A frase geralmente é dita como uma piada, quando se quer destacar algo que ninguém nunca viu ou que pelo menos é raro de se ver. Igual vídeo no YouTube sobre gameplay de jogos brasileiros. Já viu algum? Com destaque? Consegue distinguir se o game é brasileiro ou estrangeiro sem que o narrador diga alguma coisa?
Pois é, eles existem (os vídeos claro), mesmo que a gente quase não consiga mencioná-los, apontá-los ou destacá-los como relevantes.
Há uma tendência natural, nos meios de produção de jogos nacionais, em achar que a redenção do mercado produtor br virá por conta de um grande título ou franquia AAA ou ainda um mega sucesso comercial. Muitos inclusive miram neste objetivo ou ao menos sonham com ele.
Quase todo mundo sabe que uma grande franquia não nasce do dia pra noite, em laboratórios ou feiras de experimentação comercial. Pelo contrário, elas afloram de títulos que poderiam passar despercebidos da maioria das pessoas. Sabemos também que uma grande franquia, para atingir seu potencial de vendas, precisa ser adubada com muito investimento tanto em produção, quanto em divulgação. Temos isso à disposição dos produtores nacionais, dentro do mercando brasileiro?
Se respondeu sim, cuidado pois pode estar fantasiando fora do local próprio para isso. Se respondeu não, ainda que com dor no coração, já ganhou a senha para a próxima etapa. Para efeito de raciocínio, digamos que as duas principais etapas que antecedem o mega sucesso tenham sido superadas, tanto a parte financeira, quanto a parte técnica, então a questão passa a ser: Será que há realmente a chance de existir uma franquia de grande porte nascida aqui?
Não vamos nos esquecer que vivemos nos tempos da grana abundante da Ancine, turbinado com alguns outros editais. Além disso, com gente de olho (grande) no mercado produtor nacional.
Todo esforço na direção da mega franquia precisa levar em conta duas possibilidades: Um tema universal, de aceitação e compreensão global, que possa disputar mercado diretamente com os grandes ou um tema nacional, de aceitação global (ou que gere uma curiosidade global) que não entre em disputa direta com os grandes, mas que contorne os meandros do mercado.
Dito assim até parece fácil trilhar esse(s) caminho(s), mas estamos muito longe disso. A tal franquia redentora vai exigir, além dos recursos financeiros e técnicos, um esforço gigantesco de mobilização das mídias, a ponto de compreenderem de fato qual é o papel que se deseja para a indústria nacional de entretenimento digital. Isso sem falar nas questões acessórias, que as organizações de produtores tem evitado debater mais firmemente.
Em tempo de BIG festival (que está acontecendo de 24 de Junho a 2 de Julho em São Paulo), fica a oportunidade de dar uma olhada mais acurada em como a produção indie nacional se comporta quando colocada ao lado de alguns exemplares da produção indie mundial.
Se existe alguma possibilidade de realmente mudarmos de patamar no mercado produtor global, o momento e o local para detectar os sinais é esse. Olho aberto e atenção redobrada, quando for ao Centro Cultural SP. Mais importante que jogar os joguinhos é absorver o que realmente está acontecendo no cenário nacional.
Renato Degiovani é o primeiro game designer de jogos digitais, desde 1981. É colunista do site Drops de Jogos no espaço DEV.LOG, com textos regulares sobre sua experiência de décadas. Foi o desenvolvedor do jogo Amazônia, é conhecido na comunidade nacional do aparelho MSX, editou a revista Micro Sistemas e é responsável pelo espaço TILT Online.
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