Ouvi estes e pelo menos outros 10 argumentos contra o trabalho da dona do canal de YouTube Feminist Frequency. Ela comete erros de análise? Ela deveria jogar e terminar Red Dead Redemption antes de chamá-lo de misógino? Ela é contundente em suas análises?
Sim. Sim. E sim.
Mas sou capaz de enumerar erros, equívocos e fontes suspeitas que consultei na minha própria carreira jornalística, em pelo menos cinco anos de trabalho. Sou capaz de detectar falhas em trabalhos de colegas, seja em texto, áudio ou vídeo. Por que Anita não pode cometer os mesmos equívocos?
Será que é por que ela fala de feminismo? Ou por que ela é mulher?
Ela não pode errar?
E o problema sistemático que ela detecta na maioria dos jogos eletrônicos? Um machismo que impede a existência de mais protagonismo feminino? Uma repressão que sexualiza as mulheres e transforma elas em objetos dentro dos games? Todas essas questões que Anita Sarkeesian levanta não são relevantes?
A revista TIME retrata Anita como uma "advogada do feminismo gamer".
A controvérsia do GamerGate ganhou corpo em agosto de 2014, com a difamação de Zoe Quinn e as acusações infundadas de relações dela com jornalistas de games para obter reviews positivos de seus jogos.
Feministas e inúmeras figuras públicas defenderam Quinn, incluindo Anita Sarkeesian. A vlogueira foi vítima de ameaças de morte, divulgação de dados privados e campanhas de difamação via o próprio YouTube.
Eu mesmo recebi comentários, que depois foram censurados, de um brasileiro que persegue Anita pela internet. Com isso tudo dado, o que significa a indicação dela na lista dos 100 mais influentes do mundo da TIME?
Significa uma derrota do machismo – e dos GamerGaters por consequência.
Anita Sarkeesian não é apenas uma feminista, tampouco o Feminist Frequency é apenas um programa sobre o tema. Ela é o sintoma da importância do feminismo em pauta no universo dos videogames. Ela consegue concentrar a pauta e reunir tanto simpatizantes quanto quem odeia o tema, e odeia ela consequentemente.
A TIME reconheceu o contexto em que ela está inserida, puxando uma discussão maior do que uma crítica específica a cada um dos jogos que Anita Sarkeesian faz em vídeo.
É o retrato de uma cultura machista dentro do seio nerd que está mudando, mesmo que seja lentamente.
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