Lucas é o Game Producer da Donkey Crew, na Polônia. Seu jogo Last Oasis foi exibido na PC Gaming, na conferência pré-E3 2019, a maior feira de games do mundo.
Com 29 anos, esta não é a sua primeira empreitada na indústria.
Ele já foi professor, curador de eventos da Full Sail University em São Paulo, coordenador de marketing da Cat Nigiri, produtor na Garage 227 e até podcaster no site IndieSide. Ganhou a primeira gamejam realizada no Rock In Rio.
Levemente embriagado de caipirinha, ele respondeu algumas perguntas do Drops.
Drops de Jogos: Como você se envolveu em Last Oasis? Como está a vida ai na Polônia?
Lucas Estanislau: Me envolvi em outubro de 2018. Estive na Polônia pro Game Industry Conference. Foi uma indicação do meu amigo Jesús Fabre. Procuraram o Jesús porque ele tá envolvido com o BIG no Brasil e com outro evento no Uruguai. Disseram que eles tinham um scholarship, uma bolsa, para pessoas que não estão na Europa, não tem condições de vir pra cá e pagar por isso. A gente consegue bancar hotel e comida.
Tive que bancar minha passagem. Numa das festas da Conference, eu conheci o pessoal da Donkey Crew e fomos conversar. O pessoal me convidou pra conhecer o escritório. Fui pra Polônia, antes de voltar, e foi meio randômico. Eles me ofereceram um emprego! Na verdade eles estavam atrás de produtores e gostaram de mim. Estava com a Garage 227 em São Paulo naquela época, pessoal fantástico que sinto saudades inclusive. Falei que tinha que pensar, falei com minha família e minha namorada e topei.
Com toda a burocracia de contração, demorou de seis até sete meses. Foi de outubro do ano passado e eu mudei pra cá no começo de maio, dia 11. A vida na Polônia é muito boa. A qualidade de vida é benéfica e eles vivem um boom econômico. Os preços são iguais ao Brasil. Moro numa cidade considerada cara por aqui, mas é mais barata se comparar com São Paulo.
O polonês é muito difícil, mas a gente se comunica bem em inglês.
DJ: O game tem elementos que misturam um pouco Mad Max e steam punk. Como você definiria a estética do game?
LE: A gente define o Last Oasis como woodpunk, na verdade. Ou indiepunk, depende. São máquinas de madeira. É totalmente de madeira. Tem algumas construções no jogo com metal e pedra, mas a maioria é madeira. Na lore do jogo, na história do jogo, você não tem muito tempo para desenvolver as tecnologias. Você tem que ficar migrando o tempo todo. É um jogo de nômade.
Se a gente fosse querer ser como o Kojima e a gente quisesse falar que criou um gênero novo, talvez a gente pudesse falar que criou o survival nômade.
A ideia de Last Oasis é migrar o tempo inteiro. Você deve observar o Sol porque a Terra não está mais girando. Se você ficar muito tempo na luz, vai queimar. Se você for pro escuro, vai acabar congelando. O jogador precisa ficar no pedacinho de luz onde ainda há condições habitáveis. Tem uma pegada Mad Max porque a disputa por recursos é grande dentro do jogo.
Mad Max é mais sobre gasolina. Nosso jogo é mais sobre água (risos). Madeira e comida entram nessa disputa.
A estética é definida como woodpunk. Os personagens fazem tudo baseado na madeira, no que é definido como woodcraft, mesmo misturando algumas outras coisas às vezes.
DJ: Como você sente, sendo brasileiro, vendo um game com sua participação numa E3?
LE:Ser um brasileiro e ver um jogo meu na E3 é uma coisa muito louca, muito surreal. É algo muito importante. Me deixa muito feliz. Nós brasileiros estamos alçando patamares altos na indústria. Fiquei extremamente feliz quando eu vi o pessoal da Miniboss no Game Awards ano passado recebendo prêmio com o pessoal do Matt Makes Games por Celeste. Putz, isso é muito inspirador!
Eu não podia imaginar e eu não estava no palco, mas o trailer do jogo que ajudei a produzir apareceu na PC Gaming Show. Tá lá. É um jogo de PC, ainda não tem nada pra console, mas eu fico extremamente lisonjeado, é assustadoramente foda.
Na minha carreira eu estava trabalhando com jogos e educação, principalmente na época da Red Zero, PUC Minas e a Full Sail. Quando eu sai da Red Zero e migrei, investindo não só no meu lado profissional e também em projetos de empreendedorismo. Fiz isso em Sword od Yohh, ajudando o Otávio com Corona Black e outros projetos. Fiz bem em investir em projetos que acreditava e que me davam tesão de fazer.
Mudei para uma carreira de produção de jogos em 2017 após a Epic Game Jam com Children of Yohh, antes mesmo do Sword. Fui para a GDC e para diversas feiras mostrando esse jogo. Se não fosse por essa galera, pelo Rômulo, pela Cinthia e muita gente, não teria chegado até aqui. Ter ido morar em São Paulo também alavancou meu trabalho.
DJ: Você irá falar sobre o game no Brasil?
LE: Adoraria ir ao Brasil falar sobre o Last Oasis. Provavelmente não conseguirei ir ao BIG Festival porque está muito em cima e o pessoal da Polônia não conhece. Gostaria de receber um convite para palestrar das universidades que colaborei e trabalhei. Enfim, Brasil Game Show também seria legal, mas não tenho nada marcado ainda No momento estou focado em entregar um game bacana, sobretudo aos meus colegas brasileiros.
DJ: Tem algo que eu não perguntei que você queria falar?
LE: Vamos ver se vem algo de cabeça. Gostaria de agradecer a todas as pessoas da cena brasileira de games. Quando estava apenas com educação, focado no ensino privado, tive que mudar para uma perspectiva mercadológica. Não vou citar nomes para não esquecer e nem ser injusto com ninguém, mas muitas pessoas, de diferentes estados, contribuíram e me ajudaram. Da Red Zero até promover games como Sword of Yohh e Corona Zero.
Seria um erro não falar como essas pessoas me fizeram melhor como desenvolvedor de games. Eu não estaria aqui sem isso. Quero agradecer a todas as pessoas que fazem acontecer a cena gamedev. Como diz Mark Venturelli, minha inspiração no desenvolvimento: "Vamos parar de não fazer jogos e vamos fazer jogos fantásticos". É isso ai, Pedrão. Tamojunto!
Veja um trailer de Last Oasis na E3.
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