Para Roberts, isso se mescla ao que ele chama de “realismo espectral”, um interesse aguçado pelos aspectos do horror que se situam além da lógica estruturada da racionalidade humana. Nesse sentido, sua obra trata de substâncias extra-humanas, ou materialidades, cujo comportamento ultrapassa esses limiares. No vídeo, vemos três entidades espectrais, não exatamente fantasmas, que escolhem se manifestar em uma lanchonete, localizada em uma fronteira tão violenta quanto cotidiana. Um ponto de encontro conveniente, com cheiro de hambúrguer, onde famílias divididas, trabalhadores transfronteiriços e estudantes se reúnem. A aparência flutuante desses espectros evidencia sua ingovernabilidade, sua agência entrelaçada: eles assombram e são assombrados. Uma das entidades encarna uma escuridão profunda, pairando e se movendo, indo e vindo, tornando-se uma fronteira visual clara entre o conhecido e o desconhecido. Outra é feita de borracha, matéria-prima de brinquedos, uma parente distante do plástico e do petróleo, elástica e resiliente, estranhamente maleável e de natureza descartável. A última personifica aquela luz vermelha familiar e, ainda assim, alarmante, tão comum em propagandas quanto nos indícios claros de que um derramamento de sangue se aproxima, como representado nos filmes de terror contemporâneos. A expografia feita para o vídeo replica o mobiliário fixo e utilitário das franquias de fast-food, mas também evoca arranjos carcerários, lembrando-nos daquela outra violência presente em zonas fronteiriças. Seus cantos arredondados também dialogam com as sessões espíritas da modernidade, onde os mortos são contactados e mediados, conjurando também os fantasmas do passado minimalista da arte.

Gaby Cepeda

Traduzido do inglês por Sylvia Monasterios

Andrew Roberts (Tijuana, 1995. Vive na Cidade do México) desenvolve uma prática que atravessa o gameplay, o roleplay e a criação de mundos, elaborando narrativas multiplataforma que se materializam por meio de animações digitais, objetos e poesia. Seu trabalho já foi apresentado em instituições como o Museo Jumex (Cidade do México), o Whitney Museum of American Art (Nova York) e o Museum of Contemporary Art San Diego. Atualmente, trabalha em duas exposições individuais que serão inauguradas simultaneamente em museus no México e nos Estados Unidos.