O SBGames 2015, realizado este mês em Teresina, no Piauí, serviu de palco para a apresentação oficial de Trajes Fatais, game de luta desenvolvido pelos indies de Fortaleza, no Ceará. O projeto, que acabou eleito o melhor jogo da 13ª edição do evento pelo juri popular, vem sendo produzido há vários meses e teve suas primerias imagens de divulgação no no início desse ano. À ocasião, o Drops de Jogos conversou com Onofre Paiva Júnior e Emir Lima, dois dos idealizadores do jogo. De lá para cá, o game ganhou expressão e acolhida do público, além da adição de novos personagens como o Anjo e Lourenço Sombra.
A conversa de abril versou sobre as primeiras imagens do jogo e a sensualidade de Lucy, a personagem 'xodó' dos criadores. Onofre e Emir explicaram porque sua concepção de jogo e design visual dos pesonagens não são apelativos e não contrapõem um olhar feminista em relação à produção nacional de games. Confira a entrevista.
Onofre Paiva Júnior – O foco do game não é bem esse, embora compreendemos que ao verem apenas a personagem Lucy e o título “Trajes Fatais” muitos possam fazer essa conexão. Tanto que passamos um tempo tentando evitar mais divulgações até que tivéssemos mais personagens para mostrar e tirar logo essa primeira impressão.
O jogo fala na verdade de pessoas que, durante uma festa a fantasia, se envolveram em um evento cósmico e com isso ganharam poderes de acordo com os trajes que vestiam. Eles foram aprisionados em uma barreira mágica onde são coagidos a participarem de um torneio, para testar esses poderes recém-adquiridos. Motivos pra isso? Só jogando pra saberem.
Devo mencionar que essa é uma ideia de David Herculano, um amigo que iniciou o projeto conosco, mas não pode continuar por força das circunstâncias. Então nos cedeu essa premissa e cá estamos dando continuidade.
Emir Lima – É um assunto importante e bem delicado. Ao longo das semanas vamos divulgando os demais personagens [além da sensual diabinha] e acho que eles por si só irão diminuir esse estigma que a Lucy pode ter gerado.
Drops de Jogos – Além do chamariz da Lucy seminua o que deve ser um atrativo extra para o público?
Onofre Paiva Júnior – Eu sei que a sensualidade transborda nesse primeiro momento, mas queria muito que as pessoas reparassem também na animação 2D em si. Como artista eu gosto muito de representar a anatomia tanto masculina quanto feminina. É possível que a sensualidade ocorra em mais personagens, homens e mulheres, mas certamente Lucy será o caso extremo, pois isso está em sua própria temática (Súcubos ou Diabinha, uma fantasia típica dessas festas).
Um jogo de luta acaba sendo um bom 'pretexto' pra que eu brinque de criar movimentos e explorar a expressão corporal que tanto me motivam. É como se fosse uma grande dança em forma de jogo.
No mais, nossa equipe está pesquisando, com afinco, mecânicas diferentes para jogos de luta. Queremos que estas sejam simples, mas exijam muito feeling do jogador. A proposta da 'edição minimal' (mais experimental que a final) é oferecer um bom número de possibilidades e combinações usando apenas um botão através de um bom controle de tempo e espaço. Considero esse aspecto um atrativo também.
Drops de Jogos – Considerando as primeiras imagens divulgadas, os desenvolvedores não temem instigar a fúria feminista com esta abordagem do game?
Onofre Paiva Júnior – O Grupo Onanim é o principal desenvolvedor em parceria direta com Follow In, que se encarrega da programação do jogo (futuramente haverá mais material sobre eles); além do apoio do LME (Laboratório de Mídias Eletrônicasda Universidade Federal do Ceará), instituição em que trabalho.
Quanto ao tema da pergunta: Devo dizer que sou um convicto apoiador da causa feminista. Leio o que posso a respeito e considero suas pautas bem relevantes.
Lucy foi criada em uma época que eu não me preocupava muito com questões sociais. Eu, em dados momentos, reproduzia elementos já naturalizados em jogos de luta (vide personagens como Cammy e Mai). Mas mesmo com pouca informação na época eu já percebia a Lucy vinculada à ideia de empoderamento e protagonismo da própria vida. Hoje, com aconselhamento de minhas amigas, me esforço para seguir um caminho mais interessante. No meu entender, feminismo não é sobre "moralismo". É sobre liberdade, e foi esse aspecto que tentei buscar em Lucy.
Ela não gosta de ser julgada pelas roupas que veste (que é tido por alguns como roupa normal do carnaval), e isso é abordado em outros personagens também. O símbolo do jogo é uma máscara (Um TRAF em forma de máscara) não apenas como referência direta à fantasia, mas pela trama focar naquilo que os personagens escondem por trás das aparências.
Emir Lima – Quero adiantar uma consideração sobre o tema do sexismo. O Trajes Fatais nem de longe é uma alusão a sensualidade ou coisa assim. : )
O jogo se passa em uma festa a fantasia e a Lucy é apenas uma das personagens, que por ventura, está fantasiada de demônia. Sua fantasia está ligada a sua história e personalidade. Garanto que o jogo tem uma variedade interessante de personagens e não queremos o jogo taxado como um Fan Service. A Lucy está sendo a primeira personagem divulgada por ser nossa xodozinha.
Drops de Jogos – O grupo de desenvolvedores é independente? Há quanto tempo está no mercado e qual a proposta para a criação de jogos?
Onofre Paiva Júnior – O Grupo Onanim é independente. Não diria que estamos no "mercado", pois praticamente todos os membros possuem empregos por fora. Falando por mim, adoro meu emprego de diretor de Arte no LME, pois lá também se desenvolve jogos, no caso, jogos de foco mais educativo. A Onanim é extremamente independente, realmente fazendo algo do jeito que gosta. Claro que, dado o grande esforço e nível de complexidade do que nos propomos, buscamos algum tipo de reconhecimento futuro.
Sobre o grupo, é difícil descrever a Onanim. O nome é basicamente um selo que criei para “Onofre’s Animation”, ou seja, minha animação. E, no geral, traz projetos pessoais produzidos com o estilo de pixel arte que eu criei e que pretendo ter como marca pessoal. Mas o grupo não é de uma pessoa só e costuma fazer várias parcerias.
Meu objetivo particular é ser referência como game designer de jogos de luta, explorando e expandindo suas mecânicas e estéticas. Percebo o mesmo de nossos programadores parceiros que têm seu próprio grupo, o Follow In. Meu discípulo, André Lima, é agente duplo da Onanim e da PróPixel. Outros membros possuem outros objetivos, mas nos unimos naqueles pontos em comum.
Drops de Jogos – Quando o jogo deve ser lançado e quais as plataformas previstas/pretendidas?
Emir Lima – O Trajes Fatais Mininal Edition é uma espécie de experimento para um jogo maior que ainda pretendemos desenvolver em breve. Ele possui um escopo reduzido, tanto em mecânicas quanto em conteúdo para que seja possível sua conclusão e lançamento o mais rápido possível considerando o pouco tempo e recursos que dispomos no momento. Sua versão inicial estará disponível apenas para PC de forma gratuita e a nossa previsão é a de que o lancemos até novembro deste ano.
Onofre Paiva Júnior – Inicialmente será para PC, mas nossos planos a médio e longo prazo devem incluir consoles e mobiles. Cada um com sistema devidamente adaptado. Um passo de cada vez.
Drops de Jogos – Quem são os profissioais envolvidos na produção do game?
Onofre Paiva Júnior – A rotatividade é grande, os parceiros e amigos também. Pra fazer justiça citarei apenas aqueles que estão há mais tempo e fazendo o trabalho mais pesado e constante. No caso a Follow In, que conta com Emir e Luiz Lima, e são responsáveis por programação e inteligência artificial respectivamente (já
mencionei que a engine é própria?). Temos meu discípulo em Pixel Arte, André Lima, que atualmente está com cenários, interface e efeitos (tudo em pixel). E tá certo que eu o ajudo dentro do possível. Tem o Luan Lucas, que está mixando as músicas e cuidando da sonoplastia. Os demais membros da Equipe serão apresentados em nossos materiais de making off.
Drops de Jogos – A experiência de criar um game com engine própria é valiosa para um grupo iniciante?
Onofre Paiva Júnior – TRAF é um projeto que começou de modo muito ambicioso para uma equipe iniciante, algo não muito recomendado. Quando percebemos a complexidade do projeto decidimos que, ao invés de parar e fazer outro poderíamos fazer uma versão alternativa, para não sair do foco. Então surgiu o Minimal, mais experimental e, por conta disso, mais arriscado de se fazer. Mas tem sido uma experiência muito interessante, e esperamos poder compartilhar os frutos em breve.
Assista, abaixo, o vídeo de divulgação do trabalho no SBGames 2015:
Ele está fazendo o drama ‘Queer’
Melhorias em inteligência artificial, diz a PlayStation
E eles tiveram grana para isso, depois de demitir centenas