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EXCLUSIVO: Organizadores do evento de diversidade e games denunciam censura do governo Tarcísio de Freitas

O Drops recebeu a seguinte carta: Censura e Opressão do Queer Jogar pelo Estado de SP. Fundado na metade de 2024, o Coletivo Trans de Gamedevs reúne pessoas trans desenvolvedoras de jogos, com o objetivo tanto de acolher membros, quanto promover discussões sobre todo o universo trans e game dev.

Dessa forma, adquirimos um entendimento maior de como podemos agir para melhorar as condições dentro da área de jogos.

Seguindo essa filosofia, nossa última ação foi a organização do “Queer Jogar?”, um evento feito por e para pessoas LGBTQIAPN+, realizado em um espaço também feito para esse recorte populacional, o Centro Cultural da Diversidade. Queer Jogar? contou com uma programação extremamente rica, incluindo palestras, exposição de jogos e feira de artes e artesanatos, tudo isso com a óbvia presença de um viés queer e trans, algo político por si só.

Dado que toda a organização do evento foi feita de forma voluntária, no tempo livre, pela equipe do Coletivo Trans de Gamedevs, também contamos com a parceria do CULTSP PRO para termos acesso a alguns recursos-chave para a realização do evento. O programa – principalmente por conta da pessoa responsável pela nossa parceria dentro do CULTSP PRO – se provou um aliado muito valioso durante toda essa correria, aceitando a proposta do nosso evento, e mantendo sempre uma comunicação transparente e amigável com a nossa equipe.

Porém, nas vésperas do Queer Jogar? nos deparamos com um fato no mínimo revoltante: a identidade visual do evento – desenvolvida por nossa equipe com tanto carinho e cuidado justamente para comunicar tudo que representamos – havia sido completamente higienizada nos materiais de divulgação usados pelo CULTSP PRO em suas redes sociais e canais de comunicação.

O nome do evento reduzido a apenas “Mostra de Jogos” com “rodas de conversa” e um “espaço de experimentação” (seja lá o que isso deveria significar). As cores vivas e alegres da bandeira do orgulho LGBTQIAPN+ substituídas por outras cores sem nenhum significado. E o nome ou logo do Coletivo Trans de Gamedevs? Sequer foram inseridos em tais materiais.

Quando questionamos sobre esse acontecimento, nos foi dito algo que já temíamos: a Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas (SCEIC) simplesmente havia proibido a divulgação do evento por parte do CULTSP PRO usando a identidade desenvolvida por nós. Diante de todos esses fatos e supondo que o problema reside acima do CULTSP PRO, não podemos – e muito menos queremos – nos calar, porque isso é inadmissível.

Qual o propósito de um esforço tão grande, a ponto de interferir nas ações do CULTSP PRO, para tentar apagar o evento realizado pelo Coletivo? A própria SCEIC define como sua missão “Transformar a cena cultural do estado, promovendo o acesso, a pluralidade e o empreendedorismo criativo, sempre com um olhar voltado para o futuro”. A partir disso, deveríamos interpretar que a pluralidade para o órgão da SCEIC não inclui pessoas trans e queers? A quem interessaria censurar nosso evento?

Após indagarmos sobre essa higienização, um representante do programa fez contato conosco para esclarecer:

“(…) não há interferência da secretaria nas ações do CULTSP PRO, tanto é que apoiamos o evento inclusive contribuindo com palestras (…) se fosse esse o caso, nem teríamos participado do evento. (…) Porque se houvesse algo nesse sentido, por que teríamos ajudado a organizar o evento? (…) Sobre a divulgação, entendo que não saiu da forma como vocês queriam, mas também não teve essa interferência da secretaria. Agora, em que medida houve um erro na divulgação do card do Instagram, é uma coisa que preciso verificar internamente. (…) Como eu disse, vou reforçar aqui internamente para que isso não aconteça mais e é muito legal esse feedback de vocês porque também é necessário ajustarmos a nossa divulgação, principalmente com parceiros.”

O CULTSP PRO também nos informou que nosso evento foi priorizado entre outros que aconteceriam na mesma data e devido alguns imprevistos foi possível nos dar todo apoio e custo para que o evento acontecesse perfeitamente.

Somos muito agradecides pela atuação do CULTSP PRO, principalmente por sabermos que, por meio desse programa, muitas pessoas e organizações aliadas à nossa causa conquistaram maravilhosas oportunidades profissionais. Para além disso, também entendemos a falta de tempo e a correria inerentes à organização de eventos, ainda mais devido à parceria ter sido firmada pouco tempo antes da realização do evento.

O que não entendemos é: se o nome “Queer Jogar?” estava presente desde o primeiro e-mail trocado entre o Coletivo Trans de Gamedevs e o CULTSP PRO, juntamente com uma breve descrição do evento e sua programação, o que realmente impediu que a divulgação fosse feita corretamente?

Ficamos profundamente revoltades com esse dito descuido, chegando até a nos perguntar se essa parceria realmente valeu a pena, já que tínhamos nos programado para fazer tudo do evento do nosso próprio bolso e esforço, a parceria do CULTSP PRO veio meses depois dessa nossa decisão.

Independente do quanto tentarem nos apagar, continuaremos existindo e celebrando nossas existências enquanto respirarmos. Aguardem a segunda edição do Queer Jogar? no ano que vem!

Outro lado

O Drops está disposto a ouvir um esclarecimento do governo do estado de São Paulo. Assim que um posicionamento for enviado, a matéria será atualizada.

Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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