É oficial: nós entramos na "Era de Merda" dos videogames - Drops de Jogos

É oficial: nós entramos na “Era de Merda” dos videogames

Movimentos recentes da EA e da Microsoft não são um ponto fora da curva, mas parte do processo que toda a indústria dos videogames segue.

(Imagem: montagem a partir de foto de DC Studio/Freepik)

O fim da semana passada foi um momento tenso para quem gosta de videogames. Entre a confirmação da venda da EA para o governo da Arábia Saudita e o anúncio de aumento absurdo do preço do Game Pass, parece que os gamers não tiveram uma única boa notícia. Mas quando colocamos essa notícia no contexto geral da indústria, uma coisa fica clara: depois da “Era de Ouro”, a gente oficialmente entrou na “Era de Merda” dos videogames.

Um dos termos mais importantes para entendermos o atual momento de mercado de muita coisa é enshittification, algo que porde ser traduzido em português como “merdalização”. Ele foi criado pelo jornalista tech e escritor de ficçao-científica Cory Doctorow, e serve para explicar o “arco de vida” de qualquer produto das últimas duas décadas: as empresas criam uma demanda, oferecem um produto que resolve esse “problema” que nunca existiu antes, te “viciam” no uso daquilo, acabam com qualquer outra forma de resolver o tal “problema” e, quando conseguem o monopólio de mercado, diminuem constantemente a qualidade do serviço porque sabem que os usuários estão “presos” e não deixarão de pagar por ele.

Esse movimento pode ser visto com muita facilidade na tal “economia dos apps”. Lembra do Uber quando começou a operar, que só tinha carro novo e ofereciam até balinha e água gelada? Hoje você tem sorte se pegar um carro com o ar-condicionado ligado. A mesma coisa acontece com os serviços de streaming: a Netflix era o lugar que te oferecia tudo o que você queria assistir por um valor ínfimo; hoje você paga muito mais caro para ter acesso a um catálogo bem menor e, muitas vezes, com propagandas.

E é justamente nesse momento que a indústria dos videogames definitivamente se encontra. Até porque não é de agora que a “piora” dos serviços vem acontecendo. O preço base dos jogos subiu de US$60 para US$70 e já está caminhando para os US$80, enquanto os números de vendas totais não param de crescer. Jogos de lançamentos anuais (como os de esportes e a franquia Call of Duty) se parecem cada vez mais com a versão do ano anterior, oferecendo poucas mudanças reais que justificam ser vendido como um novo lançamento a preço cheio. E, mesmo assim, eles continuam batendo recorde de vendas e sendo alguns dos mais vendidos em todas as plataformas.

Agora é a vez das assinaturas: as empresas nos acostumaram a pagar para ter acesso a uma biblioteca rotativa de jogos, a maioria dos quais nós nunca iremos jogar. Então chegou a vez de piorar o serviço: aumentar o preço e diminuir as vantagens para o lado consumidor da coisa.

O futuro não tende a melhorar. A não ser que haja uma quebra brusca na forma como o Mercado funciona, nós continuaremos pagando cada vez mais por produtos piores. Porque o que vemos não é um “tiro no pé” da Microsoft, ou uma “venda estranha” da EA. A monopolização de mercados para extrair o máximo de lucro de um mercado consumidor com o mínimo esforço e investimento sempre foi o plano desde o começo.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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