Tecnologia

Geração Beta: os primeiros nativos da inteligência artificial. Por Lia Sérgia Marcondes

Por Lia Sérgia Marcondes, de Portugal, para o Drops de Jogos.

Inteligência artificial, algoritmos, redes sociais, hipervigilância e educação tecnológica são alguns dos fatores que marcarão a infância dessa nova geração. Especialistas já começaram a avaliar os possíveis impactos.

Em 2025, começaram a nascer as crianças da Geração Beta, a primeira a vivenciar uma infância profundamente imersa na cultura das Inteligências Artificiais (IA), que estão se expandindo para todas as áreas da vida. Não há muitas certezas sobre como efetivamente será a vida desta nova geração, mas sabemos que são os últimos a ter pais que ainda foram crianças sem celular.

O termo, “Geração Beta”, criado pelo pesquisador australiano Mark McCrindle, define as crianças nascidas de 2025 a 2039, imersas em tecnologia e automação. São os filhos dos Millennials e da Geração Z, que crescerão com pais cuja infância ainda foi bem menos tecnológica, se comparada com a Alfa. Em um mundo hiperconectado, os algoritmos “comandam” as experiências online, moldando até mesmo o aprendizado e as interações sociais. Quais serão as repercussões emocionais e sociais a longo prazo desta nova realidade?

Com a popularização dos smartphones em diferentes camadas sociais, a tecnologia avançada tornou-se acessível a grande parte da população, especialmente com os avanços das IAs. Os estudiosos de todo o mundo avaliam e repercutem o futuro da humanidade, diante deste novo cenário tecnológico.

Os cientistas da Universidade de Manchester, no Reino Unido, realizaram um estudo de dois anos sobre os hábitos digitais de famílias de diversas origens. O relatório Toddlers, Tech and Talk (2024) mostrou que, naquele país, 41% das crianças de 0 a 3 anos têm acesso a tablets, e 12% usam smartphones regularmente. Um cenário que levantou questionamentos sobre o impacto dessas ferramentas no desenvolvimento cognitivo e linguístico das novas gerações, além de reflexões sobre possíveis benefícios e consequências a longo prazo dessa exposição tão precoce.

No relatório, os estudiosos apontaram que os fatores culturais, socioeconômicos e educacionais influenciam a forma como cada família incorpora a tecnologia em seu cotidiano, e destacaram benefícios, desafios e desigualdades no acesso à tecnologia. Um aspecto interessante revelado no estudo, é que a tecnologia pode ser amplamente utilizada em brincadeiras, educação e convivência familiar. Muitos pais fizeram avaliações positivas sobre o potencial educacional do uso das novas tecnologias.

Neste sentido, a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, dedicou o Dia Internacional da Educação 2025 ao uso da IA na Educação. Azoulay pediu aos Estados-membros da instituição que invistam na formação de professores e estudantes sobre o uso responsável dessa tecnologia no campo da educação. Segundo ela, “A IA oferece grandes oportunidades para a educação, desde que sua implementação nas escolas seja orientada por princípios éticos claros. Para atingir todo o seu potencial, essa tecnologia deve complementar as dimensões humanas e sociais da aprendizagem, em vez de substituí-las. Ela deve se tornar uma ferramenta a serviço de professores e estudantes, tendo como principal objetivo sua autonomia e seu bem-estar.

Embora a IA traga avanços para a educação, o uso excessivo da tecnologia preocupa especialistas. Nesse contexto, a proibição de celulares nas escolas brasileiras reacendeu o debate sobre os impactos da hiperconectividade no desenvolvimento infantil.

NO MUNDO DAS IAs, MAS SEM CELULARES NAS ESCOLAS

A arrancada do ano letivo 2025, com a proibição do uso de celulares nas escolas brasileiras, acirrou o debate na comunidade educacional sobre os aspectos positivos e negativos de uma vida hiperconectada. 

Em um artigo da psicóloga Dayana Garcia, orientadora educacional no Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília, ela avaliou que “o uso excessivo de celulares, especialmente das redes sociais, está associado a níveis mais altos de ansiedade e estresse entre os jovens. A necessidade constante de verificar notificações, responder mensagens ou acompanhar as atualizações dos amigos pode criar uma pressão psicológica desnecessária.

Ainda segundo ela, a proibição do uso de celulares na escola estimula interações sociais, desenvolvendo habilidades de comunicação e empatia essenciais para a vida adulta. Além disso, sem as telas, os alunos têm mais oportunidades para atividades criativas e introspectivas, como leitura, esportes e reflexão, favorecendo o autoconhecimento e a capacidade de lidar com o tédio.

Em entrevista para o jornal português Expresso, a psicóloga Margarida Gaspar de Matos, especializada no comportamento de crianças e adolescentes, diz que há um grande desafio para os Beta: “Conseguir usar a tecnologia e as suas enormes virtudes e vantagens sem se deixarem destruir e manipular por ela.” De acordo com a psicóloga, para os nativos digitais, gerações Z e Alfa, o risco mantém-se: “A manipulação proveniente do desenvolvimento tecnológico e da sua utilização para efeitos económicos e de gestão do poder é exponencial e pode bem ultrapassar a literacia digital destas gerações”.

IA COMO ALIADA NA EDUCAÇÃO

Em conversa com Danilo Parise, professor na ESPM e CEO da Ludos Pro (empresa que atua na área de treinamento e educação através da “gamificação” da aprendizagem),  ele destacou que a geração Beta poderá ter mais dificuldade em lidar com erros, diante de um cenário onde a tecnologia oferece soluções instantâneas, reduzindo a frustração natural do aprendizado. No entanto, Parise acredita que este “não é um destino inevitável”, pois ainda não há respostas definitivas sobre como tudo se consolidará.

Parise acredita que “a IA poderá contribuir para melhorar as nossas relações como uma facilitadora da experiência humana”. Segundo ele, “podemos utilizar IA em narrativas interativas que coloquem crianças e adolescentes no lugar do outro, como chatbots que simulam diálogos empáticos, permitindo uma vivência imersiva de diferentes realidades. Outro uso seria com ferramentas de tutoria digital baseadas em IA ajudando a ensinar crianças a buscar soluções por conta própria, sem depender exclusivamente de respostas prontas. Precisamos desde o início ensinar que as respostas de uma IA nunca são neutras, e será nosso trabalho avaliar, questionar e corrigir sempre que necessário.”

As IAs já começaram a se fazer presentes no ambiente escolar, auxiliando professores a potencializar o aprendizado dos alunos, por meio de ferramentas que possibilitam coletar e organizar dados para analisar, por exemplo, a leitura de um estudante, oferecendo feedbacks personalizados sobre pontos que precisam ser melhorados. Um exemplo é o acelerador de aprendizagem desenvolvido pela Microsoft, que utiliza IA para aprimorar o desempenho educacional. De acordo com Vera Cabral, Diretora de Educação na Microsoft, estas plataformas “podem ser utilizadas em qualquer etapa de ensino, seja para crianças pequenas ou para adultos.“.

Há estudos que apontam que as IAs podem ser usadas com sucesso para o reconhecimento precoce de dificuldades de aprendizado em crianças. Ao identificar os primeiros sinais de dificuldades de aprendizado, é possível evitar um agravamento dos problemas e fornecer suporte personalizado para cada aluno.

NÃO HÁ FÓRMULA MÁGICA

De acordo com o professor Danilo Parise, o processo de integrar as novas tecnologias na aprendizagem, e de entender como não deixar que isso afete de forma negativa as futuras gerações, é um caminho que ainda está sendo trilhado: “Acredito ser fundamental que o ambiente offline não seja negligenciado. Atividades ao ar livre, interações humanas e momentos de tédio sem estímulos digitais são indispensáveis para o desenvolvimento emocional e cognitivo. Também devemos estimulá-los a “questionar” e fazer perguntas, isso irá criar um senso crítico da vida ao invés de aceitar tudo de forma passiva.

Inteligência Artificial. Foto: istock/Montagem Pedro Zambarda/Drops de Jogos

Lia Sérgia Marcondes

Mulher, mãe, cozinheira e jornalista, não necessariamente nessa mesma ordem. De esquerda até o último fio de cabelo. Vamos conversar sobre maternidade, cultura pop, arte, tecnologia, não necessariamente nessa mesma ordem. Afinal, no fim do dia tudo é política.

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