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Opinião: Por que Dandara foi o jogo brasileiro de 2018 para mim?

Brasilidade é uma palavra que define o que é distinto e único na cultura brasileira. Frequentemente confundida com um unfanismo ultrapassado e distante da mistura que preenche toda a cultura pop, essa distinção normalmente está distante dos jogos que são desenvolvidos em nosso país. Ou eles buscam atingir nichos em nosso país, entrando no mercado de games publicitários ou corporativos, ou eles adotam um formato "para exportação", usando linguagem em inglês e símbolos mais globalizados.

Esse não é o caso de Dandara, um jogo mineiro que aponto como o melhor deste ano.

Long Hat House, sua empresa desenvolvedora, é a prova que Minas Gerais está na pista para fazer a diferença na cena brasileira de games. Depois de Eliosi's Hunt da TDZ Games, voltado para um público mais AAA, a companhia de Belo Horizonte surgiu de projetos menos ambiciosos e gamejams. João Brant e Lucas Mattos resolveram transformar o negócio num ritmo de trabalho mais sério em 2014, quando formalizaram suas atividades com a Long Hat.

Vieram jogos bem-humorados, de política e baseado em experiências mobile. Just Politics (sobre corrupção), Magenta Arcade e River Rage mostra como a dupla tem uma visão pouco superficial e muito boa de ganchos entre os games. Seu projeto mais ambicioso soma todos esses conhecimentos.

Mensagem na mecânica

Dandara é um metroidvania, um jogo de plataforma, tradicional. E não é, ao mesmo tempo. A movimentação na diagonal, em pontos de sal, não permite concluir que é um modo normal dentro do gênero. No entanto, a mecânica soa familiar com a prática. As armas da protagonista, inspirada em Dandara dos Palmares (esposa do herói Zumbi), também não se assemelha aos tiros, às espadas ou aos chicotes, indo para as flechas dos nossos índios.

Mensagem misturada

Para além de formatos e de mercânicas, Dandara é uma protagonista negra e mulher. Luta por liberdade num mundo tomado pela ordem. As figuras da ordem lembram militares de um período ditatorial que foi vivido no Brasil. Os desenvolvedores também não pouparam referências às obras culturais e nomenclaturas brasileiras.

Dandara é uma boa síntese de brasilidade em jogos nacionais.

Há, sim, política

E, dentro da brasilidade presente e abundante, há uma mensagem com conteúdo político profundo e importante em tempos de avanços do obscurantismo de conhecimento no mundo. Na estética, na mecânica e no roteiro, Dandara obtém êxito como obra de representação e de crítica. A trilha sonora ajuda na ambientação do game.

Sendo um dos jogos pioneiros do Brasil no Nintendo Switch, além de PC, trata-se de uma experiência envolvente e apaixonante.

É um jogo que não tem medo de falar de opressão e de questões necessárias dentro da cultura e da política nacionais.

Por isso é meu game do ano.

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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