Os repórteres Lucas Monteiro, Matheus Tupina e Vinícius Barboza publicaram na Folha de S.Paulo, em 29 de outubro de 2025, enfim uma reportagem relacionando games e a extrema direita, com o título “Como youtubers gamers passaram a inflar a pauta conservadora”. A pauta é importante para enfim relacionar videogames com a política mais recente.
A política afetada por extremismo, preconceitos de gênero, cor e classe – pautas que servem para acentuar a desigualdade social e os discursos de elite, infelizmente defendidos dentro da indústria dos jogos eletrônicos.
Diz a reportagem:
A crescente disputa ideológica no ambiente digital envolve também os youtubers que produzem conteúdo sobre games. Influenciadores do universo dos jogos passaram a expor opiniões políticas, em sua maioria próximas a ideias conservadoras, como forma de aumentar a visibilidade de seus canais. Além do ambiente majoritariamente masculino e de títulos com elementos machistas e racistas, o acirramento político e a forma de organização da direita nas redes são citados por especialistas como motivos para a expansão desse tipo de comportamento nos grupos de jogadores.
Há 20 anos surgia o YouTube, plataforma de vídeos que hoje se consolidou como a maior do mundo. Sua dinâmica e sua crescente influência abriram portas para a produção de diversos materiais com formato mais flexível em relação aos padrões praticados em espaços de mídia profissional, como os comentários sobre jogos.
Henrique Sampaio, ex-integrante do Overloadr e autor do livro e podcast Primeiro Contato, é creditado como uma das fontes da reportagem:
O GamerGate é um passo importante na trajetória dos criadores de conteúdo ao levá-los, pela primeira vez, a temas políticos e sociais, especialmente à direita. Escancarou o pensamento de um grupo que via nos jogos um lugar de narrativas de vieses machistas, racistas e que pouco retratam a complexidade social.
Tudo começou com uma campanha de assédio e ataques online contra mulheres desenvolvedoras de games, que buscavam abordar em suas produções questões como saúde mental, feminismo e gênero. O movimento, insuflado por jogadores, seguiu depois contra jornalistas e críticas que apontavam a falta de diversidade e a hipersexualização das mulheres nos jogos.
A comunidade gamer passou a buscar estratégias para combater a promoção do que chamava de “politicamente correto” e proteger o que, no ideário dela, seria a real identidade de um jogador.
Sampaio entende que, diante da série de reivindicações de minorias sociais, o grupo, composto majoritariamente por homens brancos, que não se identifica necessariamente com causas sociais, percebia nos movimentos uma desconfiguração de seu ambiente de pertencimento, o que deu impulso aos ataques a personalidades consideradas progressistas nos jogos.
Aborda também o YouTuber Engenheiro Leo, do MBL, e o fundador do Grupo Flow, do Flow Podcast, Monark:
Ele e Bruno Aiub, o Monark, são dois dos expoentes de youtubers gamers que passaram a fazer comentários políticos, ganhando projeção para além da bolha dos jogos. Monark, antes de causar polêmica ao defender, em 2022, no Flow Podcast, o direito de existência de um partido nazista, foi um dos principais jogadores de “Minecraft” (2009) da plataforma. Procurado pela reportagem, ele afirmou, via advogado, que preferia não dar entrevista.
O youtuber também já causou debate ao perguntar no X (antigo Twitter): “ter uma opinião racista é crime?” Em uma entrevista com o humorista Antonio Tabet, Monark comparou homofobia a gostar de refrigerante. Quando Tabet falou sobre pessoas que dizem “eu acho que gay tem que apanhar na avenida Paulista”, o youtuber comentou: “E o cara que fala ‘amo refrigerante, nossa, com açúcar então, quero beber refrigerante, acho que todo mundo devia beber refrigerante’. Vai causar mortes se as pessoas beberem mais refrigerante ao longo da vida? Vai”, disse.
Meteoro Brasil abordou essa pauta em um mini-documentário
Com roteiro deste que vos escreve, Pedro Zambarda, e apresentação de Ana Lesnovski, o canal Meteoro, com quase dois milhões de inscritos e o maior de hardnews no YouTube, abordou muitos dos pontos da reportagem da Folha, além de pesquisas de acadêmicos como Isabela Kalil e estrategistas como Flávia Gasi.
Vale conferir o programa Telescópio do Meteoro de 24 de abril de 2025.

Folha de S.Paulo e Meteoro Brasil. Foto: Divulgação/YouTube
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