Indústria

IGN Brasil publica artigo denunciando o preconceito dos gamers com o Samurai Negro em Assassin’s Creed

O site IGN Brasil, maior veículo de notícias online escrito sobre games no Brasil, publicou em 17 de maio um artigo opinativo denunciando o preconceito dos gamers com o Samurai Negro em Assassin’s Creed. Embora o texto não utilize a expressão “racismo”, o texto de Gabriel Sales é corajoso em um meio criado no liberalismo e infiltrado pela cultura de extrema direita.

A publicação começa desta forma:

Novo título de uma das franquias mais populares dos games nos últimos 20 anos, Assassin’s Creed Shadows terá, pela primeira vez na história da série, um protagonista que foi uma figura histórica real: o lendário samurai (discutiremos o uso do termo mais tarde) negro Yasuke, um dos guerreiros de elite a serviço de Oda Nobunaga, poderoso senhor feudal do Século XVI considerado um dos três grandes responsáveis pela unificação do território que hoje compõe o Japão. Além de Yasuke, Assassin’s Creed Shadows terá como protagonista a personagem Naoe, uma kunoichi (ninja feminina) japonesa especialista em técnicas furtivas usadas para tanto infiltração em territórios quanto para assassinatos de inimigos.

O raciocínio do articulista é muito preciso. Desta forma:

As reclamações, no entanto, revelam pelo menos duas grandes contradições dentro da comunidade gamer.

A primeira delas está na própria reclamação sobre a ausência de protagonismo japonês em um jogo ambientado no Japão. Bom, talvez parte da comunidade gamer não tenha percebido, ou simplesmente escolhido ignorar, mas Naoe é uma personagem japonesa e é, pasmem, protagonista ao lado de Yasuke em Assassin’s Creed Shadows, a ponto de ter grande destaque tanto no trailer de revelação quanto na própria capa do jogo. Ou seja, a primeira reclamação á facilmente refutada logo nos primeiros materiais de divulgação do jogo. Há uma protagonista japonesa, o grande problema aqui parece ser a dificuldade do público em aceitar uma mulher nesse posto no lugar de um homem, como normalmente já ocorre em praticamente todos os jogos ambientados no período Sengoku.

A segunda grande contradição, e tão risível quanto a primeira, está na cobrança por uma maior “precisão histórica” na forma como Yasuke é retratado em Assassin’s Creed Shadows, inclusive com uma longa discussão sobre o fato de o protagonista negro do jogo merecer ou não o título de samurai, conforme usado pela Ubisoft no site oficial do jogo. Para começo, o uso ou não do título de samurai para Yasuke importa bem menos que o fato de ele ser uma figura histórica do período Sengoku e descrito como um guerreiro espadachim extremamente poderoso e um dos poucos, entre centenas de milhares de daquele período, lembrado pelo nome até os dias atuais.

E por fim ele pontua quais seriam os reais problemas do novo game.

Não sabemos se Assassin’s Creed Shadows representará uma grande evolução na franquia em termos de estrutura narrativa e de gameplay, e a política de preços da Ubisoft, com a edição mais completa de Shadow custando absurdos R$ 650,00, se tornou secundária, quando na verdade esses dois tópicos deveriam ser pontos centrais de debate. Infelizmente, porém, a comunidade gamer mais uma vez revela sua pior faceta, usando recorrentemente termos ridículos como “woke” ou “lacração” cada vez que desenvolvedores desejam incluir o mínimo de diversidade em uma franquia historicamente protagonizada por homens brancos, assim como a esmagadora maioria dos jogos.

(…)

Um personagem negro até pode ser protagonista, desde que seja colocado no papel de um criminoso, como ocorre em GTA San Andreas ou GTA V. Uma mulher também pode ser protagonista, mas preferencialmente se for sensual ou sexualizada o bastante para o gosto do gamer médio. Como Assassin’s Creed Shadows não coloca Yasuke e Naoe nessas condições, o “review bombing” teve inicio antes mesmo de o jogo ser lançado. Lamentável, mas não surpreendente.

O texto é muito bem argumentado e desenvolvido. Convido a todos lerem na íntegra aqui.

O problema dos gamers é o racismo, é o preconceito. Não tem nada de preocupação histórica. A pesquisa não sobrevive a cinco minutos de Google. O argumento não aguenta algo simples: A ficção pode ser o espaço de inclusão e de diversidade. E a falta de noção das pessoas faz com que seus preconceitos apareçam.

Na capa do IGN Brasil. Foto: Reprodução

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Pedro Zambarda

É jornalista, escritor e comunicador. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em Filosofia pela FFLCH-USP. É editor-chefe do Drops de Jogos e editor do projeto Geração Gamer. Escreve sobre games, tecnologia, política, negócios, economia e sociedade. Email: dropsdejogos@gmail.com ou pedrozambarda@gmail.com.

Ver Comentários

  • kkkkk, ign denuncia o preconceito? é muito patético essa cultura Woke. tão patétic que a IGN provavelmente generalizou os mesmos Gamers que provavelmente assistiram a animação do Yasuke netflix, gostam de blade, gostam de resident evil com protagonistas mulheres, Aya, Jill, e por ai vai, bem incoerentes mesmo, óbvio que o racismo existe, mas inputar preconceito com negros só por conta de critícar o jogo pelo protagonista não se um japonês é patético.

    • Exatamente, eles são tão patéticos que chega a ser engraçado o exagero, só pra chamar atenção pq a coerência é 0.
      Se for ver os comentários dos asiáticos, eles que se sentiram discriminados pela Ubisoft, há anos os fãs japoneses de AC esperavam por um AC no Japão, jogar com personagens japoneses que os representassem, aí alteram o personagem masculino só pra agradar o ocidente. Mas pra galera woke, representatividade é lindo só pra 1 tipo de raça.

      • Reparou que o pessoal tem ignorado a Naoe? Ela é protagonista e é japonesa. Ela não conta para representar o povo japonês? E, como afirmou o autor do artigo da IGN, o mesmo pessoal que hoje fala do Yasuke, não pareceu se incomodar com o inglês Willians Adans como protagonista do jogo Nioh (não sei se escrevi certo). E pelo que vi, grande parte dos gamers japoneses gostaram. Até porque ele é uma figura histórica popular por lá. Além do que que existe um monte de jogos sobre o Japão na época do Bakofu, com protagonistas (históricos ou fictícios) japoneses. E falo dos gamers japoneses e não do povo japonês como um todo, porque, pelo o que sei, a maioria dos adultos nem sabem é nem se importam com isso.

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