O criador de E.T., considerado o pior game de todos os tempos, afirmou que talvez tenha se formado em psicologia como uma forma de "compensação por todo o trauma e depressão" que criou com o jogo E.T. A afirmação é parte de uma longa entrevista concedida pelo desenvolvedor à BBC, na qual relembra o mais difícil momento de sua vida, quando passou a ser acusado pelo "Crash" do mercado de games, em 1983, após ter criado o game que se transformou no maior fiasco da história dos jogos digitais.
"Levei tempo para me recuperar", relembrou Warshaw, na entrevista, acrescentando que chegou a largar a carreira e tentar a sorte no mercado imobiliário. "Fui trabalhar como corretor de imóveis por um tempo e odiei. Cheguei a voltar para a tecnologia, como gerente e diretor em games, mas o encanto havia se perdido", explicou. O programador era uma das estrelas da Atari em 1982, por conta da criação do bem sucedido jogo baseado no filme Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981), também de Steven Spielberg. À época, Warshaw chegou a ser considerado "um gênio" pelo diretor.
As coisas mudaram, no entanto, quando Warshaw, então com 24 anos, apresentou sua ideia para o game E.T.: "Encontrei-me com Spielberg e mostrei todo o desenho do jogo. Disse a ele: 'Acho que é muito importante realizarmos algo inovador. E.T é um filme de impacto e precisamos de um game assim'", informou ao jornalista britânico Richard Hooper, relembrando que, aparentemente, Spielberg não havia ficado impressionado com o jogo. "Não daria para fazer algo mais como Pac-Man?", teria perguntado. "Eu fiquei atordoado", rememorou. "Era Steven Spielberg, um de meus ídolos, sugerindo que eu tinha detonado o jogo. Meu impulso foi dizer: 'Bem, Steven, você não poderia ter feito algo como O Dia em que a Terra Parou (ao invés de E.T.)?". Mas Warshaw encontrou argumentos para manter sua ideia original: "Eu o convenci a desistir da ideia de algo baseado em Pac-Man", continuou o desenvolvedor. "A chave era desenvolver um jogo que pudesse entregar em cinco semanas", proclamou.
"Os chefes acreditavam que qualquer coisa com o nome E.T venderia milhões e milhões", esclareceu o programador, resgatando que, lamentavelmente, as coisas não saíram como o esperado: "Era um jogo completo, mas certamente não era perfeito. Havia muitas chances de você acabar em uma situação estranha. Isso era difícil e muitas pessoas abandonaram o jogo", confirmou. Logo após o Natal de 1982, começaram a chegar as devoluções de cartuchos à empresa. "O jogo vendeu quase 1,5 milhão de unidades, mas ainda é pouco quando você precisa vender 4 milhões", explicou. "As coisas apenas começaram a desandar. É incrível ser responsabilizado por ter derrubado sozinho uma indústria bilionária, com apenas 8 kb de código", desabafou na entrevista.
"Sabia que não tinha mais a oferecer nessa indústria, mas também não via uma alternativa. Entrei em depressão", relatou, comentando que, ao final, jogou tudo para o alto, graduando-se em Psicologia e atuando, hoje, como tearapeura no Vale do Silício. "Talvez uma parte de mim quisesse compensação por todo o trauma e depressão que criei com o jogo E.T., mas na verdade era algo que sempre quis fazer", atestou, complementando que, para ele, seu ramo de atividade guarda muitas similaridades com o trabalho anterior: "Programadores e terapeutas são todos analistas de sistemas. Eu só passei para um hardware bem mais complexo", avaliou.
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