Imagem: Gagadget
Olha só: a IA da Microsoft criou uma demo “jogável” de um jogo de tiro em primeira-pessoa “inspirado” em Quake 2. E, para variar, o resultado é muito pior não apenas do que o original mas também de qualquer clone feito por um estudante.
A demo “jogável” foi criada pela Muse, uma nova IA da Microsoft desenvolvida para criar ideias de gameplay. Quando foi anunciada em fevereiro, a IA foi usada para criar vídeos de gameplay baseados no jogo Bleeding Edge. Esta demo de um jogo inspirado em Quake 2 é o primeiro exemplo “jogável” do que é possível fazer com esta IA.
Mas eu tenho usado “jogável” entre aspas o tempo todo por um motivo: tecnicamente, é uma demo jogável. Mas na realidade ela roda com tanto lag que o resultado final é praticamente injogável para um humano.
Claro, a Muse conseguiu criar um ambiente de jogo que parece com Quake 2. Mas a IA da Microsoft ainda precisa comer muito feijão pra entregar algo que nos lembre o jogo da id Software além da mais superficial aparência.
O tal “grande diferencial” desta demo é o fato de todo o jogo ser gerado instantaneamente pela IA. Isso quer dizer que nada ali é fixo, e tudo é gerado momento a momento de acordo com os movimentos do jogador.
Exemplos de vídeos de gameplay criados pela Muse (Imagem: divulgação/Microsoft)
Só que esta geração via IA tem um tempo de contexto de 0,9 segundos (o equivalente a 9 quadros numa taxa de 10 fps). Isso quer dizer que, se você olhar para o teto ou para o chão, a hora que retornar sua visão para a frente o cenário terá mudado.
No pouco tempo que eu testei a demo, eu “joguei” sem dar um único tiro. Por causa do alto lag entre o apertar um botão e a ação acontecer na tela, mirar nos inimigos é uma tarefa ingrata. Então eu percebi que era muito mais fácil apenas olhar o máximo pra qualquer lado (cima, baixo, esquerda ou direita); ao voltar na posição “central” da visão, o inimigo tinha sumido.
Ter um tempo de contexto de 0,9 segundos significa que a IA só consegue manter uma “memória” daquilo que foi gerado por 0,9 segundos. Se você toma uma ação que demora mais que isso (como olhar para o teto e voltar), ela “esquece” aquilo que tinha gerado antes e cria todo um novo contexto.
Isso funciona para tudo: inimigos viram corredores vazios, portas abertas viram paredes, paredes viram inimigos atirando na sua cabeça. Você nunca sabe o que está te esperando ao olhar para cima e voltar a olhar para baixo.
Tempo de contexto do jogo funcionando na prática (GIF criado por Rafael Silva/Drops de Jogos)
E este é o meu maior problema com essas “soluções milagrosas” de IA no sentido de usabilidade: o marketing necessita tanto que elas estejam mais avançadas do que realmente estão, e aí as empresas se sentem obrigadas a soltar no mercado essas demonstrações que são incríveis num contexto extremamente técnico, mas que oferecem para o usuário uma versão pior de algo que ele já conhece.
E aí toda a história de IA vira meio que um “menino e o lobo”: as empresas gritam tanto que vão mudar o mundo enquanto mostram as coisas mais toscas e não funcionais possíveis, que uma hora ninguém mais vai dar bola pra elas.
Se você quiser passar raiva com essa demo injogável de um clone porco de Quake 2 feito pela IA da Microsoft, é possível fazer isso direto do browser.
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