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Opinião – Precisamos falar sobre Hideo Kojima e crunch. Por Pedro Zambarda

Texto postado originalmente no PopGeeks em 4 de agosto

Faltam menos de 100 dias para o lançamento de Death Stranding, o primeiro jogo do desenvolvedor japonês Hideo Kojima fora da Konami, com estúdio próprio e parceria com a Sony.

No dia 31 de julho, Kojima postou o seguinte no Twitter:

DEATH STRANDING tem elementos de algo que nunca existiu antes, incluindo a jogabilidade, a atmosfera de mundo, os visuais que pretendemos criar. O estúdio que eu criei era minúsculo e indie, mas tentando entregar o melhor produto no lançamento em 8 de novembro. Estamos no crunch do desenvolvimento.

Crunch é a expressão em inglês para a rotina de desenvolvedores que extrapolam o horário do trabalho passando por assédio moral e condições degradantes de trabalho. É a maratona de desenvolvimento que não é saudável. Esse foi assunto no desenvolvimento de Red Dead Redemption 2, do desenvolvimento de Anthem e do fechamento da Telltale, empresa responsável por Walking Dead.

Em comum, nesses casos, os devs denunciaram suas empresas e reportagens jornalísticas pontuaram os abusos. Kojima, então, disse explicitamente que seus empregados estão correndo para finalizar o projeto no caso. O assunto foi tema envergonhado da E3 2019, maior feira de games do mundo, cujos empresários prometeram melhorar a situação.

O tuíte de Kojima, portanto, não é uma boa notícia.

Em 2015, a Nikkei denunciou que funcionários da Konami eram filmados e não tinham acesso à internet no desenvolvimento de jogos. Na época, Hideo Kojima deixou a Konami após problemas no desenvolvimento de Metal Gear Solid V.

A mídia em peso deu apoio para Kojima. Mas ele também era conhecido por ser perfeccionista no desenvolvimento dos games da série Metal Gear. A impressão que temos é que Death Stranding ainda reflete seu ego do tempo de Konami.

E os desenvolvedores precisam de uma atenção maior. Não adianta o mercado de videogames se tornar gigantesco maltratando os trabalhadores de sua base.

Crunch é um assunto incômodo para os poderosos da indústria de jogos, bem como a diferença de salários entre eles e os desenvolvedores de suas produções.

Mas é um assunto que precisa ser abordado e cutucado pela imprensa – que muitas vezes contribuiu para a mitificação de alguns nomes e não de outros nessa cena.

Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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