Ciência

Holanda testa primeira vacina contra overdose de fentanil

Um dos maiores problemas dos EUA nas últimas décadas é uma epidemia de opioides, que já causou mais de 100 mil mortes por overdose desde 1999. E uma solução para isso pode estar numa ideia meio inovadora: uma vacina desenvolvida para evitar a overdose por fentanil. A história foi contada com mais detalhes em reportagem da Wired.

Permitido para uso nos EUA desde 1968, o fentanil é uma substância opioide sintética com um fortíssimo efeito analgésico e anestésico. Ele é muito usado como um dos elementos da anestesia geral, pois apenas algumas miligramas dele é o suficiente para parar todas as funções do corpo.

Apesar de ser altamente viciante e mortal quando em dosagem errada, durante décadas essa substância conseguiu ser relativamente controlada devido ao uso quase que exclusivo pela área de saúde. Mas, desde a década de 1990, o fentanil passou a ser uma mistura comum em drogas ilícitas e remédios contra a dor criados em laboratórios clandestinos. Isto porque, além de viciante e altamente potente, o fentanil é uma substância muito barata e que não possui cheiro, sabor ou coloração características. Ou seja, ele se torna totalmente invisível quando misturado com outras substâncias.

A ideia de uma vacina contra opioides não é um conceito novo, e os primeiros testes aconteceram na década de 1970 na busca de uma vacina que ajudaria a prevenir o vício em heroína. Na época, os estudos foram abandonados pela incapacidade de se encontrar uma forma de injetar essas substâncias de modo seguro no corpo humano. Mas agora o laboratório ARMR acredita ter conseguido encontrar uma solução.

Como funciona a vacina contra fentanil

A vacina contra fentanil tem como princípio o mesmo conceito de qualquer vacina: injetar no corpo uma dose segura de fentanil, o suficiente para ativar as defesas do organismo para criar anticorpos e uma memória celular para aquele tipo de substância. Assim, da próxima vez que o corpo entrar em contato com moléculas de fentanil, ele irá reconhecê-las rapidamente como uma ameaça e gerar os anticorpos para neutralizá-las antes que elas possam causar danos ao corpo – protegendo assim aqueles que tomaram vacinas de uma overdose causada pela substância.

Até então, a dificuldade para isso era o tamanho das moléculas de fentanil, que são muito pequenas para ser detectadas na corrente sanguínea antes de atingirem o cérebro, impedindo assim a ação dos anticorpos antes que elas causem seu efeito no organismo. A solução foi criar um composto que une essas moléculas de fentanil a uma outra proteína – no caso, uma versão desativada da toxina causadora da difteria, e que já é usada em outras vacinas do mercado.

Essa toxina faz com que a molécula resultante seja de um tamanho suficiente que a impede de atravessar a barreira celular que protege o cérebro. Assim, as moléculas de fentanil não causam seus efeitos característicos – aquela sensação prazerosa de se estar “chapado” – e ficam no sangue tempo o suficiente para que o sistema imunológico possa criar anticorpos contra elas. E, após todo esse processo, essa moléculas são eliminadas pelo corpo através da urina.

Como serão os primeiros testes

A primeira fase de testes da vacina irão iniciar no começo de 2026, com cerca de 40 adultos saudáveis. A primeira parte dos testes servirá para determinar se ela é segura para consumo humano e qual a melhor dose para criar uma resposta imunológica. Na segunda parte do teste, os mesmos participantes receberão uma pequena dosagem de fentanil para se determinar a eficácia da vacina em criar anticorpos que bloqueiam a substância. Esses testes serão feitos no Centre for Human Drug Research, na Holanda, que já conduziu diversos testes de medicamentos usados para reverter um quadro de overdose com opioides.

Apesar de ainda nas primeiras fases do estudo, a ARMR sabe que a vacina contra fentanil não é a solução final para a epidemia de opioides – afinal, todos os estudos feitos pelo laboratório indicam que a vacina só é efetiva para proteger exclusivamente contra overdose de fentanil, não protegendo o usuário de overdose causada por outros tipos de opioides. E, claro, ela também não irá impedir ninguém de se viciar e abusar do uso de drogas. Mas eles acreditam que a vacina pode ser mais uma ferramenta para se diminuir o número de mortes causados pelo abuso destas substâncias – principalmente entre aquelas pessoas que nem sabem que estão consumindo fentanil misturado nos remédios ou drogas recreativas que utilizam.

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Rafael Silva

Rafael Silva é jornalista formado desde 2017. Cresceu lendo revistinhas de videogame, entrou numa "nóia" quando percebeu que o “jornagames” ainda era feito para adolescentes que só tinham interesse de discutir qual console era melhor, e agora está numa missão de vingança para resolver isso com as próprias mãos.

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