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Encontrei a vibração de um mundo surgindo no EXPO BRVR. Por Renato Bazan, colunista do Drops de Jogos

O evento sediado em São Paulo reuniu desenvolvedores de plataformas e conteúdos VR de todo o país para debates e trocas de experiência, abundando uma riqueza de conteúdo que poderia rivalizar com qualquer evento internacional.

Em meio às centenas de participantes que se amontaram no auditório, diferentes caminhos para a exploração dessas plataformas pipocaram: Estúdios cinematográficos ofereceram vídeos 360 e animações imersivas, estúdios de jogos mostraram as versões mais recentes de seus produtos, consultores e grupos de pesquisa firmaram novas alianças, enquanto professores discutiram possíveis usos de ferramentas em estágio de protótipo. Aqui e ali, um projeto secreto era cochichado, abafado pelo som dos palestrantes. De vez em quando, algum estabanado trombava com as mesas do estandes enquanto vestia óculos de VR. 

A melhor parte desse agito foi empolgação dos visitantes em torno das possibilidades dos aparelhos. Em essência, o BRVR, e cada evento semelhante, vibra com o otimismo de um mundo que ainda não chegou – um tipo de ansiedade-do-criador com que só se depara quem toma pra si o trabalho de parir o futuro. “Ninguém fez. Somos os primeiros, e isso é incrível!”, repetia Tiago Moraes, da OvniStudios, enquanto conversávamos. Sim, Tiago, ninguém fez – cada linha de código sua é um passo no desconhecido.

Me lembrei imediatamente de uma conversa que tive certa vez com Mark Billinghurst, o pai da Realidade Aumentada: “É impossível não considerar o trabalho do Brasil no desenvolvimento dessas experiências pioneiras. Vocês têm uma facilidade de incorporar tendências que eu muito admiro”. Ele havia saído de seu laboratório HITLab, na Nova Zelândia, para participar de um simpósio brasileiro sobre Realidade Mista em Uberlândia, no interior de Minas Gerais. Contou que não era a primeira vez que fazia isso.

Não foi um elogio gratuito. Já em 1998, enquanto o mundo ignorava a existência desse campo de pesquisa, o Brasil sediou seu primeiro encontro científico internacional sobre o tema. Em 2016, fizemos o 18º. Foi no Brasil que surgiu Ana Ribeiro e seu Pixel Ripped, um dos primeiros jogos feitos dentro do paradigma da realidade virtual, e daqui saiu Alex Kipman, criador do Kinect e do HoloLens. Muitos anos antes, o professor universitário Claudio Kirner já se dedicava à experimentação da realidade aumentada para fins educacionais, interferindo inclusive na produção científica internacional.

Evidente que as limitações estruturais de um país como o nosso acabam nos tirando o protagonismo a que aspiramos. Na terra onde cientistas e inventores sempre se viram duplamente abandonados, seja pelo poder público corrupto, seja pelo empresariado caipira, somos forçados a assistir passivos aos investimentos bilionários de nossos rivais. Nesse sentido, o organizador e curador do BRVR, Fabio Hofnik, está coberto de razão ao lembrar que o país tropeça na falta de investimentos e na ausência de promoção de políticas públicas de fomento. "Onde tem mais dinheiro, tem mais desenvolvimento”, ele bem coloca. Não precisa ser gênio para entender isso.

É justamente diante dessas circunstâncias que a riqueza experimental deste sábado deve ser comemorada. Não há crise que demova quem escreve o próprio futuro. Este é o momento ideal para o pioneirismo nesta área. Não devemos desperdiçá-lo.

Renato Bazan é pesquisador da área de realidade virtual e aumentada aplicadas ao jornalismo, com artigos científicos publicados dentro e fora do país. Ele é membro do conselho consultivo do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), fundador do Grupo de Trabalho sobre Games, Realidade Mista, Internet das Coisas e Plataformas Pioneiras (GARMIC) e trabalha como editor audiovisual e produtor executivo na Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Possui experiência no jornalismo de tecnologia e games. Já atuou como chefe de reportagem na Revista Raça Brasil e repórter do TechTudo, da Globo.com.

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