Days Gone Remastered prova como o gamer é um bicho besta

Quando a Sony anunciou no último State of Play que estava lançando um remaster de Days Gone, muita gente se perguntou “por que?!”. E a resposta é simples: porque a Sony sabe que o gamer não vai perder a oportunidade de ser feito de besta.

Isso ficou claro após uma postagem de Kevin McAllister, líder criativo e de produto do jogo, fez no perfil dele no X. Ele comemorou o fato de Days Gone Remastered estar entre os 10 jogos com mais pré-vendas da PlayStation Store.

Days Gone Remastered promete algumas melhorias gráficas e conteúdos adicionais para o jogo de 2019, e quem já tem o jogo original pode adquirir a nova versão por apenas U$10. Mas essa promoção é válida apenas para quem realmente comprou o jogo. Quem apenas adicionou o game à biblioteca através da assinatura da PlayStation Plus não tem direito ao valor promocional.

Days Gone Remastered e o “Remasteration 5”

Ainda que na superfície pareça uma notícia inócua, o sucesso da pré-venda de Days Gone Remastered serve de alerta para como a relação entre desenvolvedores e consumidores está ficando cada vez mais tóxica e insustentável.

Primeiro, por ser mais um remaster para um console que já está no fim da vida e parece ainda sofrer com uma falta de jogos. Ainda que uma pandemia que atrasou o desenvolvimento de jogos pra todo mundo e uma aposta errada numa estratégia de jogos como serviço sirvam como justificativa, ainda assim a Sony parece que não oferece ao PS5 o mesmo cuidado com títulos que teve no PS4.

Segundo, que todas essas remasterizações são apenas estratégias de cash grab (“pegar dinheiro de gente besta”, em tradução livre). No PS4 várias remasterizações faziam sentido, porque o console não rodava de forma nativa os jogos do PS3 e elas serviam para levar grandes sucessos da geração anterior aos jogadores que tinham no PS4 seu primeiro videogame.

Isto não acontece no PS5, que já roda de forma nativa praticamente todos os jogos lançados para o PS4. Então, a aposta em remasterizações já não tem nem mesmo a justificativa de levar esses jogos a um novo público, já que qualquer pessoa que tem no PS5 seu primeiro videogame pode comprar os jogos do PS4 e jogar nele.

E o cash grab fica ainda mais aparente na estratégia de lançamento desses remasters. Eles não apenas são lançados com preço cheio para melhorias que muitas empresas oferecem de graça (por exemplo, a CD Projekt Red com The Witcher 3), mas mesmo quem já tem o jogo precisa pagar um valor a mais para ter acesso às atualizações para o PS5. No melhor dos casos, esse pagamento tem caráter “promocional” (com em Days Gone Remastered), mas muitas vezes o jogador é obrigado a comprar novamente o mesmo jogo. Pagando preço cheio, claro. E tudo isso pra no fim receber algo que é exatamente a mesma coisa, mas com umas luzes que refletem melhor nas superfícies do game.

Isso sem contar na enorme quantidade de títulos que seguem essa mesma tendência. São tantas remasterizações de jogos que já são muito bonitos graficamente e que já rodam bem no PS5 que muita gente chegou a apelidar o console da Sony de “Remasteration 5”.

Mas a culpa também não é toda da Sony. Ela só continua nessa aposta porque o gamer abraça ela. Days Gone Remastered estar entre os jogos com maior pré-venda da PS Store tem um significado: que pessoas estão pagando caro pra um jogo que todo mês entra em promoção na PSN saindo por metade do preço, e que pessoas que já compraram o jogo acham legal pagar ainda mais para ter acesso a um patch de atualizações.

É certo que a indústria de games cria umas estratégias de monetização tão absurdas que parece que ela acha que a gente é besta. Mas fica difícil não dar razão a elas quando o comportamento do consumidor médio é gastar seu dinheiro como se fosse besta mesmo.

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