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Análise: Hideo Kojima e o privilégio de criar uma mídia que veio depois de seu nascimento

O cineasta Jordan Vogt-Roberts (de Kong: Skull Island) está desenvolvendo um filme baseado na saga Metal Gear Solid e, desde a E3 2017, também está fazendo debates com o designer de games Hideo Kojima na maior feira de games do mundo. Nesta terça-feira (12), em Los Angeles, Roberts fez uma conversa histórica com o criador da história de Snake.

Em 2017, Kojima disse que o trabalho de designer de jogos é como o de um sushiman, cujo corte não é o mesmo. Isso se distanciaria do cineasta.

O diretor de cinema começou o papo de 2018 relembrando uma conversa com Kojima em Tóquio, no Japão. O designer explicou que se sentia privilegiado por criar em uma mídia que veio depois do seu nascimento, mesmo sendo um diretor de cinema frustrado. "Eu tenho a possibilidade de criar quick time events e CGs depois de Mario", explicou. E Hideo Kojima não deixou de explicar que, por trás da produção cinematográfica dos maiores jogos de espionagem, estão os games básicos de plataforma da Nintendo. Seu começo foi no limitado MSX, que trazia muitas referências dos primeiros consoles domésticos.

Kojima explicou que tentou produzir em seus games enquadramentos que não necessariamente focam no personagem e que tentam mostrar sim a amplitude do ambiente. Técnicas de cinema são usadas e abusadas em seus games, mas, ao quebrar a quarta parede e falar com o jogador, o enquadramento dos títulos foge de um roteiro convencional do audiovisual.

Sua carreira, portanto, é uma coleção de pastiches de referências do cinema e a evolução tecnológica primeiro do MSX, passando por Nintendinho e depois se consolidando na plataforma PlayStation. Fora da Konami, agora ele estende sua parceria com a Sony com Death Stranding e o estúdio Kojima Productions.

E o debate foi então completado, entre pausas para o tradutor do inglês para o japonês, pela presença do ilustrador Yoji Shinkawa. Ele explicou como sua arte expressionista fez a diferença em Metal Gear Solid de 1998, junto com as vozes de atores profissionais. Sua ideia para o design do Metal Gear Rex, por exemplo, veio de Jurassic Park. A interpretação daqueles artistas, além de outras influências do cinema, evoluiria para a captação de movimentos de astros hoje como Norman Reedus (o Daryl de Walking Dead) e Mads Mikkelsen.

É assim que Hideo Kojima está atraindo as atenções com trailers loucos de Death Stranding, que promete sair da espionagem de Metal Gear e do futurismo de Zone of Enders para brincar com os limites dos videogames.

A geração de Kojima foi fundamental para a nossa indústria de jogos. Eles nasceram antes dos games e, ainda bem, estão moldando tal indústria.

A minha geração nasceu junto com os jogos e estão vivendo eles online.

As diferentes visões, e a persistência nesta mídia, é o que permite torná-la cultural e transformadora. Foi isso que enxerguei no painel de Kojima com Jordan Vogt-Roberts.

Coisa boa vem disso.

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

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