RPG, games e bordado: laboratório da USP busca novas formas de trabalhar a arte na educação - Drops de Jogos

RPG, games e bordado: laboratório da USP busca novas formas de trabalhar a arte na educação

Lab_arte, da Faculdade de Educação da USP, completou 20 anos como espaço de experimentação e oficinas que funcionam como laboratório aberto para pesquisas sobre arte e educação

Jogos teatrais na Faculdade de Educação da USP - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Jogos teatrais na Faculdade de Educação da USP - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Do Jornal da USP. Criado em 2004 na Faculdade de Educação (FE) da USP, com a proposta de ser um laboratório aberto de experimentações, o Lab_arte une arte, educação e cultura, buscando contribuir para a formação de professores. São 20 anos de atividades como laboratório didático, diretório de pesquisa em pós-graduação e atividade permanente de cultura e extensão. 

“A proposta é oferecer um espaço de sensibilização durante a formação do professor e dos pedagogos para que, a partir da experimentação com as mais variadas atividades no campo da arte e da cultura, possam compreender e pensar em novas formas de abordar a arte nos diferentes espaços escolares”, diz Rogério de Almeida, professor da FE e coordenador do Lab_arte. 

Fotografia, contação de histórias, jogos de tabuleiro, RPG (Role-Playing Game, jogo de narrativas), cineclube e bordado livre são algumas das ações promovidas que oferecem material de estudo e experimentação da pesquisa à extensão universitária. A ideia surgiu de um grupo informal de alunas de Pedagogia que buscava alternativas para atividades de educação física e arte, lideradas pelo professor Marcos Ferreira Santos, da FE.

“O Lab é esse ponto de convergência, ao mesmo tempo uma possibilidade de experimentação para os alunos e um espaço de estágio curricular da graduação, ou ainda de experimentação, aplicação e reflexão de pesquisa de pós-graduação”, destaca Sabrina da Paixão, professora da FE e vice-coordenadora do Lab_arte. Ela, que também é da Comissão de Cultura e Extensão (CCEx) da unidade, ressalta: “No coração e no cerne do Lab_arte também está colocada essa dimensão da cultura e da extensão, de abertura e recepção da Universidade para pessoas de fora da USP e alunos de outros departamentos e outras faculdades, sobretudo daqueles que fazem licenciatura”.

Atualmente, o Lab_arte conta com 15 oficinas, que abrangem fotografia, narração de histórias, coral, bordado, videogame, RPG e jogos de mesa, cineclube, jogos teatrais, dança circular, brincadeiras e núcleo de estudos em cultura popular. As atividades são flutuantes, isto é, o oferecimento – horário, local, tempo de duração e início – ao longo dos semestres varia de acordo com a disponibilidade e a proposição por parte dos monitores do laboratório.

Essas atividades realizadas no laboratório são divulgadas no site e nas redes sociais no início de cada semestre, normalmente em março e agosto. A maioria delas acontece no próprio espaço do laboratório, na sala 130, no Bloco B da FE, no campus da USP no Butantã, mas há também atividades exclusivamente on-line. As oficinas são abertas e interessados da comunidade interna e externa à USP podem participar.

Jogos teatrais na Faculdade de Educação da USP - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Jogos teatrais na Faculdade de Educação da USP – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Jogos teatrais e cineclube

Dublagem e jogos das palavras são alguns dos jogos trazidos na oficina de Jogos Teatrais, do Lab_arte realizada no segundo semestre de 2024. Proposta e organizada pela estudante Sophía Salví, do 4º semestre do curso de Pedagogia, a oficina começa com atividades de aquecimento, como jogos de memorização e números. Na dinâmica Coisa boa, coisa ruim, por exemplo, cada participante compartilha um acontecimento ruim e outro bom da sua semana. “É uma forma de incentivar esse criar de relações dentro do grupo, de fazer desse espaço um lugar de brincadeira, mas que também faça as pessoas se sentirem bem”, explica. “Os jogos teatrais aqui no núcleo são trazidos como esse momento que ainda não tem o comprometimento com uma cena, uma técnica ou com o personagem, mas sim com um dos elementos da linguagem que é o jogo, desse brincar com o corpo.”

Já o Cineclube Café é uma oficina realizada no Lab_arte que reúne pessoas para conversas inspiradas em filmes sobre os mais variados temas e estilos. “Aqui, o cinema e suas narrativas nos levam a refletir sobre temas que colaboram para a construção de visibilidades e despertam o olhar sensível, a estética e a poética, de modo que ampliem a nossa compreensão e pertencimento do mundo”, comentam Christiane Souza, Sarah Schissato e Christiane Matos, coordenadoras do núcleo.

São realizados oito encontros durante o semestre, em que as coordenadoras recebem a turma para assistir aos filmes inteiros – em caso de curtas-metragens – ou trechos – em caso de longas-metragens, e depois há um debate.  “É um processo coletivo e experimental, que tem uma novidade a cada semestre e acaba levando todos nós a refletir e interagir profundamente com o filme e as pessoas envolvidas”, afirma Sarah. 

Outras iniciativas foram o Coral do Lab_Arte e a oficina de Narração de Histórias. “No coral, apesar de ser uma vivência artística, percebi que os exercícios vocais e o aprendizado das músicas ecoavam em outras áreas da minha vida”, conta a pesquisadora Christiane Matos. “Agora, na oficina de narração, estou aprendendo a pensar em como as histórias me impactam e podem também tocar aqueles ao meu redor.”

Uma discussão crítica sobre videogames, educação e cultura é proposta na oficina Videogame: cultura e processos educativos. “Ela mostra o universo dos jogos de maneira muito lúdica, rompendo a imagem estereotipada dos jogadores que ainda habitavam o (meu) imaginário de quem nunca jogou, e só escutou falar mal de ‘quem passa o tempo todo só jogando’ ”, explica Sarah. 

Um dos encontros do Pensarte, realizado no último mês de setembro, debateu as práticas pedagógicas antirracistas com base na aplicação da Lei nº 10.639/03 por meio de linguagens artísticas – como dança, música e teatro. Com o nome  Educação Antirracista, à luz das Artes Negrodiaspóricas a proposta foi combater o racismo estrutural e institucional em unidades escolares públicas e privadas.

Já os saraus, realizados a cada final de semestre, buscam celebrar o que tem sido desenvolvido no laboratório, com o encontro dos integrantes. “O espaço do Sarau é um microfone aberto e disponível para todos que quiserem se expressar artisticamente, das mais variadas formas, pela dança, pelo texto e pela música”, comenta Sabrina. “É um chamado aos participantes do Lab_arte e seus parceiros para ocuparem esse espaço e garantir um respiro de arte nesse fechamento de semestre”. 

O Lab_arte conta também com workshops e minicursos, mesas de conversa e lançamentos de livros. Foi realizada, por exemplo, a leitura dramática do livro As putas escrevem, de Marcela Fassy; um bate-papo sobre o livro O Palhaço Atrás do Muro, sobre arte-educação na Fundação Casa; e exibição e debate do filme Não Existe Almoço Grátis, como parte da programação da Mostra Ecofalante.

Quem faz o projeto

A equipe conta com cerca de 20 membros voluntários, que, em sua maioria, são alunos da graduação ou da pós-graduação da Faculdade de Educação. Há também aqueles que participam do grupo como pesquisadores associados ou voluntários externos que não têm um vínculo direto com a FE ou com a USP, mas desenvolvem parte de sua pesquisa associada à oficina que organizam no Lab_arte. Na página do laboratório, estão disponíveis as pesquisas feitas no Lab_arte ou relacionadas a ele, assim como os livros de acesso aberto relacionados ao projeto.

Os monitores voluntários têm autonomia de propor oficinas variadas, devido à estrutura horizontal e não hierárquica do grupo. O único incentivo feito pelos coordenadores é que os interessados em propor uma atividade participem anteriormente de uma oficina para compreender a dinâmica do grupo e as possibilidades já oferecidas.

Coordenadora do laboratório, Sabrina relembra a sua própria trajetória como um exemplo disso, desenvolvendo um projeto de pesquisa atrelado à sua atuação no Lab_arte. “O núcleo em que fui monitora era o de histórias em quadrinhos, um tema que já havia trabalhado na minha iniciação científica, e, com a experiência que tive dentro do núcleo, desenvolvi meu mestrado.”

Parcerias e acolhimento

O Lab_arte trabalha em parceria com coletivos de pesquisa e produção artística buscando a experimentação das linguagens artísticas na formação dos professores. Entre eles está o Fateliku, grupo de pesquisa sobre educação, relações étnico-raciais e religião; o trecho 2.8, que atua nas área do direito à comunicação e ao trabalho de produção de comunicação para adultos que enfrentam algum tipo de discriminação e desigualdade social; a Ocupação Martins Fontes, no Centro de São Paulo; e o Núcleo Sambaqui, que propõe uma viagem de campo com atividades e pesquisa na região de Cesário Lange, na região de Sorocaba, em São Paulo.

“Nós abraçamos essas parcerias que se propõem a levar um pouco esse formato do Lab_arte para outros territórios”, afirma Almeida.  A vice-coordenadora complementa: “Não somos um laboratório fechado em si mesmo e com pesquisas estritamente individuais, incentivamos uma pesquisa e uma construção cada vez mais coletiva em um espaço que também pode ser ocupado por outros grupos da universidade ou externos a ela”.

Para celebrar os 20 anos do projeto, a equipe do Lab_arte está organizando um livro digital com ensaios, relatos, depoimentos e materiais audiovisuais. “Esse material está em produção e estamos buscando materiais e relatos de quem passou pelo Lab_arte ao longo desses anos”, conta Sabrina. O livro será disponibilizado no final do ano no site do laboratório.

Para os próximos anos, Sabrina comenta: “Acolhimento, leveza e respiro são algumas das palavras que aparecem muitas vezes para descrever o laboratório; que possamos levar isso adiante nos próximos anos, tendo a possibilidade de nesse espaço se conectar com as pessoas, sentir-se pertencente à Universidade e acolhido por um grupo”.

Para saber mais sobre o Lab_arte e participar das oficinas, acompanhe o site e as redes sociais do laboratório.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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