É difícil superar as expectativas que foram montadas na E3 2015, quando a Sony anunciou Final Fantasy VII Remake e Shenmue 3 numa campanha de crowdfunding, ambos acompanhados de The Last Guardian que era adiado há pelo menos cinco anos. Seria difícil também esta feira superar a estreia do PlayStation 4 e do Xbox One. Mas a E3 2017 ganhou sobretudo por mostrar o ressurgimento consistente das desenvolvedoras japonesas e a transição de um evento fechado para aberto ao público.
As conferências infelizmente foram o ponto mais baixo do evento. Electronic Arts jogou no seguro com FIFA 18, Star Wars Battlefront II, Need for Speed e Call of Duty WWII. Não mostrou muito mais do que já era anunciado. Seu evento EA Play, no entanto, está cada vez mais lotado e praticamente inaugura a E3. Ele ocorre perto do Dolby Theater em Hollywood, onde ocorre a cerimônia do Oscar. E é incrível como a cidade do cinema fica tomada pelos videogames, mostrando que a mídia interativa tem cada vez mais relevância global.
A Microsoft tinha um canhão na mão, chamado anteriormente como Scorpio e revelado como Xbox One X. Em conferências fechadas com executivos da Mojang (Minecraft) e outros estúdios (incluindo o de Gears 4), a resolução 4K do XOX impressiona por valorizar melhor efeitos de luz e danos em objetos no cenário. Mas não passou disso. Os exclusivos da empresa no novo aparelho mostram que ela quer tomar a dianteira, especialmente lançando um carro Porsche com Forza Motorsport 7, mas os desenvolvedores americanos parecem ter perdido força neste ano.
É neste contexto que surge a Nintendo com dois Metroids: Samus Returns (3DS) e Prime 4 (Switch). Ressuscitando uma personagem feminina importante para a cena internacional de jogos, a Big N também anunciou Pokémon RPG e reforçou o lançamento de Pokkén para Nintendo Switch na feira. O resultado? Dos 15 mil visitantes inéditos na E3, boa parte deles lotou o estande vermelho da marca. O Japão está mais vivo do que nunca, mesmo com a Nintendo sem conferência oficial. Utilizou o espaço apenas para realização do seu Treehouse. Fora isso, ainda trouxe FIFA 18 da EA para o Switch. Além deles, a SEGA roubou as atenções e os corações com Sonic Mania.
A Sony foi um ponto fraco à parte da E3. Impressionou pela proposta de remake de Shadow of Colossus, mas trouxe um God of War parecido com os antigos. Um destaque à parte também foi o novo Spider-Man e Detroit: Become Human, jogos de mundo aberto que cresceram com a apresentação mais fraca do herói Kratos.
A Bethesda, embora tenha feito uma estreia interessante em 2015, trouxe apenas suas IPs conhecidas em VR, como Doom e Fallout 4. Aliás todo o seu estande dentro da feira foi focado em realidade virtual.
Mas o espetáculo à parte foi da Ubisoft, na conferência e dentro da feira. Far Cry 5, The Crew 2, Skull and Bones, Mario Rabbids (com Shigeru Miyamoto no palco), Assassin's Creed: Origins e outros títulos mostram que a empresa francesa está absorvendo a originalidade dos japoneses e hoje vive o seu melhor momento. Games novos, diversificados e divertidos foram a sua marca registrada na E3.
Já Devolver, junto com o IndieCade e o evento noturno The Mix, mostraram que os independentes tem um poder que circunda a maior feira de games do mundo. A própria Devolver teve problemas por ocupar espaços nos arredores do Convention Center de Los Angeles – o que deve resultar numa briga judicial. Enquanto isso, jogos retrô 2D dividiram espaço com experiências VR e até games políticos criticando Donald Trump. Entre os brasileiros, GUTS (Flux Game Studio), Pixel Ripped (Ana Ribeiro), Ninjin: The Clash of Carrots (Pocket Trap), Dandara (Long Hat House), Community Inc (T4 Interactive) e Alkimya (Bad Minions).
Foi uma boa E3. Quem não estava nos Estados Unidos provavelmente não sentiu tanto o poder dos japoneses quanto quem esteve na feira, mas teve pistas nas apresentações. Já a entrada de público, inédita no evento, veio para ficar e mudar a exposição de games no maior evento do setor.
Era impossível caminhar por lá sem lembrar, em alguns momentos, da Brasil Game Show.
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