Uma nova reportagem do The Wall Street Journal mostra dados daquilo que todo mundo já imaginava: que a “popularização” da IA está afetando diretamente as receitas do jornalismo.
O grande diferencial da reportagem é mostrar dados daquilo que muitos especialistas do ramo da comunicação já imaginavam: o uso de IAs para pesquisa iria afetar diretamente as receitas dos sites que produzem as notícias e artigos que respondem às dúvidas do público.
Apenas no New York Times, de 2024 para 2025 o acesso ao sites por buscas orgânicas (acessos que vem de pesquisas feitas na internet) caiu de 44% em abril do ano passado para 36,5% em abril desse ano. E o gráfico abaixo mostra que isso não é exclusivo de apenas um site/jornal, mas que está atingindo as publicações online como um todo.

Volume total do tráfego vindo de pesquisas orgânicas, somando-se tanto as feitas por computadores e dispositivos mobile. Dados tirados da Similarweb. (Imagem: Drew An-Pham/WSJ)
Essa queda pronunciada no acesso orgânico é causada justamente pelos “chatbots de IA” – ferramentas como Chat GPT, Gemini, Perplexity e similares. Outro apontado como um dos grandes culpados é a IA da busca do Google, que já fornece respostas para as buscas das pessoas antes mesmo de mostrar um link clicável.
Como a IA está matando o jornalismo
Quando comparamos esses dados com os fornecidos pelo Google, que afirma que desde que implementou a IA na sua ferramenta de buscas o uso dela só tem aumentado, chegamos a uma conclusão bem clara: a IA pode até estar ajudando as pessoas a achar respostas e pesquisar mais, mas não está compensando aqueles que realmente possuem essas respostas.
Porque esse é o dilema: empresas como Google e Chat GPT estão criando negócios que se vendem como a fonte de todas as respostas, mas eles não criam nenhuma das respostas. O que essas IAs fazem (claro, quando não estão alucinando respostas falsas para suas dúvidas) é pesquisar a web por reportagens, textos jornalísticos e blogs que possuem a resposta para a sua dúvida.
Durante anos, esses lugares eram recompensados pelo seu clique. Quando você procurava “comer tomate engorda?” no Google e ele te indicava uma matéria com o título “Especialistas explicam o porquê comer tomate engorda” e você clicava nela, o site era recompensado. Poderia ser de forma direta (como a venda de uma assinatura para acessar aquela informação, ou pela visualização de anúncios existentes na página) ou de forma indireta (sua visita entrava para as estatísticas do site, e esses números poderiam ser usados para fechar parcerias e vender publicidade), mas havia uma compensação pelo trabalho que alguém teve de conversar com um especialista e responder aquela pergunta.
Essa compensação não existe com o uso da IA. Os bots que buscam esses sites por respostas não contam como uma visualização (ou clique), e a forma que a resposta apresentada costumam oscilar entre ruins (como a IA do Google ou a Perplexity, que te mostra o link de onde tirou aquela resposta, mas que poucas pessoas clicam porque não há a necessidade de ler uma matéria inteira quando a dúvida específica já foi respondida) e péssimas (como o Chat GPT, que nem mostra de onde tirou aquela resposta).
Aí o negócio todo entra em um dilema: os chatbots de IA precisam do jornalismo e de pessoas que criam conteúdos para conseguir as respostas que seus usuários procuram, mas não apenas não estão compensando essas pessoas como estão diretamente diminuindo o tráfego orgânicos desses sites. Consequentemente, há uma diminuição de receitas que pode acabar tornando o negócio inviável e o fechamento do site.
E se os chatbots de IA roubar tanto o tráfego orgânico dos sites que eles são obrigados a fechar, de onde esses chatbots vão tirar a informação que precisam para responder às dúvidas dos usuários?
Infelizmente, não há uma resposta fácil para essa pergunta (na verdade há sim: “desligue todas as IAs”. Mas a gente sabe que essa é uma resposta que ninguém vai aceitar por questões econômicas). Mas é preciso achar logo algum tipo de compensação que essas empresas de IA podem dar para esses sites antes do jornalismo e a criação de conteúdo de vez (e, ironicamente, levar junto toda a utilidade desses chatbots).
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.