O surgimento da nova tecnologia de óculos de realidade virtual começa a apresentar ao mundo as possibilidades de imersão e desenvolvimento com a produção de games. O estúdio indie Imagnation, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, vislumbrou cedo esse cenário e vem explorando o potencial do recurso em projetos como o game Dodge This, um passeio virtual pelo sistema solar e outras criações em andamento.
A equipe santa-mariense se encontra nesse momento na Malásia, participando de uma jornada de três meses dentro do programa de aceleração de negócios Game Founders.
Em bate papo pela rede, Orlando Fonseca Jr., diretor criativo da equipe, relatou ao Drops de Jogos esse momento único de aprendizado e realizações e apresentou as perspectivas do estúdio com a produção de jogos com a nova tecnologia, destacando o projeto Monowheels VR, ainda com título provisório. Em linhas gerais, trata-se de um jogo de corrida em realidade virtual, no qual o jogador se sente dentro de um veículo de uma roda só, como visto nos animes Steamboy e The Amazing Three. Abaixo, os principais trechos da conversa.
Drops de Jogos – Como tem sido a experiência de criar games para a plataforma VR?
Drops de Jogos – Os games em VR vieram para ficar?
Orlando Fonseca – Acho (e espero) que sim. A experiência de imersão e presença que o VR traz é algo bastante único, e que vai dar valor para a plataforma. Penso que não vai tomar lugar, mas se adaptar. Vários gêneros podem funcionar em realidade virtual. No início, certamente teremos "early adopters" mais hardcore, ou seja, um nicho. Mas o fato do Facebook estar nesse mercado é justamente para transformar VR em algo de grande escala para os consumidores.
Drops de Jogos – É possível criar games imersivos e de alta complexidade narrativa com esta tecnologia? O que é necessário para esta produção?
Orlando Fonseca – Sem dúvida. Talvez seja o lugar onde teremos as melhores experiências de imersão, e complexidade narrativa depende dos desenvolvedores, mas confio totalmente que veremos isso muito em breve. Vejo essas experiências como projetos caros, de grandes estúdios principalmente, e essas empresas estão ainda esperando pra ver o mercado começar a vender os aparelhos de VR antes de se comprometerem com altos orçamentos. Existem pequenas experiências nessa direção, mas nada ainda completamente desenvolvido.
Orlando Fonseca – Começamos a produção pra valer desse jogo há apenas um mês. Foi o projeto que escolhemos trazer para o Game Founders. Ele é um jogo de corrida com elementos de combate, onde o jogador experimentará a velocidade e a ação de dentro de uma monowheel, essas motos de uma só roda. Estamos usando a experiência toda de passarmos três meses imersos no desenvolvimento de um projeto com mentorias diárias para pensar modelo de negócio, formas de financiamento e também decisões técnicas sobre o projeto. Nosso plano atual é montarmos um demo para as feiras de jogos em 2016, e aí pensarmos em ir atrás de financiamento, publicação ou até financiamento coletivo.
Drops de Jogos – O estúdio Imgnation ainda pode ser considerado indie apesar dessa jornada internacional?
Orlando Fonseca – Certamente somos indies. Sem polemizar sobre o que é ou não é indie, estamos financiando esse projeto do próprio bolso, e isso por si só nos torna independentes. Mas vejo que mesmo que busquemos financiamento ou publicação, somos uma equipe de nove pessoas, que trabalham em projetos próprios, portanto, esse espírito dificilmente vá mudar.
Drops de Jogos – Há outros projetos também em produção para a tecnologia VR pelo estúdio no momento?
Orlando Fonseca – Estamos trabalhando em levar nosso jogo Dodge This VR pra outras plataformas, em especial na Ásia. Fora isso estamos em negociação de alguns projetos, já que normalmente é isso que mantém a saúde financeira da empresa: fazemos prestação de serviço para mantermos um fluxo de caixa que permita trabalhar também em projetos próprios.
Drops de Jogos – Quais são os erros mais comuns vistos em jogos com a tecnologia VR?
Orlando Fonseca – Nesse ponto ainda acho que sabemos muito pouco sobre o que é certo e o que é errado em VR. Mas um dos erros mais comuns que eu noto nos primeiros projetos de outros desenvolvedores é pensar que VR funciona da mesma forma que fazer jogos para uma tela. Especialmente com interfaces, o paradigma é completamente diferente, é precisa testar e estudar isso para chegar em bons resultados.
Drops de Jogos – Como está sendo a experiência da equipe na Malásia? Quais as diferenças culturais mais visíveis para a equipe?
Orlando Fonseca – Está sendo um upgrade muito grande pra gente. Temos mentorias com profissionais de todas as áreas, então podemos usar essas experiências para melhorar o jogo em todos aspectos. Desde questões técnicas e artísticas até modelos de negócios, análise de dados, além é claro do networking. E a experiência de estar num país com cultura completamente diferente também trás novas perspectivas. É comum estarmos andando na rua, ver algo inusitado e falarmos entre nós que aquilo precisa estar no jogo.
Drops de Jogos – Esta vivência pode trazer frutos para a produção nacional de games?
Orlando Fonseca – Certamente. Vale acrescentar que estamos usando essa experiência para aprender o máximo possível sobre mercado asiático, pensando em como podemos ajudar outros estúdios brasileiros a trabalharem com essa outra realidade do mundo. Temos conhecido muita gente de todas partes, que têm nos ajudado a entender cada vez mais sobre o mercado de games, não só do nicho pra qual estamos trabalhando.
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