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Para o criador de Tetris, games já são cultura – e a única com interação

O criador de Tetris, Alexey Pajitnov, apareceu esta semana na mídia impressa ratificando aquilo que desenvolvedores, jogadores e pesquisadores do entretenimento digital já sabem há décadas: Games são Cultura. Em entrevista concedida ao jornal espanhol El País, na edição de domingo, Pajtinov fez graça com o assunto: "Os videogames já são parte integrante da cultura, se você não gosta… aguenta", proferiu, aos risos, com o repórter Ángel Luis Sucasas Fernández.

Para Pajitnov, não há dúvidas que este formato é apenas mais um dos modelos de disseminação de cultura e arte, aproveitando os recursos tecnológicos de seu tempo, não diferente outras mídias como livros, rádio ou cinema. "Não quero falar em termos de melhor ou pior, comparando a literatura ou o cinema com os videogames. Todas as artes são esplêndidas", declarou. 

O grande diferencial dos games sobre as demais mídias, explicou o desenvolvedor, é que, para além do que oferecem os outros veículos de distribuição cultural, os games são os únicos com interação. Ainda que, de uma maneira ou de outra tecnologias mais tradicionais também proponham alguma forma de participação da audiência – fazendo coro com as afirmações de estudiosos e acadêmicos da área como Marshall McLuhan e Walter Benjamim – é nos games que a interação se torna elemento narrativo e caminho indispensável para trilhar a jornada do herói, como nos contos clássicos, agora protagonizados pelo jogador. "Os videogames têm uma vantagem imbatível: a interação", destacou o criador russo.

As afirmações do pai de Tetris reforçam o trabalho de pesquisadores que há muito tentam sensibilizar público e crítica, que encontram nos jogos digitais não mais que um passatempo. O exemplo mais notório desse pensamento retrógrado no país talvez ainda sejam as opiniões da então ministra da Cultura Marta Suplicy, em 2013, para quem, games estavam longe de ser entendidos como produção cultural: "Eu não acho que jogos digitais sejam cultura […] o que tem hoje na praça […] é entretenimento, pode desenvolver raciocínio, pode deixar a criança quieta, pode trazer lazer para o adulto, mas cultura não é!", sentenciou, desinformada e preconceituosa, durante a apresentação do programa governamental Vale Cultura. A infeliz declaração da ex-ministra pode ser ouvida na íntegra, no vídeo abaixo.

Está claro, no entanto, que, assim como outras mídias, os games passam por um momento de aprimoramento da linguagem e lenta penetração na sociedade, como recursos capazes de sintetizar qualidades e características de outras expressões culturais, para se firmar como arte e cultura contemporânea. Tem sido cada vez mais frequente a participação de projetos de games em exposições de arte, eventos culturais e produções transmidiáticas, que confirmam todo o potencial dessa produção. Da mesma forma, temos visto a utilização de elementos e estruturas convencionais dos games em projetos de game arte, que trazem reflexão e esclarecimento sobre o tema. É nesse sentido que Pajitnov, atento aos novos tempos, parece perceber a contribuição dos games para a cultura moderna. Quando perguntado se os videogames têm, terão ou já tiveram o seu próprio Dostoievski [consagrado autor de literatura russa, com obras como Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazo, entre outras], Pajitnov respondeu de pronto: “Pense em Shigeru Miyamoto [criador de Super Mario Bros e The Legend of Zelda]. Milhões de crianças o admiram como um herói. Temos que pensar se o velho Fiódor está a sua altura”. 

A criação de inúmeros museus dedicados à expressão e história dos games pelo mundo, inclusive no Brasil, e a atenção dedicada à mídia em espaços consagrados como o Museu Smithsonian, em Nova York, ressaltam a relevância dos games para a cultura de nosso tempo. Será útil para as pretensas autoridades nacionais abrir suas mentes e aceitar a presença dos games ao lado de ícones da cultura global.

 

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Kao Tokio

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