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Meu Saci pula mais que o seu. Por Renato Degiovani, colunista do Drops de Jogos

"O Saci Pererê tem sua origem presumida entre os indígenas da Região das Missões, no Sul do país, de onde teria se espalhado por todo o território brasileiro. A figura do Saci surge como um ser maléfico, brincalhão ou gracioso, conforme as versões comuns ao sul.

Na Região Norte do Brasil, a mitologia africana o transformou em um negrinho que perdeu uma perna lutando capoeira, imagem que prevalece nos dias de hoje. Herdou também, da cultura africana, o pito, uma espécie de cachimbo e, da mitologia europeia. Herdou o píleo, um gorrinho vermelho usado pelo lendário Trasgo. Trasgo é um ser encantado do folclore do norte de Portugal, especialmente da região de Trás-os-Montes. Rebeldes, de pequena estatura, os trasgos usam gorros vermelhos e possuem poderes sobrenaturais".

Teste: Se ao ler esses dois parágrafos anteriores você não vislumbrou como possibilidades pelo menos umas três produções originais, criativas e inéditas, sem apelar para a figura infantojuvenil do Saci do Monteiro Lobato, então você não deveria se autoproclamar "criador" de conteúdo. "Ver" os enredos dentro do conhecimento popular é um dos principais requisitos para um bom autor. Se não sabe quem foi Monteiro Lobato, então nem deveria estar tentando fazer qualquer coisa culturalmente significativa.

Não existe cultura brasileira genuinamente pura pois toda cultura sofre influência dos povos que vieram viver aqui neste pedaço de chão e que são absorvidas, incorporadas e depois transformadas em algo aceito pelos locais. A cultura vai se moldando pelo gosto das pessoas e pela forma como ela é disseminada. Isto não implica em dizer que é proibido não gostar de certos temas e o saci pererê do Monteiro Lobato é um deles.

O que não dá pra aceitar é tentar anular uma coisa que a cultura brasileira tem de mais importante que é a sua facilidade e agilidade em mesclar os elementos de outras culturas na produção de novos conceitos. A importância de usar aquilo que convencionou-se chamar de cultura brasileira não se dá por imposição nacionalista mas principalmente por conveniência comercial. Se nem isso você consegue entender, então seria melhor mudar de profissão.

Renato Degiovani é o primeiro desenvolvedor de jogos brasileiro, desde 1981. É colunista do site Drops de Jogos no espaço DEV.LOG, com textos regulares sobre sua experiência de décadas. Foi o desenvolvedor do jogo Amazônia, é conhecido na comunidade nacional do aparelho MSX, editou a revista Micro Sistemas e é responsável pelo espaço TILT Online.

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