Se houve um assunto que ganhou 2015 de cabo a rabo no que se refere ao mercado de games, esse tema está ligado à Konami, a desenvolvedora dos famosos games Pro Evolution Soccer e Metal Gear Solid, entre outros títulos. Com mais de três décadas no mercado de videogames (Scramble, seu primeiro arcade, data de 1981), a empresa manteve-se relevante no mercado de jogos digitais e no coração dos fãs, como berço da saga de Solid Snake. Mas 2015 ficará marcado como o ano em que a empresa manchou sua história.
Os problemas começaram já em março, senão antes, quando o desenvolvedor da série Momotaro Dentetsu, Akira Sakuma, tuitou que a empresa havia acabado com quaisquer possibilidades de continuidade do jogo. Embora não seja um título de destaque no ocidente, o game produzido pelo estúdio Hudson Soft desde 1988 – muito antes da aquisição pela Konami, em 2012 – vendeu dezenas de milhares de cópias no Japão. "A Konami não está entrando em contato comigo. É assim que eles estão me jogando para escanteio, no momento. Eu estou anunciando aqui que Momotaro Dentetsu está oficialmente acabado", escreveu, sem meias palavras, segundo artigo do site Destructoid. O ano ainda estava só começando.
No mesmo mês, a empresa se via às voltas com boatos da saída de Kojima, mesmo antes do término do episódio final de MGS, um dos mais aguardados games do ano. "Uma fonte interna, em entrevistas à imprensa, disse que a saída de Hideo Kojima estaria confirmada para dezembro de 2015, quando seu contrato não seria renovado. O japonês participaria da divulgação de Phantom Pain e depois se retiraria da empresa", explicou o texto de Pedro Zambarda, no começo de abril.
Em maio, já em meio a rumores destes e outros problemas, o CEO Hideki Hayakawa voltava a abalar o mercado e a confiança dos jogadores, declarando tacitamente que a empresa passava a mudar seu foco, deixando os consoles em segundo plano. Em entrevista ao Nikkei Trendy Net, Hayakawa afirmou que "nossa principal plataforma serão os mobiles". "Vamos focar de forma agressiva os jogos para celular", enfatizou. De acordo com a transcrição realizada por um internauta do fórum NeoGaf, Hayakawa observou ainda que "Os games se espalharam por uma série de plataformas, mas no final das contas, a plataforma sempre mais próxima de nós é o mobile. Os dispositivos móveis são onde o futuro dos jogos se encontra", finalizou. Tais afirmações já serviriam para deixar os jogadores tradicionais apreensivos, mas aparentemente os problemas mal se iniciavam.
Com tensão do período, a desenvolvedora chegou a negar a saída de Kojima no início de outubro, que se confirmou efetivamente em meados do mesmo mês, para desespero dos fãs da franquia de Snake. Silent Hills, outra grande promessa do estúdio, fruto de parceria entre Hideo Kojima e Guillermo del Toro, também foi cancelado e tornou-se uma triste lembrança para os entusiastas do gênero de terror.
Após um período menos controverso, com o lançamento de Phanton Pain, o último game de Kojami à frente de Metal Gear Solid, a empresa colheu as boas avaliações e críticas sem demonstrar desejo em partilhar as honras com seu idealizador. A saga foi eleita o melhor game de todos os tempos para PlayStation e, mais tarde, o derradeiro episódio da série sagrou-se vencedor do The Game Awards 2015 nas categorias melhor jogo de ação e aventura e melhor trilha sonora. De acordo com o apresentador da premiação da Sony, Geoff Keighley, Kojima não obteve permissão para comparecer ao evento em razão do comunicado taxativo de um advogado da Konami: estando sob contrato, o diretor não poderia viajar, desobedecendo a produtora. "É desapontador e inconcebível para mim que um artista como Hideo não possa celebrar com seus colegas", afirmou o apresentador ao vivo, durante o evento.
Foi o que faltava para jogadores e profissionais de todo o mundo se manifestarem contra o comportamento opressor da empresa. "Meu bom Deus, a Konami com certeza f**** de vez este ano. Não que eles não tivessem estragado tudo nos últimos anos, mas os caras mandaram o ônibus totalmente para o penhasco em 2015", escreveu Kirk Hamilton, para o Kotaku. "Deixar o mercado de consoles domésticos talvez seja o plano de gestão, mas sair de sua trilha para fazer inimigos com o mundo não tem sentido", comentou Yoichi Wada, ex-chefão da Square Enix. Vince Zampella, fundador do estúdio Infinity Ward, não escondeu a decepção, proferindo um "que vergonha Konami" e Sebastien Viard, diretor técnico de Far Cry, resumiu a atitude da empresa em uma única palavra: "desprezível".
Certamente, nada disso deve abalar as finanças da empresa, considerando sua guinada para o mercado de celulares e o sucesso já alcançado por marcas como o game esportivo PES e Metal Gear (que segue sem o diretor, agora), mas é um triste legado para uma produtora que já foi vista como um dos mais criativos laboratórios de jogos nas últimas décadas. Talvez, passado o imbroglio e as incertezas de 2015, a empresa encontre seu rumo e o caminho para o respeito mútuo no futuro.
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