O Controle é Meu” questiona a objetificação das mulheres que são gamers dentro do setor de jogos digitais brasileiro. As colaboradoras protestaram colocando controles no meio de seus seios e nos locais de seus corpos que elas mesmas decidiram. Para entender um pouco melhor a ideia da campanha, Drops de Jogos entrou em contato com a criadora do blog. Ela concordou em nos conceder uma entrevista sob anonimato. A reportagem decidiu proteger a fonte de ataques machistas, uma regra válida dentro do bom jornalismo. Confira as respostas.
O blog me parece uma grande crítica à objetificação feminina e um convite dos homens a pensar sobre comportamentos machistas que podem ser agressivos. Estou certo ou você acha que o Tumblr traz outras mensagens?
O blog foi feito mais pra se somar a outras tentativas de mostrar isso, e mostrar que cada uma de nós é livre para fazer o que quiser. Vejo muito cara, por exemplo, xingando garota cosplayer pelas roupas curtas, esquecendo que ela imita exatamente a personagem que já existe e foi criada pensando nos homens. Esses mesmos caras também reclamam das mulheres que pedem pra colocarem roupas menos curtas e mais práticas nas personagens. É isso que queremos criticar e não dá pra agradar todo mundo. A gente não tem que agradar todo mundo. O blog é pra lembrar que slut-shaming, chamar a mulher de puta, não é apenas ridículo, mas perigoso e danoso.
O blog é pra lembrar que nossos corpos não são apenas enfeite, eles são parte de seres humanos que pensam, sentem, sonham e criam. O blog é pra lembrar que nossa aparência e o que a gente faz com ela não tem nada a ver com nossas habilidades para jogar videogame ou de qualquer outra coisa. É pra ajudar a nos libertar dessa constante cagação de regra que a sociedade faz com todo mundo.
O que te levou a criar este Tumblr? Você passou por alguma experiência que te fez ter essa ideia?
Foi uma ideia em conjunto, quando alguém postou em um grupo fechado uma imagem que já estava rolando pelo Facebook. Era sobre uma suposta história da mulher nos games, dizendo que começou em 1995 com mulheres dizendo que era coisa de loser e que recentemente começaram a dizer que jogam porque é modinha. A reação da maioria de nós do grupo foi algo do tipo “mas eu já estava jogando há mais tempo em 1995″ e deu uma sensação de preguiça generalizada. A gente vive sendo acusada desse tipo de coisa. Começamos a conversar sobre essa acusação de que fazemos tudo de games só pra chamar atenção dos homens e as meninas começaram a postar fotos com os controles no decote pra zoar a repercussão das fotos sensuais de mulheres com games. Eu achei as fotos boas demais pra ficarem só no grupo.
Você concordou em dar este depoimento sob anonimato. Essa situação te provoca reflexões? É culpa do machismo e desta cultura de opressão feminina?
Provoca sim, com toda certeza. O único motivo que nos faz ver necessidade de anonimato é o backlash violento que várias garotas têm por ir contra o machismo nos meios geek, sofrendo ataques. Vemos gente tendo seus dados pessoais, endereço, local de trabalho, telefone, tudo sendo liberado online e os caras usando isso pra ameaçar de estupro, de espancamento e de todo tipo de coisa horrível. Sofremos só por dizer que tem pouca representação feminina nos games ou que as mulheres dos games sempre têm o mesmo formato de corpo e personalidade fracas. Eu não estou num momento bom da vida pra ficar lidando com isso e ainda assim não quis ficar calada. E muitas das meninas do grupo têm vergonha, ou também medo, embora tenham algo a dizer.
Eles podem tentar causar medo, mas não vão nos calar.
No Tumblr vocês estão mantendo a identidade das meninas em segurança a pedido delas ou foi uma intenção desde o começo?
Foi uma intenção desde a sugestão de criar o Tumblr. Já tínhamos discutido várias vezes sobre os ataques contra as mulheres que se opõem ao machismo nos games, quadrinhos, filmes… Por isso achamos melhor dar alguma segurança pelo anonimato, mesmo que pequena.
A desenvolvedora e ilustradora Carolina Porfírio decidiu revelar sua identidade por conta própria?
A Carol fez o vídeo no Vine logo de cara, no começo da nossa brincadeira interna de zuar os caras que acham que a gente quer aparecer pra eles. Na hora de criar o blog, eu perguntei a ela se poderia colocar o Vine. Já que não daria pra tampar o rosto dela no vídeo e garantir o anonimato dela, a Carol disse que já tinha dado a cara a tapa antes em outros projetos e já tinha postado o Vine público mesmo. Então ela está ok com isso.
Via Geração Gamer
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