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ABRAGAMES diz que pesquisa de 2023 sai somente em fevereiro de 2024; Drops de Jogos levanta novas dúvidas

Por Pedro Zambarda, editor-chefe do Drops de Jogos.

A Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Games, a ABRAGAMES, não divulgou a íntegra da pesquisa nacional da indústria brasileira de games de 2023 no próprio ano de 2023 e respondeu a reportagem do Drops de Jogos nesta quinta (4), três dias após a publicação. Reproduzimos abaixo a resposta da entidade. Abaixo da nota deles, do presidente Rodrigo Terra.

Publicamos uma tréplica com novas dúvidas. Segue.

A resposta da ABRAGAMES

Por que a pesquisa de 2023 não saiu em 2023? Há alguma previsão?

Primeiramente, é preciso destacar que a pesquisa já aconteceu, foi realizada ao longo de 2023, teve uma prévia divulgada no fim de agosto do mesmo ano e a versão completa será disponibilizada até o final de fevereiro de 2024. Sobre a decisão de divulgá-la na íntegra em fevereiro de 2024, achamos muito importante ampliar ao máximo o período de coleta de dados. Isso foi feito para termos ainda mais informações e deixarmos o conteúdo mais completo e fidedigno à realidade da indústria nacional. Por isso, foi feita uma nova campanha após o mês de agosto para que mais estúdios pudessem participar da pesquisa.

Por que só foi liberado um fact sheet, um documento menor de 24 páginas?

Seguimos a mesma dinâmica de 2022, quando a pesquisa foi divulgada em duas etapas: primeiro um factsheet resumido, com 20 a 30 páginas, e depois a divulgação da pesquisa completa. A única diferença entre as pesquisas é que a de 2023 será divulgada de forma completa até o final de fevereiro de 2024.

Por que a empresa Homo Ludens foi substituída pela GA Consulting?

Não se trata de uma substituição e sim de um processo de concorrência.

Por que o fact sheet insiste no fato de que o mercado brasileiro está “contrastando” com a global em seu crescimento, quando soubemos de layoffs na casa de pelo menos uma centena de profissionais no mercado nacional e cortes em empresas internacionalizadas?

O fact sheet mostra dois cenários distintos: o mercado consumidor – que também está presente em outras pesquisas, como a da Newzoo – e o mercado nacional de produção (ou indústria) de games. Temos que ter essa divisão clara. Dito isso, podemos afirmar que, sim, o mercado de consumo continua crescendo. Já em relação ao mercado de desenvolvimento (ou indústria) nacional, a questão das demissões não teve impacto direto no resultado geral do segmento porque esses cortes foram formas que os estúdios encontraram para equilibrar as contas e seguirem com os bons resultados do período. Se analisados os faturamentos das empresas no final do balanço, é possível verificar esse crescimento.

Importante destacar também que muitas empresas participantes da pesquisa apontaram que tiveram crescimento, mesmo havendo cortes e demissões. Claro, ninguém gosta de lay-offs e demissões, mas sabemos que os momentos dos cenários nacional e internacional são inéditos, já que há uma readequação pós-pandemia e as expectativas de mercado sobre o seu desempenho ainda são relativas.

Em outras palavras, estamos vivendo um momento singular, o que não significa que o crescimento tenha relação direta com as demissões ou a desaceleração, como dito na matéria publicada pelo Drops de Jogos. Vale reforçar que existe uma análise de estado do próprio ambiente de mercado, mas os números não são diretamente proporcionais. Então, esse elo entre o crescimento do faturamento dos estúdios e as demissões não está diretamente relacionado, mas amarrado a outros fatores, como da saúde financeira da própria empresa ou da necessidade de reduzir o quadro para manter o crescimento e o faturamento.

Algumas dessas questões não estão apontadas na pesquisa pois são movimentos que não estão diretamente relacionados ao escopo do estudo de 2023. Porém, essa pontuação da matéria é bastante válida e, certamente, para a próxima edição iremos considerar esse movimento de reacomodação do “game/tech winter” para entendermos se, de fato, vai impactar os resultados dos próximos anos.

Por que a pesquisa insistiu em respostas voluntárias dos estúdios ou dos desenvolvedores e não foi a campo apurar as informações, como fazem institutos como Datafolha e Ipec, fundado por ex-executivos do Ibope?

O processo adotado pela pesquisa de 2023 seguiu a mesma metodologia de abordagem de 2022. Existe sim uma diferença de metodologia em relação ao Datafolha ou Ipec, que fazem uma prospecção ativa por diversos fatores, até mesmo nas questões de tamanho e escopo e tem um custo de realização muito mais alto, que não está no parâmetro orçamentário definido.

Nesta pesquisa, e a cada nova versão, almejamos aprimorar a entrega. Por isso, é importante receber esse feedback e a opinião dada na matéria de vocês.

Os dados da pesquisa são aferidos e amplamente trabalhados com escopo e metodologia que fazem sentido para o setor e trazem informações de qualidade. Dito isso, estimulamos a participação mais ampla do próprio mercado produtor e de todos que trabalham na representação do setor.

Há outras informações que vocês queiram acrescentar?

Acrescentamos dois pontos. Primeiro, sobre a diversidade, que foi citada na matéria anterior, tivemos um problema na pesquisa de 2022 com uma empresa que inflou esse dado – por descuido ou não –, e, infelizmente, só foi possível descobrir o erro agora ao final de 2023. Então, precisamos fazer uma errata nesse quesito da pesquisa anterior.

Por fim, a Abragames está aberta a qualquer tipo de esclarecimento e vemos com bons olhos os questionamentos levantados pela imprensa e pelo mercado. Reforçamos o nosso compromisso em sermos transparentes em todas as nossas comunicações sobre e para o mercado.

Mais dúvidas do Drops de Jogos

Vários pontos da resposta da ABRAGAMES chamam atenção por inconsistências. Enumeramos outras dúvidas a partir da nota oficial.

1 – Pesquisa prevista para sair em 2023 ser publicada em fevereiro de 2024 chama atenção. O que é inexplicável é que não é citado nenhum problema metodológico, nenhum erro de procedimento, nenhum imprevisto. Posso acreditar na data porque é uma nota oficial da ABRAGAMES. Mas não posso acreditar plenamente, a menos que exista um planejamento público dos atos da entidade.

2 – “Importante destacar também que muitas empresas participantes da pesquisa apontaram que tiveram crescimento, mesmo havendo cortes e demissões. Claro, ninguém gosta de lay-offs e demissões, mas sabemos que os momentos dos cenários nacional e internacional são inéditos, já que há uma readequação pós-pandemia e as expectativas de mercado sobre o seu desempenho ainda são relativas. Em outras palavras, estamos vivendo um momento singular, o que não significa que o crescimento tenha relação direta com as demissões ou a desaceleração, como dito na matéria publicada pelo Drops de Jogos”.

Esse trecho da nota chama atenção. Ninguém perguntou se alguém “gosta de demissões”. O que foi questionado é a conclusão matemática e econômica no processo. Economia é uma ciência humana que permite interpretações, mas a definição de desaceleração é específica. Assim como de retração ou expansão acelerada. Todos os momentos do mercado podem ser um “momento singular”. Não dá para entender qual é a explicação nesta resposta. A pesquisa depende 100% das percepções subjetivas das empresas? Não é capaz de traçar um panorama ou uma média do cenário? Não é capaz de dar um diagnóstico mais preciso?

3 – A pesquisa não levou em consideração a dependência de muitas empresas de editais públicos de fomento, como o caso do edital da Lei Paulo Gustavo no estado de São Paulo restrita a empresas de cinco anos de existência?

4 – A pesquisa de 2022 é citada como referência metodológica, mas a nota da ABRAGAMES faz uma acusação de “dado inflado” na questão da diversidade. A associação não responde sobre o gráfico inflado no fact sheet, na diminuição da diversidade com uma amostra maior de empresas consultadas ou mesmo na informação errada prestada à revista Veja.

5 – Nem a ABRAGAMES e nem a GA Consulting respondem sobre os erros de informações elencadas pela reportagem do Drops de Jogos no fact sheet. A GA, que recebeu essa pergunta, não respondeu nosso email, mas a associação também não respondeu.

A reportagem original foi atualizada neste link.

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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