"Falta olhar o mercado nacional e a periferia", diz Andreza Delgado, criadora do Gamer Perifa - Drops de Jogos

“Falta olhar o mercado nacional e a periferia”, diz Andreza Delgado, criadora do Gamer Perifa

Andreza também é uma das produtoras do PerifaCon

Andreza Delgado, criadora do Gamer Perifa e produtora do PerifaCon. Foto: Divulgação/Arte de Rafael Braga

Produtora de evento e colaboradora de veículos como o Capitolina, Andreza Delgado tornou-se conhecida como uma das organizadoras do PerifaCon, o evento de maior sucesso levando cultura pop para o Capão Redondo, na periferia de São Paulo. A iniciativa de Andreza deu acesso para jovens que geralmente não conseguem recursos ou entrada em eventos tradicionais do setor, como a CCXP.

No final de 2019, depois do sucesso do primeiro evento (4 mil pessoas compareceram), a PerifaCon conseguiu levar ainda mais 150 da periferia diretamente para a CCXP19 e entrevistaram o diretor de Star Wars IX: A Ascensão Skywalker, J.J. Abrams.

No entanto, além da PerifaCon, Andreza também criou a iniciativa Gamer Perifa que conta com a ajuda de desenvolvedores para discussão de jogos que possam chegar até os menos favorecidos na sociedade profundamente desigual no Brasil.

Para entender melhor a iniciativa, o Drops de Jogos entrevistou Andreza Delgado.

Drops de Jogos Como surgiu a iniciativa Gamer Perifa? Foi dos jogos brasileiros e da interação com o público no PerifaCon? Além de você, quantas pessoas participaram dessa ideia? E quais iniciativas vocês estão envolvidos?

Andreza Delgado: Tá tudo muito cru ainda. Trabalhamos na indiciativa eu e um amigo que sempre traz novas ideias. Hoje todo o trabalho com o PerifaCon me suga e eu só consigo gravar coisas no canal de YouTube dele. Faço entrevistas com pessoas que estão desenvolvendo games e discussões sobre tecnologia.

A ideia do Gamer Perifa é ser mais um braço e mais uma plataforma para apoiar as pessoas de periferia, que estão nessa pegada de desenvolver jogos. Teve um trabalho que fiz com o pessoal do Sue The Real e do [coletivo] Pia Brota que é o mapeamento de jogadores e desenvolvedores hoje no Brasil.

É a Black Games BR. É uma hashtag [#BlackGamesBR].

Mais de 200 pessoas responderam à tag. A ideia é que a gente possa trabalhar e pensar muitas iniciativas a partir desse mapeamento.

Isso tudo é muito cru. É muito cru no sentido de integração. Tem um cara na região nordeste fazendo um game, um na periferia da zona leste de São Paulo, um da periferia da zona norte…

DJ: Jogos brasileiros tendem a ter uma faixa de preço mais em conta, entre 10 e 50 reais, ao contrário de um lançamento global que chega ao nosso país por 300 reais. Falta divulgação dos jogos nacionais na quebrada?

AD: Essa coisa do preço dos jogos é muito louca porque você tá falando dos jogos originais. Eu cresci jogando games piratas (risos). Sabe? Também cresci indo na lan house. As pessoas acabam jogando os games caros, mas compram de outro jeito.

As pessoas compram versões piratas, baixam e elas sempre se viraram assim.

DJ: Desde quando você se envolve com games? Qual foi seu primeiro console? Jogos favoritos?

AD: Sempre me envolvi desde muito nova e, conforme fui ficando mais velha, parei um pouco de jogar. O que é mais engraçado é que hoje eu gosto mais de assistir. Gosto de ver pessoas jogando e ver o que elas comentam sobre os games.

Vejo react dos jogos.

Tem também a parada dos games pra celulares. Neste último ano [2019], eu fui assistir a final de League of Legends e achei incrível. E hoje estou nesse segmento de jogos pensando na criação. Como a gente desenvolve mais jogadores? Como a gente incentiva mais pessoas a entrarem no setor dos jogos?

Pensar nisso não só como uma pessoa que está consumindo.

DJ: Quais são os futuros planos do Gamer Perifa?

AD: Pensar o game e o suporte na criação dele é algo que eu tenho muita vontade de me envolver. Tenho um trabalho de gibiteca coletiva, mas não gostaria de levar apenas ela. Quero levar meus amigos que estão comigo e dar uma aula ao invés de simplesmente as pessoas sentarem e jogarem um jogo. O projeto tem mais a ver com isso.

Quero articular e trocar experiência com a galera.

Hoje eu estou em um outro lugar como uma mulher produtora de um evento nerd. Isso é o que mais me interessa com o Gamer Perifa.

DJ: Fora o Gamer Perifa, como foi levar 150 pessoas da periferia para a CCXP entrevistar o JJ Abrams [diretor de Star Wars IX]? O pessoal curtiu o evento?

AD: Foi a semana da exaltação (risos), aquela da CCXP.

Foi um momento muito louco para mim, comno Andreza. De estar trabalhando mais de um ano no PerifaCon, tentando fazer o evento acontecer, o evento aconteceu e temos que fazer o próximo. A gente curtiu pra caralho e temos uma responsabilidade muito importante. Tem essa coisa do reconhecimento e ela importa porque isso nos ajuda a movimentar tudo.

Mentiroso é quem diz que não quer reconhecimento. Reconhecimento é bom. Ainda mais num trampo que você está pensando em outras pessoas.

DJ: Tem algo que eu não perguntei e você gostaria de falar?

AD: Falta muito olhar o mercado nacional, especialmente a periferia. Especialmente quem pode desenvolver para eles. Você fala de game, e uma coisa que eu percebi no Gamer Perifa, é que isso não significa apenas a decodificação da tecnologia.

Pode ser os jogos de tabuleiro. Teve um episódio do canal de YouTube que eu trouxe o Rafael da Xondaro para falar sobre jogos de tabuleiro. É uma discussão que precisa existir porque eles ainda não são acessíveis.

Conheça o Twitter do Gamer Perifa
E a hashtag #BlackGamesBr

PS: A arte da ilustração deste texto é de Rafael Braga.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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MAUSONARO

Que bosta.