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GameCultura: Game é Arte? E a tal da Game Art? Como fica?

O Drops de Jogos inicia 2023 com uma nova coluna dedicada ao conceito de Game Cultura e as potenciais vertentes da expressão artística e cultural derivadas dessa ideia, que ainda é pauta para muitas controvérsias entre profissionais e críticos especializados no universo dos games e das Artes em geral.

Nosso objetivo, mais do que trazer certezas, é provocar o pensamento em relação aos jogos digitais para além dos princípios sempre recorrentes relacionados à questão da ludicidade e do fator de desafio, que se constituem como fundamentos essenciais do preceito de ‘jogo’ e dos jogos digitais por extensão.

Longe dos pedantismos vernaculares tão próprios das ponderações acerca dos alicerces do que se constitui como Arte e Cultura (ok, essa frase foi pedante, ahahah!), pretendemos discorrer sobre o assunto e gerar temas para um amplo debate, com a intenção de contribuir para as impressões de interessados e estudiosos sobre a questão.

Parte I – A definição de ‘Arte’

Para o primeiro tema, como indica o título desse artigo, trago o conceito de Game-Art, que vem sendo debatido por inúmeras autoridades nesses dois campos do saber, dos jogos digitais às artes interativas. Afinal, Game é Arte?, todos se perguntam. Eis que surge a Game-Art, numa fusão de ideias e processos.

O surgimento dessa nova vertente artístico-cultural suscita aos interessados a primeira pergunta: O que é ‘Arte’? Bem, algumas personalidades de destaque têm se dedicado a responder essa dúvida universal e podem trazer mais esclarecimentos do que meus eventuais ‘achismos’ sobre o tema. A ideia em si não é nova e remonta os tempos dos primeiros pensadores gregos.

Ao definir a realidade em dois princípios distintos, o Inteligível e o Sensível, Platão passou a nutrir uma visão crítica à Arte, por não ser uma forma pura do ‘fundamento da existência’, como ele afirma ser o ‘Inteligível’. O ‘sensível’, por sua vez, está relacionado a tudo o que é material e decorre desse fundamento existencial. Finalmente, a tal da ‘Arte’, por se tratar de uma imitação do sensível, isto é, dos homens e da natureza (que são cópias do Inteligível), passa a ser vista, na interpretação de Platão, como uma enganação.

A imitação da cópia é o que Platão define como Simulacro, uma criação que afasta a humanidade do conceito de inteligível. Como resultado, Platão quer banir a Poesia, o princípio da Arte.

Por sorte, os artistas do mundo foram salvos da tirania de Platão pela sagacidade de Aristóteles, que encontra um jeito de encaixar a Arte sem bater de frente com a República perfeita de seu mentor. “Para ele, a realidade é o sensível, explicando que ‘o ser se diz de várias maneiras’ e essa ideia auxilia na concepção de um mundo no qual a Arte, isso é, a imitação, ‘representa uma composição de narrativas'” (como observa o filósofo João Francisco P. Cabral [1]), ideia que se apoia no conceito de Verossimilhança.

A Verossimilhança nada mais é do que a ideia de algo semelhante ao que é verdadeiro. Diferente do que propunha Platão, ao imitar a realidade que conhecemos, a Arte é educativa, pois cria representações não apenas do que existe, mas de realidades possíveis.

Como dizia Aristóteles, “a Arte imita a vida” e, como tal, dá vazão aos nossos instintos criativos, à ideia de realidades conceituais e intangíveis e ao onírico, a exemplo da fantasia, segundo o próprio pensador: “… a imaginação pode definir-se [como] um movimento produzido pela sensação em ato. E uma vez que a visão é o sentido por excelência, a imaginação (“phantasia”, em grego) tirou seu nome de ‘luz’ (isto é, ‘phaos’), pois sem luz é impossível ver-se.” (Tratado Sobre a Alma, III, 429a)

Até aqui, pergunto, dá pra observar alguma semelhança entre os princípios da Arte e a fantasia de mundos como Super Mario Bros. ou Bioshock, caros leitores?

Esse texto inicial traz, portanto, uma síntese das ideias que estabelecem os princípios da Arte, para que possamos avaliar a tal da ‘Game-Art’ a partir de alguma premissa mais sólida, desde os fundamentos da sociedade contemporânea. No próximo texto, ampliaremos esse escopo como forma de pavimentar conceitos que nos permitam um olhar mais criterioso para concordarmos [ou não] com a ideia de jogos digitais como expressões artísticas.

Em breve, veremos mais pensadores trazendo suas impressões sobre a ideia de Arte e intersecção com os games.

[1] https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-estetica-na-filosofia-platao-aristoteles.htm

Imagem: Arte criada para artigo do site GameCultura, em 2008

Kao Tokio

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