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Apertem os cintos, o piloto já era na crise. Por Renato Degiovani, colunista do Drops de Jogos

Cenário 2: Seu jogo está ganhando prêmios, as repercussões nas stores está sendo das melhores, tudo aponta para a realização de um sonho. Você vai ter um estúdio brasileiro de games. Já pensa em contratar mais profissionais, planejar novos títulos, aproveitar a onda de sucesso que os brazucas estão tendo e o reconhecimento de que somos capazes de produzir bons jogos. E você pensa em fazer tudo isso aqui mesmo, na Terra de Santa Cruz.

Querendo ou não, gostando ou não, o quem vem pela frente, no cenário nacional, não anima em absolutamente nada para quem já navegou por águas turbulentas. Dizem que cachorro picado por cobra tem medo até de linguiça. A verdade nua e crua é que o Brasil mergulhou numa crise política grave, que está arrastando a economia pra um buraco maior ainda.

E qual é a relação disso tudo com a produção BR de games? Bem, você mora aqui e portanto os efeitos disso tudo baterá em sua porta a qualquer momento. Como?

Em primeiro lugar secando quase por completo toda e qualquer fonte de investimento público na área e à reboque, logo em seguida, os investimentos privados, que já são poucos. O custo do dinheiro está na estratosfera e queimar suas próprias reservas nunca foi uma boa política. Some a isso a queda de vendas/arrecadação e aumento de impostos. Acrescente no bolo a recente tentativa de taxar as vendas por download, taxar os vídeos do YouTube de gameplay e o anúncio mais recente de fragmentar em pacote$ a internet fixa.

Tudo o que mexer com o bolso do consumidor na transmissão de dados, vulgarmente conhecida como internet, vai repercutir na produção digital.

Está parecendo um cenário pessimista? Pois acredite: Não é tanto assim. Já passamos por três crises maiores e mais graves do que essa de hoje e todas tiveram em comum um ponto interessante. Elas foram momentos nos quais foi possível repensar a forma como os produtores brasileiros atuam no mercado. Oportunidades que, premidos pela necessidade, fomos obrigados a considerar soluções que antes sequer dávamos atenção. Alguns conseguiram sobreviver e prosperar, outros ficaram pelo caminho.

Estamos em crise sim, mas iremos sair dela mais cedo ou mais tarde e isso é certeza absoluta. Esse é, portanto, o momento para debates e fóruns sobre movimentos alternativos. A industria nacional de games precisa ocupar espaços e definir a sua identidade.

Ninguém é obrigado a participar ou concordar ou dar a menor atenção ao assunto, mas a sobrevivência nos momentos de tempestade depende muito do quanto as pessoas e empresas estejam dispostas a promover uma união de interesses.

As associações bem que poderiam capitanear esse processo, uma vez que a academia tem uma dinâmica diferente do mercado. Mas aí é esperar demais da boa vontade e lucidez dos pares envolvidos.

Renato Degiovani é o primeiro desenvolvedor de jogos brasileiro, desde 1981. É colunista do site Drops de Jogos no espaço DEV.LOG, com textos regulares sobre sua experiência de décadas. Foi o desenvolvedor do jogo Amazônia, é conhecido na comunidade nacional do aparelho MSX, editou a revista Micro Sistemas e é responsável pelo espaço TILT Online.

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