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Eu não sei vocês, mas ter interesse por videogames algumas vezes me leva para cantos da internet onde que eu nunca colocaria os pés se tivesse escolha — e aqui eu falo especificamente de lugares onde os discursos de red pill e incels são comuns.
Se você quiser acreditar no que essas comunidades falam, vai sentir que o maior pecado em 2024 é ser homem. Eles ventilam que os homens do mundo estão sendo perseguidos pela “ditadura” feminista e dos homossexuais, escolas estão obrigando crianças a fazer cirurgias de redesignação sexual porque ser trans está na moda, e figuras como Andrew Tate e Pablo Marçal são os os últimos heróis da resistência masculina frente a um mundo que odeia homens. Esse tipo de pensamento faz sentido pra muita gente — principalmente se você for burro. Até porque, a única forma para descobrir que isso não é verdade é saindo da internet e olhando para a P*RRA do mundo real.
Mas apesar de essa ideia (de que os homens se tornaram grandes vítimas da sociedade) ser uma das maiores besteiras que alguém já tentou imaginar, a galera que propaga esses discursos consegue fazer isso com muito sucesso porque há uma verdade inquestionável por trás dessas lorotas: a masculinidade está em crise.
Durante séculos, o papel do homem na sociedade — e as expectativas que essa sociedade tinha dele — sempre foi muito bem definido: ele deveria ser o provedor, o “pai de família”, o patriarca como figura máxima de uma unidade familiar. Isso significava que este homem, de forma geral, teria uma vida muito bem definida até o fim: ele seria uma criança curiosa e criativa, do tipo que está sempre inventando aventuras e tentando aprender como as coisas funcionam, aí ele abandonaria toda essa curiosidade e criatividade na adolescência, quando ele passaria a dedicar toda sua atenção a obedecer às autoridades — sejam elas sociais, como policiais e professores, ou familiares, como os pais — de forma cega e sem questionar, e encontrar a garota com quem ele iria casar.
Na vida adulta, este homem então se dedicaria a um emprego, que garantiria o sustento dele, de sua esposa e quantos filhos os dois tivessem; e, na velhice, este homem se aposentaria e tomaria a posição que até então era do pai dele, tornando-se o novo patriarca da família inteira, a figura masculina mais velha que tinha a última palavra em tudo (e que todos temiam de certa forma). Alguns desses passos poderiam mudar ligeiramente dependendo da sua posição social — por exemplo, um homem com título de nobreza não precisa se preocupar com trabalho — mas o papel social e as expectativas que a sociedade tinha sobre a figura masculina eram quase sempre as mesmas em todas as esferas.
Mas isso mudou. Aliás, vinha mudando já nos últimos 150 anos, com o início dos movimentos feministas no fim do século XIX e as duas guerras mundiais que escancararam a importância da mulher no mercado de trabalho, sendo que essa mudança ficou muito mais intensa nos últimos 20 ou 30 anos. Mas por quê? Não sei dizer ao certo, mas acredito que um dos muitos motivos é o fato de as gerações que chegaram aos seus 30/40 anos no começo dos anos 2000 foram as primeiras a naturalizar a ideia de fazer terapia, e isso as ajudou a perceber que aquela criação de “um homem deve ser assim e assado” já não fazia sentido no mundo atual — e até que muitos conceitos de “como um homem deve ser” eram extremamente tóxicos para a vida deles mesmos.
Como em todo processo de mudanças, o primeiro passo para uma solução é identificar o problema, e essa talvez seja a principal causa da crise da masculinidade atual: o problema foi identificado, mas ainda não sabemos exatamente o que fazer para resolver. Afinal, as pessoas que deveriam servir de modelo para as novas gerações — a galera de 30/40 anos que começou a fazer terapia — sabe que eles receberam uma educação falha e estão tentando se redescobrir como homens na crise de meia-idade. Então, quem seria esse modelo ideal de masculinidade em quem deveríamos nos inspirar daqui pra frente?
Bom, como consta no título deste texto, já sabe qual é a minha sugestão: Kazuma Kiryu, o protagonista da maior parte dos jogos da franquia Yakuza (atual Like a Dragon). Deixa eu te explicar o porquê.
Em um primeiro momento, Kiryu tem todos aqueles aspectos de “o que é um homem” tradicional: é um cara alto, musculoso, de cara fechada, que luta artes marciais, tem uma tatuagem de dragão nas costas e garante seu sustento através do uso da força física e da violência. E como você já pode imaginar a julgar pelo nome da franquia, Kazuma Kiryu é membro da Yakuza, a famosa máfia japonesa. Em todos os aspectos, ele é o modelo ideal do tal “macho alfa”.
ATENÇÃO: daqui pra frente poderão existir alguns spoilers sobre os jogos da série Yakuza. Não vai ser nada grave, nenhuma revelação chocante que irá estragar a narrativa desses jogos, mas eu irei citar um ou outro evento que ocorrem ao longo dos games da franquia.
Mas esta é apenas a camada mais superficial do personagem. Quando começamos a conhecer mais sobre ele no decorrer dos jogos, vamos descobrindo coisas que fogem totalmente daquela definição tradicional de masculinidade. Por exemplo, apesar de ele ser um dos melhores lutadores de todo o Japão (e em certo momento até mesmo alcançar a posição de líder do clã), ele não tem essa ambição tradicionalmente masculina de buscar uma posição que irá garantir poder, status e dinheiro. Pelo contrário: a grande ambição de Kiryu é abrir um orfanato, onde ele poderá ajudar crianças abandonadas a ter uma infância digna e um futuro promissor. Ele, inclusive, é o pai solteiro de uma criança que nem é sua filha biológica, após salvá-la dos planos malignos de seu genitor, que tentou matá-la junto à mãe porque elas poderiam atrapalhar seus planos de ascensão política. Se você nunca jogou nada da franquia Yakuza, não se espante, as tramas são tipo uma novela do Manoel Carlos, só que tudo se resolve no soco.
Kazuma Kiryu também é uma pessoa muito idealista, inclusive na forma como ele enxerga a própria organização da Yakuza. Algo como um Robin Hood das periferias de Tóquio, ele enxerga os membros do clã não como seus companheiros de crime, mas como uma família real, que tem como principal objetivo proteger as pessoas de Kamurochō dos abusos do poder público. E é justamente essa visão idealizada que permite que Kiryu se assemelhe, em muitos momentos, ao padrão clássico do herói, aquela pessoa que é muito boa em praticar a violência, mas a usa apenas com o intuito de se proteger ou proteger alguém — nunca para iniciar um confronto.
E é justamente para quem Kazuma Kiryu oferece essa proteção que também o torna bem diferente do modelo de “macho alfa”. Um membro da Yakuza passa mais tempo saindo no soco com outros membros da Yakuza do que realmente lutando por eles, e isso acontece porque quase todas as tramas colocam Kiryu como a “ovelha negra”, o “estranho no ninho”. De forma geral, a Yakuza é tão tóxica para as pessoas da bairro quanto o poder público, e Kiryu se sente obrigado a proteger essas pessoas inocentes dos membros de outros clãs.
Quem Kiryu protege? No geral crianças e mulheres, mas em muitos casos também estão inclusos ali prostitutas, sem-teto, drag queens, transsexuais e qualquer outro tipo de pessoa considerada “inferior” por aqueles que detêm o poder na sociedade japonesa. E, mesmo que ele não entenda exatamente por que alguém é como é, ele nunca fica julgando essas pessoas, sabendo que não é porque ele não compreende algumas das decisões de vida delas que elas deixam de merecer proteção e uma vida digna.
De quem Kiryu protege essas pessoas? Órgãos governamentais, políticos, policiais, chefes e capangas da Yakuza, além de grandes empresários. E esta última parte não é nem meme: no jogo Yakuza 0, uma das tramas da história envolve uma grande incorporadora imobiliária que deseja comprar todas as casas e pequenos negócios de Kamurochō para gentrificar o bairro e construir condomínios de luxo, e para evitar isso Kiryu precisa sair no soco com um grupo conhecido como OS 5 BILIONÁRIOS!
Assim, Kazuma Kiryu é uma figura que, sob certo ponto de vista, pode ser vista como o clássico macho alfa (homem grande, musculoso, estoico e que é muito bom de briga), mas sob outro ângulo, ele pode parecer um total beta cuck (respeita as decisões de gênero e sexualidade dos indivíduos, aceita ser pai solteiro de uma menina que nem é sua filha biológica, não possui aspiração por poder e riquezas). E é justamente esta complexidade que torna ele uma figura masculina ideal.
Existe um movimento forte e organizado para tentar convencer os homens de que eles são vítimas da sociedade e que o mundo não quer mais que ninguém seja homem — e pode ter certeza: qualquer um que tentar convencer você disso é um golpista mentiroso que quer te passar a perna. Ninguém quer acabar com o papel do homem na sociedade: as pessoas apenas se cansaram disso de que todo homem tem que ser um cuzão escroto.
Ninguém vai te impedir de gostar de artes marciais, de passar metade do dia na academia puxando ferro, ou até mesmo de ser aquele cara todo misterioso que não fala abertamente sobre seus sentimentos. Mas o que acontece é que nenhuma mulher vai achar que tem a obrigação de abrir as pernas pra você só porque você pagou um jantar, ou aceitar tomar um café só porque você tem barriga tanquinho. Ninguém (ou, pelo menos, cada vez menos gente) vai ficar inventando desculpas toda vez que você trata alguém como “inferior” apenas porque ela não tem uma profissão que você acha legal, ou não tem a sexualidade que você aceita, ou se define de uma forma que você não entende. E também cada vez menos pessoas vão aceitar que você é o dono da razão e merece ter a palavra final sobre qualquer assunto apenas por ser homem.
Eu acredito que a nossa contribuição para as novas gerações é passar pra frente o conceito de OQQOKF – O Que Que O Kiryu Faria?. A aplicação de tal conceito é bem simples. Se você se depara com uma situação de possível conflito ou onde você questione qual o seu papel enquanto homem ali, se pergunte: OQQOKF? E então faça exatamente aquilo que o Kiryu faria: não julgue as pessoas, proteja aqueles que estão em posição vulnerável e, sempre que tiver a oportunidade, deite um bilionário no soco.
*Rafael é jornalista desde 2017. Cresceu lendo revistinhas de videogame, entrou numa noia quando percebeu que o “jornagames” ainda era feito pra adolescentes que só tinham interesse de discutir qual console era melhor, e agora está numa missão de vingança para resolver isso com as próprias mãos.
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Na ciência, o conceito de verdade científica não é absoluta, mas provisória e baseada em evidências, podendo ser revisada ou refinada à medida que novas informações surgem.
Isaac Newton (movimento macroscópico), Albert Einstein (espaço-tempo) e Max Planck (comportamento das partículas subatômicas), dividem a ciência em 3 grupos distintos e aceitos pela ciência.
A arqueologia é a disciplina científica que estuda as sociedades humanas do passado por meio de seus vestígios materiais.
Até hoje, os cientistas identificaram cerca de 15 a 20 espécies pertencentes ao gênero Homo, que inclui nossa própria espécie, o Homo sapiens.
Os primeiros surgiram a 2,4 a 1,4 milhões de anos, e uma hipótese bem estudada são as guerras entre algumas espécies que conviveram, uma eliminando a outra.
Os Homo sapiens (300 mil anos atrás até hoje) e as que eventualmente desapareceram e conviveram juntas, Homo neanderthalensis (400.000 e 40.000 anos atrás) e Homo denisovensis, tem algumas teorias quase que evidenciadas, que o Homo sapiens em guerra com eles, foi o principal motivo desta extinção.
Atualmente em 2024 o site da Global Conflict Tracker registram 28 conflitos mundiais e já conhecemos inúmeros conflitos passados dos diversos Impérios que já passamos.
Hoje no Brasil temos novelas e filmes que valorizam o bandido, desde que este seja “bonzinho” na sociedade onde atuam, tipo “Robin Hood” citado na matéria.
Portanto, apesar de não concordar com tudo que foi escrito e não gostar dos termos que chamamos de palavrões ou expressões vulgares, que são usadas desde que o homem existe, esta linha de raciocínio teve uma lógica bem aceitável e desenhada, pois a “porrada” para resolver tudo sempre existiu.