Filme “Ainda Estou Aqui“, dirigido por Walter Salles, narra a história de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres na juventude e Fernanda Montenegro na velhice), mãe de cinco filhos e cuja vida foi virada ao avesso após o desaparecimento de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), em 1971, durante a ditadura militar.
São personagens reais. Vamos entender o que aconteceu com cada um deles?
Depois de viúva, formou-se em direito e continuou o trabalho como ativista. Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva se formou aos 48 anos e se tornou ativista da causa indígena. Foi uma das fundadoras do Iama (Instituto de Antropologia e Meio Ambiente) e atuou na ONG de 1987 até 2001.
Tornou-se uma das principais vozes pela promulgação da Lei 9.140/95. A lei reconhece como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar.
Conseguiu o atestado de óbito de Rubens Paiva em 1996. Após 25 anos de luta, ela conseguiu que o Estado brasileiro emitisse o documento. A primeira prova objetiva de seu assassinato só foi encontrada 41 anos depois de seu desaparecimento, em novembro de 2012, com uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do DOI-Codi. Conviveu com a doença de Alzheimer por 14 anos. Ela morreu aos 86 anos, em 13 de dezembro de 2018, em São Paulo.
Ministério Público Federal chegou a denunciar cinco militares pelo crime, em 2014. As acusações foram de sequestro, cárcere privado, homicídio qualificado, fraude processual e ocultação de cadáver. O caso foi paralisado por uma liminar do Supremo Tribunal Federal.
Acusados alegaram que os crimes estão abrangidos pela Lei de Anistia, de 1979. Nenhum deles foi punido. A morte de Paiva foi apurada nas Comissões Nacional da Verdade e Estadual da Verdade do Rio.
Comissão da Verdade deu detalhes da tortura e morte. Também em 2014, a comissão revelou que o assassino foi o ex-tenente do Exército Antônio Fernando Hughes de Carvalho, oficial do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) ligado ao Cisa (Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica). O jornal O Globo também trouxe mais informações e disse que corpo de Rubens teria sido enterrado no Alto da Boa Vista. Os restos mortais foram transferidos para a Praia do Recreio e, anos depois, levados até o Iate Clube, de onde foram lançados ao mar.
O caso foi reaberto neste ano. Arquivada em 1971 com o voto decisivo do então ministro da Justiça, Afredo Buzaid, a apuração sobre a prisão, tortura, morte e desaparecimento do ex-deputado federal foi reaberta em abril deste ano pelo CNDH (Conselho Nacional de Direitos Humanos).
Marcelo Rubens Paiva tem 65 anos e é o autor do livro que deu origem ao filme. Formou-se em rádio e TV pela USP e teoria literária pela Unicamp.
Aos 20 anos, sofreu um acidente que o fez perder os movimentos do corpo. Em dezembro de 1979, ao pular em um lago durante uma festa, ele quebrou uma vértebra. É autor de “Feliz Ano Velho”. Publicado em 1982, o livro marca a sua estreia na literatura e narra a sua vida após o acidente, além de citar memórias do desaparecimento do pai. A obra foi a mais vendida no Brasil na década.
Foi roteirista de TV, incluindo quadros no Fantástico e no Zorra Total (ambos da TV Globo). Também atuou como apresentador e diretor. Marcelo Rubens Paiva escreveu peças de teatro e dirige as próprias produções desde 2009. É pai de dois filhos. Joaquim e Sebastião são frutos do relacionamento com a filósofa Silvia Feola, de 2011 a 2018.
Para Marcelo Rubens Paiva, o resgate da história de seu pai só foi possível devido à Comissão Nacional da Verdade, instaurada em 2013, no governo Dilma Rousseff, para investigar os crimes militares durante a ditadura brasileira. “Por conta da Comissão da Verdade, tive elementos para escrever o livro “Ainda Estou Aqui”, e agora temos esse filme deslumbrante”, escreveu no X/ Twitter.
É a primogênita do casal e, hoje, tem 71 anos. É professora titular na USP. Ela se formou em psicologia na mesma universidade e atua no Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia. Como professora, trabalha na USP desde 1987.
Realiza pesquisa sobre temas voltados à saúde. Dedica-se especialmente ao estudo psicossocial da desigualdade e da sexualidade. Entre os temas já pesquisados, estão a AIDS e a Covid-19.
É a segunda filha do casal, nascida 2 anos após Vera, e foi presa com a mãe durante a ditadura. Ela relembrou o episódio em entrevista ao jornal O Globo.
“Eu nunca falei da minha prisão, embora ela tenha sido noticiada pela imprensa. Com 15 anos, escrevi uma carta que saiu na Newsweek [revista americana] contando que eu tinha sido presa. A ideia era fazer uma pressão internacional para que soltassem, ao menos, a mamãe. Fiquei 24 horas presa. Me mostraram um trabalho de escola meu sobre a Tchecoslováquia e me acusaram de ser comunista. Me apalparam, bateram na minha cabeça. Uma hora, quebrei o pau com eles, comecei a falar que aquilo era ilegal, que eu era menor de idade. Me soltaram na Praça Saenz Peña”.
É educadora artística e jornalista. Formou-se pela USP em ambas as carreiras e tem como área de pesquisa a semiologia e teorias da imagem.
Matemática e empresária, é conhecida antiga de Walter Salles, diretor do filme. Aos 13 anos, Salles conheceu Nalu. Assim, visitas à casa da família eram parte do seu cotidiano na adolescência. Ana Lúcia tem hoje 67 anos.
Disse que o filme foi uma espécie de “vingança”. Em entrevista ao Jornal O Globo, Nalu afirmou que quer saber detalhes do que houve com o pai.
“Eu me senti vingada por esse filme. É uma palavra horrível, né? Uma amiga disse para eu usar outra palavra. Quer saber? Torturaram e mataram o meu pai, olha a vida que a minha mãe teve, que a gente teve. E olha como eu estou me vingando: com um filme! O mundo todo está vendo a nossa história, a história que a gente precisou esconder da vida toda, que o Brasil escondeu. Agora, eu quero saber em detalhes: o que aconteceu com o meu pai, como o mataram e o que fizeram com o corpo. Eu quero saber”, disse Ana Lúcia, em entrevista ao jornal O Globo.
Filha caçula do casal, é psicóloga e professora, e tem hoje 64 anos. Em 2012, quando Comissão da Verdade recebeu os arquivos sobre o pai dela, Maria Beatriz morava na Suíça e trabalhava na embaixada brasileira em Berna, segundo jornal O Globo. Não há informações se ela permanece atuando no mesmo local.
Ela afirma que filme tocou em “ferida aberta”. Segundo ela, o tema do desaparecimento do pai nunca foi abordado com a mãe.
Com informações do site Splash, do UOL, e da Agência Estado.
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