Na pesquisa, Thayla estudou a eficácia da plataforma em evitar a discriminação e a disseminação de informações falsas. Para isso, a pesquisadora focou sua análise nos Estados Unidos – que é líder em número de espectadores na Twitch – e no Brasil em anos eleitorais (2016, 2018, 2020 e 2022).
O estudo revelou que, no Brasil, os ataques discriminatórios envolvem principalmente raça e cor, associadas a sexo e gênero. Já nos EUA, os maiores problemas são a desinformação político-eleitoral e a discriminação de raça e cor. Outro tema recorrente foi a covid-19, sobretudo relacionada à questão eleitoral, além das desinformações a respeito da vacina.
A discriminação e a desinformação na Twitch são propagadas tanto pelos produtores de conteúdos, em vídeos e lives, quanto nos comentários postados por usuários, nos chats. A regulação desses conteúdos pode ser feita de três formas: pela equipe de moderação da própria plataforma, pelo próprio streamer no seu canal e por moderadores (usuários selecionados no chat pelo streamer).
A pesquisa mostrou que vários fatores dificultam a regulação na Twitch. O processo de moderação favorece a criação de uma “bolha”: se o streamer e seus moderadores concordarem com uma fala racista, por exemplo, ela será mantida no chat. Além disso, a equipe de moderação da Twitch costuma focar nos vídeos, não tendo grande influência sobre a regulação interna dos canais – por exemplo, sobre os chats -, o que também prejudica a regulação.
Grandes plataformas como a Twitch têm o poder de amplificar discursos, de acordo com Thayla. Isso pôde ser observado nos ataques em Brasília, no dia 8 de janeiro deste ano, e no ataque ao Capitólio, nos EUA. Ambos os eventos foram transmitidos por streamers na Twitch, o que pode ter expandido o apoio a esses acontecimentos ao dar voz aos participantes dos ataques.
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Pesquisa analisou os discursos propagados na plataforma e como é feita a moderação de falas problemáticas – Foto: Caspar Camille Rubin / Unsplash
Nos resultados de sua pesquisa, Thayla verificou, ainda, que a rede social teve seu pior desempenho nos seguintes tópicos: transparência, devido processo, apelação e competência cultural.
A transparência é proporcionada por meio de relatórios com dados da plataforma. O devido processo é todo o percurso que deve ser percorrido pela equipe até penalizar um usuário na Twitch – as penalizações não podem ser arbitrárias, mas os resultados apontam que a plataforma vem fornecendo informações insuficientes quanto ao banimento de usuários. A apelação é o poder que os internautas têm de recorrer das decisões da Twitch. Por fim, a competência cultural está relacionada ao funcionamento da plataforma – Thayla explica que “a Twitch não tem nenhuma informação sobre como a equipe de moderação funciona na prática para além dos Estados Unidos”.
Já o melhor desempenho da plataforma foi observado na questão de direitos autorais e propriedade intelectual. Esse tem sido um motivo recorrente de banimentos e suspensões temporárias.
Com os resultados, a pesquisadora conclui que, embora tenha havido avanço regulatório na Twitch quanto às discriminações e desinformações, esse avanço ainda é insuficiente. Esse é um tema complexo, pois, de acordo com Thayla, “estamos sempre em uma linha tênue entre respeitar os direitos humanos e também respeitar, enquanto direito humano, a liberdade de expressão”.
Nesse sentido, a pesquisadora entende que a regulação deve ser feita “por vários setores e para vários setores”. Se as plataformas são as únicas responsáveis por sua própria regulação, então possuem um poder excessivo. Deve haver um trabalho conjunto e um diálogo entre o poder estatal e o poder privado, no sentido de combater discriminações e desinformações nas redes sociais.
* Texto de Gabriela Ferrari Toquetti e Paulo Andrade, da Assessoria de Comunicação da FFLCH
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