Por Pedro Zambarda, editor-chefe.
Fui convidado pelo professor Gilson Schwartz da USP para participar novamente da Games For Change América Latina neste dia 10. Fui convidado como cofundador da Rede Progressista de Games, a RPG. No entanto, na minha fala, eu preferi me posicionar como editor deste Drops de Jogos.
Entrei remoto, da rua, embora tivesse combinado com Gilson de participar em home office. Por isso, peço desculpas à ONG americana e internacional G4C pela conexão improvisada. Sobre o que eu falei no evento em si, tenho um total de zero arrependimentos.
Há algum tempo, sobretudo para valorizar o meu trabalho jornalístico, comunicacional e independente, eu perdi alguns freios para externar minhas opiniões. Hoje foi um desses dias. Poderia ter arrumado um enorme problema pessoal. Acredito que não foi o caso.
Um dos participantes, cujo nome é melhor não ser mencionado, externou uma opinião corrente de setores do audiovisual e de áreas da economia criativa que não tem familiaridade com videogames. Eu vou resumir sua fala em uma aspa.
“Os games parecem ter pouca inclusão. A maioria dos jogos brasileiros têm nome em inglês e abusam de violência”.
Márcio Filho, da ACJOGOSRJ, pontuou que a fala parece expor um preconceito similar a do presidente Lula, quando criticou sem embasamento jogos violentos ligando-o diretamente com os brasileiros jovens. A empresária Érika Caramello ressaltou a falha na comunicação dos jogos indie brasileiros, que praticamente não tem cobertura de imprensa, com exceção deste Drops de Jogos. Érika também recomendou a participação da educadora Juh Oliveira, do Campo Limpo, que falou sobre a exclusão da periferia nas discussões de consumo e de políticas públicas para games.
Eu subi alguns decibéis acima ao frisar que o problema que existe no Brasil é social, econômico e ideológico. Há um interesse de setores da economia criativa em diminuir os games e situa-los na extrema direira, como cultura violenta. Quando o cinema foi protagonista da vinda da cultura dos Estados Unidos no século 20. Quando o cinema, Hollywood sobretudo, foi cúmplice dos crimes sexuais e morais de Harvey Weinstein. De violência, de cultura vira-lata e de alienação, o cinema poderia dar uma aula aos videogames. E o tamanho do mercado de jogos não deveria autorizar esse tipo de menosprezo do audiovisual. Mas ele existe.
Meu interlocutor no evento concordou que eu estava correto no mérito das minhas colocações. E eu então expus que meu problema não era direcionado a ninguém do painel, mas a um estado de coisas da cena brasileira de jogos.
Fala-se só em necessidade de dinheiro de editais. Não se fala em o que, como e por que, perguntas essenciais no jornalismo. Sou a favor de todo o dinheiro público para games nacionais, mas que ele chegue para quem precisa e para revelar novos talentos, sobretudo na periferia brasileira, desconhecida da elite e da classe média. Que nem frequenta a PerifaCon, evento que ocorre em São Paulo.
Fala-se em valorizar a indústria brasileira de games, sem ter comunicação de mídia que tornem os jogos viaveis nacionalmente. Orgulha-se dos jogos indie daqui – sem construir efetivamente um ecossistema sustentável para isso.
Nos orgulhamos de alguns títulos nacionais e de iniciativas de exportação via Apex, enquanto brasileiros consomem GTA V, FIFA (hoje FC) e Counter-Strike.
Produzimos jogos brasileiros para exportação, não para brasileiros.
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Teria muito a desenvolver sobre o tema. E perdi definitivamente o filtro sobre o assunto. O Marco Legal dos Games é um passo fundamental na direção certa. Mas é um único passo de um corpo que pode se desmontar no trajeto. A relação dos brasileiros com games é a de fã. Não se encara os videogames como tecnologia estratégica para o país.
Neste ano eu estive 10 dias em uma viagem a trabalho na China. Pouco tempo para compreender um país complexo. As más línguas dizem que voltei de lá “comunista”.
Os chineses falam em “socialismo com características chinesas”. O que é, na prática? Eles “devoram” o capitalismo neoliberal, impõem a presença do Estado e criam um sistema que beneficia um país com mais de um bilhão de habitantes. O comunismo chinês é sofisticado.
O Brasil não produziu sequer um “capitalismo com características brasileiras”. Aqui nós entregamos nossas joias para os gigantes do exterior. Há, sim, entreguismo.
E achamos que isso vai dar certo. Spoiler: não irá.
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O Drops de Jogos fará retransmissão do evento com autorização. Mas já dá pra ver a G4C abaixo.
Cuba produziu um grande jogo e pode trazer muitos outros
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Também estou sempre divulgando os jogos indies e produção nacional (games, jogos de tabuleiro e RPG) no canal Minha Vida Geek. Você não está sozinho. Bora sempre apoiar as nossas produções.
Brigadão meu querido. É noix.