carbono, por meio de sistemas agroflorestais e integração entre lavoura, pecuária e floresta.

A gestão integrada dos recursos hídricos e a adoção de sistemas agrícolas resilientes às mudanças climáticas são apontados pelos cientistas como saídas para garantir as seguranças hídrica e alimentar.

Soluções baseadas na natureza são medidas necessárias para adaptar as cidades às mudanças climáticas, com o aumento de áreas verdes que tornem as regiões urbanas mais permeáveis com drenagem natural. O relatório também aponta a necessidade de investimentos em transporte público de baixo carbono, como incentivo ao uso de transportes coletivos e não motorizados.

O estudo aponta ainda a importância da cooperação internacional no financiamento climático desenvolvimento e transferência de tecnologias limpas, além do reforço coletivo para diminuir as emissões de gases do efeito estufa.

*por Fabíola Sinimbú | Agência Brasil

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Patricia Gnipper

Coordenadora editorial do Drops de Jogos.

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