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Nintendo Switch pode engolir o mercado mobile de jogos. Por André Fogaça, colaborador

Mudança, mais uma vez

O nome do console diz tudo, absolutamente tudo sobre a visão de Satoru Iwata-san, ex-presidente da Nintendo, para o mundo de games que a Big N montou nos últimos anos – e que deu muito certo. Um dos significados para a palavra switch, em inglês, é mudança e o console é uma mudança neste mercado, exatamente como o Wii foi para os jogos eletrônicos de mesa e o Game Boy para os portáteis. Iwata, como ele mesmo se declarava, era um gamer acima de qualquer nome que seu cargo pudesse receber. Sua história de mudanças e desenvolvimento de jogos começou enquanto ainda estava na escola, quando programou uma calculadora HP-65 para exibir jogos que seriam controlados pelos números do teclado. 

Passou pelo desenvolvimento do primeiro Kirby (Kirby's Dream Land, lançado em 1992 para o Game Boy e que colocou uma forma original de jogo de plataforma, num mar de semelhanças com Mario), o RPG EarthBound e o sucesso que é Super Smash Bros. Com nomes de peso em títulos de luta como Street Fighter, Tekken, KoF e MK, era inimaginável ter mais um jogo. Iwata conseguiu (quase que sem aprovação da Nintendo) colocar Mario para trocar socos com Pikachu. Deu certo. Muito certo. Fechando a lista de jogos, temos mãos de Iwata tocando Pokémon Go, já no hospital, junto da Niantic.

O primeiro console que recebeu sua influência foi o Nintendo DS, inferior em hardware ao PSP da Sony, só que vendeu bem ao ponto de ser o segundo console mais vendido de todos os tempos. Perdendo apenas para o PlayStation 2 e passando o icônico Game Boy. O Nintendo DS conseguiu reunir gamers e outras pessoas que não jogam tanto, com ajuda de títulos como Nintendogs e Brain Age. Além de servir como ferramenta para exploração do museu do Louvre, em Paris, no 3DS

Depois disso, o Wii nasceu na E3 de 2005 e era absurdamente diferente de tudo que existia naquela geração – sim, ele pegou onda em algumas funções da Power Glove. O console tinha um controle que parecia o controle da TV, respondendo aos movimentos do corpo e até conseguiu trazer games, que são basicamente personal trainers, para quem sequer sabe como dar um hadouken – e nem quer saber.

Mudanças, trocando o mundo de games da Nintendo do foco em gráficos poderosos, para apenas diversão – algo que foi o que criou o mundo dos jogos no passado. Diversão. É exatamente esta mudança que o Switch pode (e provavelmente vai) levar para as pessoas.

Em qual sentido?

Switch, pelo que foi exibido no único vídeo, é basicamente um tablet poderoso com controles nas laterais e que pode exibir os jogos na tela grande da sala. Ele entrega ao mundo mobile o que ele precisa para ser realmente um mundo gamer: Controles físicos. Há uma série de ótimos jogos para smartphones, como o belíssimo Infinity Blade, versões de clássicos como a Sega distribuiu para alguns jogos do Sonic, ou até mesmo King of Fighters, mas todos sofrem com a falta de uma forma de controlar as coisas da tela, sem bloquear a visão. Ou então de controlar com resposta tátil, sem sujar o display. O Switch entrega justamente isso.

Ele vai além e permite até dividir os dois lados do controle e faz um split-screen em Mario Kart possível, com um só console e “apenas um controle”. Genial e inovador.

O segundo ponto é que a Nintendo tem o que a Apple, ou o Google, não tem: Uma carta de produtoras e desenvolvedoras que confiam em seu conhecimento profundo do mundo de jogos portáteis – afinal de contas, o DS vendeu mais de 150 milhões de unidades e quase 120 milhões de Game Boys. Unir a experiência de portáteis que nasceu lá no final dos anos 80, junto com uma lista de desenvolvedoras que já querem apostar em mobile desde o boom dos smartphones e tablets, pode ser a receita de sucesso. Adicione isso ao tempero único que a Nintendo tem, chamado de “first party”. Troque este nome dentro das aspas por algo como Zelda, Mario, Mario Kart, Pokémon, Star Fox, Super Smash Bros e Donkey Kong.

Se num primeiro momento o mercado olhar para o Switch como algo perigoso, mais um player num mundo atolado de devices móveis e que pode vender pouco, ele vai mudar de ideia quando o primeiro Mario aparecer. Quando o primeiro Zelda, que é o Legend of Zelda: Breath of the Wild, chegar. Estes nomes pesados podem atrair muitos compradores (e vão), que atrairão mais desenvolvedores querendo ganhar dinheiro e, principalmente, mais suporte dos famosos third parties, como é o caso da EA, Activision e outras. Ah, o vídeo de lançamento mostrou o que pode ser um jogo da franquia The Elder Scrolls, game que é famoso pelo belo Skyrim e que é um ótimo representante das third parties.

Parece fácil, mas não é

Com tudo que falei até agora, você deve pensar que a vida da Nintendo será fácil e que ela abocanhará o mercado mobile que é exclusivo de Apple e Google. Não, minhas fichas não são tão absolutas desta forma. A primeira barreira que a Big N terá de lidar é o preço. Desde o DS, a empresa nipônica apostou em jogos casuais e em aproximar pessoas que não jogariam nada, para curtir com a família. Se ela quer continuar apostando nestas pessoas que não são jogadoras de fato, precisa cobrar ao menos o mesmo um PS4 ou o XONE. Nunca acima deles.

A segunda barreira é tecnológica. Será que, depois de destacado de seu dock, o Switch continuará reproduzindo os belíssimos gráficos que aparecem no vídeo, com o rapaz jogando em sua TV gigantesca? Meu palpite é que, para baixar o calor gerado pelo processador e GPU, os jogos rodarão em 720p (1280 x 720 pixels). Isso pode explicar a tela pequena, já que uma resolução abaixo de Full HD, em sete polegadas, não fica tão ruim assim. O Wii U é uma experiência negativa neste ponto, onde prometeu um mundo belo dentro da tela do controle e entregou algo bem abaixo disso. Se todo o hardware está na tela, como em um tablet, então ele esquentará bastante para manter tudo bonito. O consumo de bateria também aumenta e encontramos a terceira barreira: O foco está na mobilidade, mas com tamanho poder de fogo no console, quantas horas você poderá jogar fora da tomada? O Nintendo 3DS, bem mais simples em hardware, consegue algo entre 4 e 5 horas. O Switch tem que ter, no mínimo, uma autonomia igual ou superior ao 3DS.

Se der certo, o mercado poderá mudar

Minhas fichas vão para o sucesso destes pontos que coloquei na mesa. As barreiras são grandes e, ao menos para o preço, a Nintendo já sabe lidar com o problema. Afinal de contas, o 3DS custa perto de US$ 150 e o Wii U fica US$ 100 mais caro na quantia anterior. Já são valores abaixo de seus concorrentes da Sony e Microsoft. O mercado mudará radicalmente se der certo, passando a olhar para o mundo mobile com outros olhos e com mais empenho do que existe hoje.

Em meus anos de experiência como jornalista nichado no mundo de smartphones e tablets, aposto que iOS e Android não deixarão de receber ótimos jogos e franquias próprias, como é o caso do Real Racing e Infinity Blade. Também acredito que o Android não chegará perto do Switch. O que acredito que acontecerá, se o Switch cair no gosto dos jogadores, é que games mais complexos finalmente encontrarão seu lugar ao sol em algo que está longe da tomada. Teremos controles físicos para algo mais hardcore como Skyrim, também adaptado para a brincadeira mais familiar como no multiplayer de tela dividida de Mario Kart. Tudo em um só produto e que não deve substituir seu tablet ou smartphone.

Será apenas um denominador comum, uma plataforma icônica que continuará reinando nos portáteis, como já aconteceu com Nintendo DS e Game Boy. A Nintendo sabe fazer isso, tem desenvolvedoras interessadas. Só falta saber se o jogador seguirá neste rumo.

Eu, pessoalmente, quero um Switch e adoraria ver a Nintendo voltar ao Brasil de forma oficial. Comprar produtos da Big N apenas em importadores, acompanhando preços exorbitantes de jogos em alguns varejistas, é triste demais.

André Fogaça é jornalista que ama bits e bytes desde a infância, virando gamer com a paixão pelo SNES que ganhou nos anos 90. Teve passagens pelo TechTudo (Globo.com) e TudoCelular, além de trabalhar no Loop Infinito. É nintendista, caixista e sonysta, tudo ao mesmo tempo. Escreve sobre tudo isso desde 2010 e não parou mais.

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