No último dia 26 de setembro, em tom de comemoração, o perfil com mensagens em inglês do designer de games Hideo Kojima no Twitter anunciou de maneira triunfal a finalização do game Death Stranding. O jogo tem lançamento mundial marcado para 8 de novembro.
Numa foto com cerca de 100 desenvolvedores, Kojima agradeceu às parcerias que firmou com a Sony (desde o início) e com a Guerrilla Games (de Horizon Zero Dawn).
O trabalho durou três anos e nove meses com um elenco digno de Hollywood, incluindo nomes como Norman Reedus (Sam) e Mads Mikkelsen (Cliff).
Mas isso é apenas a superfície do trabalho. Quem esteve conectado nas redes sociais do desenvolvedor japonês, acompanhou um verdadeiro Big Brother de sua própria vida. Foi um reality show do retorno às suas referências com muita, mas muita mesmo, nostalgia.
Início conturbado e as memórias
Kojima transformou suas contas no Twitter e no Instagram em basicamente um diário de bordo desde sua saída turbulenta da Konami. Autor de jogos que quebraram a barreira de sete milhões de cópias nas vendas, ele passou o desenvolvimento de Metal Gear Solid V lidando com prazos e metas exigentes de sua antiga empresa. Funcionário desde 87, o trabalho em MGSV: The Phantom Pain resultou num game dividido entre dois continentes num mundo aberto e com muitas lacunas para terminar a história de Big Boss/Venom Snake.
Recém-saído da Konami, o designer fez uma espécie de detox. Usou o Instagram quase que diariamente para postar músicas que estava ouvindo no Spotify, filmes que estava assistindo no cinema e o complexo trabalho de captura de movimentos envolvendo os atores Norman Reedus e Mad Mikkelsen – que depois foram acompanhados por um elenco maior.
Dos dois, aliás, Reedus já estava trabalhando com Kojima num projeto abortado pela Konami para fazer Silent Hills. A iniciativa tinha participação de Guillermo Del Toro e prometia. Acabaram todos transferidos para Death Stranding.
Com a Kojima Productions estabelecida, Hideo Kojima fechou uma grande parceria com a Sony e passou a rodar o mundo. Visitou o Brasil durante a BGS 2017 e entrou em diversos outros estúdios, visitando a Finlândia, a Islândia e outras regiões da Europa. Conversou com Cory Barlog durante o desenvolvimento de God of War e até com a Remedy (que lançou Control neste ano). Até o Keanu Reeves (que ele queria convidar pra DS) participou dos papos.
Ao aceitar a entrada de Yoji Shinkawa na arte de Death Stranding, o mesmo, quando tinha apenas 18 anos, trabalhou com ele em Metal Gear Solid, Kojima de uma certa forma tirou o mistério em torno do jogo e passou a estabelecer ligações com seus trabalhos anteriores. Havia um toque de stealth ali, mas com uma preocupação maior em falar sobre futurismo, a conexão das pessoas na internet e como a humanidade vai caminhar adiante.
Isso deu pano pra muitas teorias de fãs que apontavam que DS poderia ser mais um Metal Gear Solid. O próprio Phantom Pain, antes de seu lançamento, foi mostrado com um game da Moby Dick Studios – escondendo o trabalho de Kojima.
Discurso problemático
Como Shigeru Miyamoto e pouquíssimos nomes na indústria de games, Kojima é lembrado como uma referência quase unânime de desenvolvedor adorado pelos jogadores. Esse endeusamento dele e o processo de exposição do seu cotidiano na confecção de Death Stranding potencializou a divulgação do próprio jogo antes mesmo que seus consumidores entendessem o enredo ou a gameplay ou qualquer outro aspecto mais simples e aparente.
E também ficou exposto no Twitter, pra quem quisesse ver, um discurso bastante problemático da boca do próprio Kojima.
No dia 12 de setembro, ele postou detalhes sobre a criação do seu próprio estúdio falando sobre “ser independente”. No dia 22 do mesmo mês, ele publicou o seguinte:
“Um jogo de Hideo Kojima significa afirmar que sou eu que estou fazendo o conceito, a produção, história original, roteiro, cenário, design de jogos, elenco, negociação, direção, ajustes de dificuldade, promoção, design visual, edição, supervisão do mercado”.
Ok. E os outros 100 funcionários que também trabalharam no jogo?
Um ótimo texto em inglês de Brian Ashcraft no Kotaku, entretanto, aponta que há exageros de expressão na conta de Twitter em inglês de Hideo Kojima. No primeiro caso, o desenvolvedor queria falar mais sobre como foi desafiador o começo de sua própria empresa e como agora ela é capaz de fazer uma superprodução. No segundo caso, Kojima estava comparando seu nome ao selo de um diretor de cinema, como Quentin Tarantino, atribuindo para si a responsabilidade em torno das decisões tomadas em Death Stranding.
Mas não tirando mérito de quem fez o trabalho de fato.
Mesmo com essas considerações, é muito claro que existe uma egotrip no desenvolvimento deste título.
Entre mortos e feridos
Mesmo com muita nebulosidade e excesso de informações em torno de DS, uma grande produção estará disponível para os jogadores a partir de 8 novembro. É difícil acreditar que um projeto com a qualidade de pessoas envolvidas como essas se perca.
No entanto, é de esperar algo além do Big Brother promovido por Hideo Kojima nas redes sociais.
Vamos torcer para dia 8 chegar uma produção que faça, de fato, o jogador repensar universos de mundo aberto e relações humanas conectadas e as desconectadas.
E espero mesmo que Kojima faça sua crítica ao presidente Donald Trump e aos líderes mundiais que pensam em construir muros em pleno 2019.
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