O lançamento do jogo abalou as estruturas da moçada.
Por todo o vozerio nas redes sociais, não faltou gente para dizer que já está de saco cheio da modinha, e não sem razão. Mas peço aqui que prestemos atenção a um caso particular na Guatemala, que não pertence ao terreno carnavalesco: O do jovem que foi morto ao sair para caçar Pokémons durante a noite, aparentemente sem motivo. Na companhia do primo, ele andava ao lado de uma ferrovia quando um atirador desconhecido o alvejou. Não se sabe se o jogo esteve envolvido de alguma forma no incidente, mas foi no mínimo a motivação para quem o garoto deixasse a casa.
Não foi a única experiência traumática relacionada ao game, e nem a primeira. O acúmulo delas, no entanto, começa a trazer para a superfície uma discussão que os pioneiros da realidade aumentada já conhecem há um bom tempo. Ela versa sobre a relação das pessoas com o espaço ao redor delas.
Assim como o surgimento da TV nos fez mudar a distribuição de móveis na sala de estar, a realidade aumentada desafia as noções de espaço público quando toma a cidade como tela. A provocação é inevitável: Quando os símbolos e dados conseguem se libertar de suas âncoras de silício e andar pelo nosso plano físico, será possível que continuemos a enxergar as ruas e parques como espaços inertes? Não serão palcos a serem ocupados, livros de colorir feitos de grama e concreto?
Evidente que a tecnologia para que cheguemos a este ponto está em estágio experimental e, portanto, longe do alcance do público, mas Pokémon GO é um excelente laboratório para os estranhos comportamentos que nossos filhos e netos acharão normais. O experimento foi tão bem sucedido que provocou até reações políticas por onde passou: Enquanto nos EUA um deputado já começou a falar em leis específicas para a apropriação do espaço virtual de Nova York, na Bosnia uma ONG redobrou os apelos pela limpeza dos campos minados que restam no país, decorrentes da guerra que devastou a região nos anos 90.
Estes dois retratos são, no fundo, ramificações do mesmo conflito. Diferente do espaço digital da Internet, que se transforma ao gosto do freguês, a realidade aumentada traz consigo uma dureza que nos obriga a repensar a forma como nos relacionamos com o espaço. Se cada faixa de pedestre nos leva a uma nova experiência, os carros deixam de ser mera solução de transporte para virarem ameaças letais no processo de aprendizado.
A própria lógica do tráfego ficará na berlinda à medida em que mais gente adotar esse meio de comunicação. O mesmo pode ser imaginado para as pilhas de lixo não recolhidas ou as regiões em que a segurança pública é ruim – se a cidade retoma seu papel como espaço da relações humanas, não podemos mais ignorar seus problemas e desafios.
Levando esse raciocínio ao limite, a realidade aumentada revela um potencial para que repensemos o espaço público – terá sido a morte de Jerson Lopez de Leon culpa de Pokémon GO ou de toda a sociedade, que descuidou de sua segurança? A menina atropelada nos EUA o foi apenas por descuido, ou serão nossas cidades dedicadas demais à liberdade dos carros?
Como podemos mudar isso?
Esses e outro dilemas deixarão em breve o clubinho dos urbanistas e cairão como bombas nos papos de boteco, à medida em que a RA se popularizar. Junto com eles, surgirão mais e mais comportamentos esquisitos, dignos de qualquer boa ficção cyberpunk.
Se você está achando estranho o que acontece agora com Pokémon GO, é melhor ir se preparando para mais coisas.
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