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Onde e como procurar uma turma nos games. Por Renato Degiovani, colunista do Drops de Jogos

Para quem "nasceu" depois da internet, fica até fácil explicar o que era um BBS: Imagine uma rede mais atual só que sem web, Facebook, Google, blogs, WhatsApp, Twitter e apenas com e-mail. Ou seja, era como se toda a comunicação com as pessoas fosse feita por correspondência eletrônica – você manda a mensagem e espera um tempo (eram dias, às vezes) até a outra parte responder.

O BBS era, em síntese, o local onde você "entrava" para trocar esses pacotes de mensagens via conexão discada. Ele era invariavelmente organizado por conferências temáticas (ciência alternativa, filmes antigos, amigos do Cauby Peixoto e, claro, jogos de computador). Cada conferência tinha suas próprias regras do tipo: Só pode tratar do assunto tal, não ofender ninguém, etc.

Com a popularização da mãe de todas as redes, a internet, o que era conferência passou a ser chamado de fórum de discussão, guardando as mesmas características anteriores, como assunto definido, regras próprias, entre outras regras. Tempos depois o nome mudou para grupos de discussão e finalmente apenas grupos. Eles são, por exemplo, um dos três elementos básicos do Facebook hoje.

Portanto, caro leitor e amigo, já no final dos anos 80 existia esse lance de tentar encontrar pessoas interessadas em desenvolvimento de jogos para trocar ideias, experiências, opiniões e principalmente avaliar situações específicas de mercado. Algumas iniciativas tiveram sucesso, outras nem tanto, mas todas mantiveram algumas características em comum

Elas atraíam polêmica, discussões acaloradas e um ciclo de vida bem definido, culminando com a morte do grupo por inanição.

Pois bem, estamos entrando em 2016 e a primeira mensagem inbox que recebo: Um pretendente interessado em participar deste mundo maravilhoso da produção de jogos quer saber onde ele poderia encontrar outras pessoas com igual interesse para conversar.

Existem inúmeros grupos que pretendem abordar a produção de jogos pelo lado profissional/desenvolvimento e eu declaradamente não conheço nem 10% deles. Portanto, não tenho condições de apontar um ou outro que de fato cumpra o prometido. No entanto, eu possuo uma fórmula que me ajuda a fazer uma espécie de avaliação e saber se vale ou não a pena adquirir um título de sócio proprietário de qualquer grupo para participar dele.

Em primeiro lugar, não acredito que existam mais do que umas 30 ou 40 pessoas (se tanto) no Brasil que pensam, criam, produzem e estão dispostas a perder um pouco de seu tempo para debater ideias referentes ao universo da produção de jogos. Existem dezenas de milhares interessadas em aprender e/ou participar, mas pessoas de fato querendo explorar o potencial do debate pelo aprendizado são poucas. A grande maioria dos interessados já tem opinião formada sobre todos os aspectos de uma produção, tendo ou não experiência sobre o assunto, e os debates são geralmente confrontos de certezas.

Em segundo lugar, a dinâmica do grupo já diz muito sobre ele. Num grupo que pertence realmente aos produtores, não existe essa coisa de certo ou errado, bom ou ruim. Jogo é jogo e fim de papo. O objetivo é entender o que acontece, aconteceu ou vai acontecer no contexto de cada produção. Não há nos debates uma busca pelas certezas ou verdades, mas uma tentativa de aprendizado geral. Senão vira perda de tempo ficar debatendo o sexo dos anjos.

Em terceiro lugar, a condução do dia a dia define claramente a longevidade do grupo. Ou seja, tanto aqueles moderados com mão de ferro quanto aqueles sem moderação alguma tendem a morrer mais cedo. O falecimento vai levar junto para o túmulo tudo aquilo que se produziu de bom em termos de debate.

Se você está procurando uma turma pra chamar de sua, talvez fosse mais interessante ponderar bem antes que tipo de grupo você quer realmente integrar. Não há receita de bolo para formar a comunidade gamer dos sonhos.

Renato Degiovani é o primeiro desenvolvedor de jogos brasileiro, desde 1981. É colunista do site Drops de Jogos no espaço DEV.LOG, com textos regulares sobre sua experiência de décadas. Foi o desenvolvedor do jogo Amazônia, é conhecido na comunidade nacional do aparelho MSX, editou a revista Micro Sistemas e é responsável pelo espaço TILT Online.

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