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Autodidata, artista 3D vê produção de games brasileira ainda juvenil e oferece dicas aos interessados

Com o crescimento da produção de jogos no Brasil, vem aumentando também a necessidade e importância de artistas digitais para o mercado nacional de games. Autodidata, o artista 3D Alexandre Ferreira acredita que o desenvolvimento nacional de games ainda carece de uma identidade própria, mas acredita no futuro de nossa capacidade criativa como fator de mudança na qualidade de nossas produções.

O Drops de Jogos bateu um papo com o profissional, que vê a dedicação e o empenho pessoal como ferramentas fundamentais para o aperfeiçoamento dos profissionais e interessados na área. Alexandre também dá boas dicas de processo e serviços on.ine capazes de auxiliar a divulgar os trabalhos produzidos.

Drops de Jogos – Como você vê as possibilidades profissionais para artistas digitais no mercado brasileiro de games?
Alexandre Ferreira – Apesar de todas as complicações que o Brasil está passando, o brasileiro não deixa de jogar videogame. O país tem jogadores assíduos e fortalece esse mercado figurando entre os principais países consumidores do mundo. Empresas e estúdios brasileiros estão voltando os olhos para o potencial que o seguimento de games oferece. O mercado de games no Brasil está se desenvolvendo gradativamente, seja com ousados projetos de grupos de jovens sonhadores ou com a gamificação e os chamados 'serious games' que bombam o mercado empreendedor.

Mais e mais projetos surgem a cada dia, todos precisando de artistas criativos e originais para dar vida as ideias e criar a identidade visual. Apesar disso tudo, acredito que ainda somos 'infantis' quanto a originalidade de projetos. O Brasil ainda não possui uma assinatura artística no mundo dos games, mas isso logo mudará, sempre fomos muito criativos. Ao meu ver o mercado brasileiro atualmente para artistas digitais está bom, mas o melhor ainda está por vir.

Drops de Jogos – Existe campo para produzir para empresas internacionais em formato outsource? Quais os caminhos para isso?
Alexandre Ferreira – Com certeza. Existem várias maneiras de adentrar no mercado internacional. Sites como o upwork.com e freelancer.com, oferecem recursos muito eficazes para quem quer pegar alguns freelas. Existem portais mais específicos para serviços de games, como a gamesjobsdirect.com.

O site Art Station possui uma área de 'classificados' interna, com postagens diárias de empresas a nível AAA lançando contratação de artistas pra diversas áreas. Além disso é sempre bom manter-se ativo em fóruns internacionais, mostrando trabalhos e recendo feedbacks e trocando informações com outros artistas. Caso haja interesse em trabalhar numa empresa específica, recomendo acompanhar a mesma buscando informações sobre abertura de vagas e seleção para contratação.

Drops de Jogos – Modelar em 3D requer conhecimento e dedicação. Quais os erros mais comuns na modelagem em geral e os 'macetes' que você pode indicar para quem está começando?
Alexandre Ferreira –
Assim como muitas outras formas de arte, a modelagem 3D se subdivide em diversos estilos estéticos, de caricatos a realísticos. Acredito que o que pode ser considerado como 'erro' é o fato de o artista tentar criar algo sem antes definir o conceito.

A confecção de uma figura 3D normalmente começa no 2D, ou melhor no papel, o uso de referência e de uma arte conceitual que respeite e represente bem o que será criado, faz toda diferença. Por exemplo, se você decide modelar um guerreiro, o que informará aos observadores de sua arte que se tata de um guerreiro? Antes de começar a modelar o artista deve determinar coisas como, vestimentas, cicatrizes de batalhas e armas, e isso leva a pensar em questões como, em que período histórico esse guerreiro viveu? Como foram feitas suas cicatrizes? O que a sua anatomia/silhueta me informa sobre seu modo de combate? Todas essas perguntas devem ser respondidas na coleta de referências e nos esboços conceituais. Outro erro comum a quem está iniciando é a pressa.

Modelagem 3D é um processo moroso e que exige paciência, muitas vezes um trabalho deve passar por diversos programas (eu mesmo uso 7 ou mais para finalizar uma arte) e nem sempre iniciantes tem a paciência de ficar polindo o trabalho por semanas, querem logo postar. Quem está começando tem de ter em mente que um acabamento caprichado pode fazer toda diferença.

Outra dica importante para quem está começando é pesquisar dentre os tipos de arte 3D que existem qual o que se encaixa melhor com o perfil do artista. Existem muitas ramificações na arte 3D como figuras organizas, Hard Surface, environment art entre outros. A modelagem 3D possui vários tipos de finalidade, o render em real time segue uma sequência de processos que podem parecer 'pesados' para os iniciantes, com isso vale a pena considerar iniciar com objetivo de produzir imagens estáticas, prints, depois ir avançando.

Drops de Jogos – Como um artista cobra pelo trabalho de modelagem digital?
Alexandre Ferreira –
É uma questão imperativa para a profissão de freelancer, acredito. Em meu ponto de vista, não tem nada de subjetivo na hora de definir o valor de seu trabalho.
Primeiro, conheça o mercado: saiba a média de preço cobrado na região que você pretende atuar; Segundo, leve em conta seus gastos: quanto você gastou com a compra de softwere, com cursos, com o hardware necessário, quais os seus gastos com produção?
Terceiro: Quer cobrar mais caro que a média? Mostre que seu trabalho tem um diferencial. Quando um cliente me aborda querendo um modelo 3D, eu faço um orçamento com o que ele pediu e outro com um toque a mais, que engrandecerá o trabalho.

Drops de Jogos – Fale do seu histórico. É possível tornar-se um bom profissional de modelagem 3D aprendendo por conta própria?
Alexandre Ferreira –
Apesar de exercer a profissão de artista digital eu fiz faculdade de administração na UNP. Tudo o que sei aprendi na internet. Depois de um certo tempo vendo tutoriais no youtube resolvi investir em cursos online focados no software Zbrush. Gradativamente eu passei a reinvestir parte do dinheiro que ganhava com freelas com edição de fotos e ilustração, em cursos da plataforma Digital Tutors e oferecido por artistas como Stephen G Wells e Christian Bradley. De lá para cá, trabalhei em projetos como o game Tenekur Online e Hevel.
Atualmente estou trabalhando em parceria com a UFRN na criação de um projeto de gamificação da universidade e também sou um dos sócios fundadores do Estúdio de games Blood Pixel.

Drops de Jogos – Que dica você daria para quem quer se especializar nesse mercado?
Alexandre Ferreira –
A profissão de artista digital exige uma determinação quase que erudita, quem está interessado na área deve gastar muito tempo estudando e se aperfeiçoando, dificilmente se consegue alcançar um resultado 'bom' antes de pelo menos um ano de estudo contínuo. Por isso, muita gente que não tem familiaridade com os processos acaba caindo de paraquedas e se frustrando nos primeiros meses. Vale a pena ressaltar que, caso você tenha interesse, deve ser muito determinado e confiante.

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Kao Tokio

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