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Opinião: Os games brasileiros perderam o aliado Juca Ferreira com a extinção do Ministério da Cultura

Uma das tragédias que se levantou entre quinta-feira, dia 12, e sexta, 13, foi a extinção do Ministério da Cultura (MinC).

O site Geração Gamer fez um levantamento dos feitos do líder do MinC, Juca Ferreira, no segundo mandato do ex-presidente Lula em comparação com Marta Suplicy, do primeiro mandato de Dilma. Embora tenha dito que "games não são cultura", Marta aprovou o primeiro game para a Lei Rouanet. Juca, no entanto, poderia contribuir para os jogos brasileiros por encarar a produção interna mais seriamente do que a importação cultural.

Com cerca de R$ 3 bilhões de orçamento, o MinC era nanico em relação ao Ministério da Saúde, por exemplo, com R$ 80 bilhões.

Mesmo assim, Juca Ferreira conversou com o repórter que vos escreve e disse claramente que estava interessado em investir mais em videogames e animação digital. Sua atuação na área audiovisual gerou produtos comerciais de sucesso, como a franquia Tropa de Elite e outros filmes.

'O que eu devo acenar para eles é mostrar que videogames são uma economia possível para o Brasil. Considero videogames sim como parte da cultura brasileira e acredito que teremos projetos focados nesta área. Estive na China quando era ministro de Lula e pedi permissão ao governo para negociar as parcerias na área de cultura digital, cinema, animação e games. Fiquei impressionado com o plano estratégico chinês de crescimento em 10 anos. Eles atingiram todas as suas próprias metas com menos de cinco. Um dos objetivos era ser entre o terceiro e o quinto maior produtor de videogames do mundo. Os chineses também chegaram no mesmo patamar nas áreas de cinema e de animação', disse em fevereiro de 2015.

Para não ficar apenas na demagogia, Juca tomou providências quando ainda era ministro. Criou um Grupo de Trabalho focado dentro do MinC. O governo Dilma também auxiliava a cena através de financiamentos do BNDES, considerado o banco que mais ajudou os jogos brasileiros segundo uma pesquisa da UNESP feita por nosso colunista Pedro Zambon. Eventos como o BIG Festival recebe parte deste meio de investimento com dinheiro público para os games eletrônicos.

Michel Temer fechou o Ministério da Cultura e o fundiu com a pasta de Educação. Exonerou Juca Ferreira e empossou um deputado federal do DEM, chamado Mendonça Filho. Ele é um dos líderes do movimento pró-impeachment, foi vice-governador de Pernambuco na gestão Jarbas Vasconcelos entre 1999 a 2005, além de ter sido senador.

O escritor Eric Nepomuceno disse recentemente à imprensa que a extinção do Ministério da Cultura na gestão Temer não teria ocorrido apenas por contenção de gastos do governo, mas com a intenção de retaliar a classe artística que esteve contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Juca deu seu recado final.

'Hoje nos despedimos do Ministério da Cultura. Todos juntos, 
reafirmamos a centralidade da cultura no desenvolvimento do Brasil. Exaltamos a diversidade cultural brasileira, traço de nossa singularidade, marca do nosso lugar no mundo. Ao lado dos artistas e dos fazedores culturais, trabalhamos movidos pelo compromisso com a cidadania, pelo aprofundamento da democracia, na construção de um Brasil justo e generoso. Eu fui feliz e sabia'.

Na briga política e ideológica, permeada por impedimentos e golpes, os games brasileiros perdem espaço do ponto de vista da política pública. Efeitos da crise ou mais uma demonstração de descuidado do Estado quanto aos jogos digitais?

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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