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OPINIÃO: Não, a Steam Machine não vai substituir o Xbox (ainda)

Ontem a Valve surpreendeu o mundo com o anúncio de uma nova versão da Steam Machine: um PC Gamer compacto e que promete ser tão simples de usar quanto um console caseiro tradicional. E desde ontem, muita gente já está cantando a bola nas redes sociais de que a empresa está pronta para roubar o espaço do Xbox no mercado de consoles. O que definitivamente não é o caso (ainda).

Essa nova versão da Steam Machine – que está sendo carinhosamente apelidada de “Gabecube” – vai ser um flop igual foi a primeira tentativa da empresa de entrar neste mercado? Eu duvido. Primeiro, porque a Valve já vem de um histórico recente de sucesso com o Steam Deck, que garantiu sua fatia de mercado e faz com que a nova Steam Machine chegue não como uma novidade desconhecida, mas como a nova interação de algo que o público já conhece e sabe da qualidade.

Segundo, a empresa parece ter aprendido com os erros de lançamento da primeira Steam Machine e aprendido com eles. O público de consoles não quer algo altamente customizável como era a primeira versão do console da Valve – quem quer customização no talo já vai comprar um PC gamer direto. Público de console quer um negócio simples, um negócio que ele sabe que é só comprar, instalar na TV e colocar um jogo pra rodar. Ele não quer ficar checando compatibilidade de placa ou ficar configurando as opções de vídeo para aumentar as taxas de frame por segundo. Esse público quer só abrir um jogo e jogar.

E essa segunda vida da Steam Machine é exatamente isso: uma máquina de especificações “travadas”, que você vai ter que escolher apenas o tamanho do HD que vai querer e pronto. E o mais importante: que cabe em qualquer nicho de rack ou estante. Enquanto o primeiro console da Valve era quase que um trabalho de pesquisa acadêmica para entender os fabricantes, especificações de máquina e onde comprar, a nova Steam Machine é um pczinho gamer que vai ter poder suficiente pra rodar qualquer lançamento recente e você não precisa configurar nada, e que você poder comprar direto do próprio site da Steam.

O mais interessante é que a Valve está mostrando ao mundo algo que, até então, era uma promessa da Microsoft: um PC gamer de estante que funciona como um console e tem acesso a várias lojas de jogos. Como a Steam Machine roda na SteamOS (que é baseado no Linux), a gente já sabe que isso vai ser uma realidade no console. Provavelmente ele virá só com a Steam instalada de fábrica, mas a Valve já confirmou que nada te impede de instalar outros programas no console – inclusive outras lojas como Epic Games Store, GoG e até a própria Xbox Store. E isso não é uma promessa vaga de algo que vamos ver daqui uns 3 ou 4 anos – é a confirmação de algo que já estará nas lojas ano que vem.

Mas isso quer dizer que a Microsoft já perdeu essa briga e a Steam Machine vai dominar esse mercado? Dificilmente. Porque existe algo muito importante que a Valve não tem: uma estrutura de fabricação em larga escala e distribuição mundial.

Pra se ter uma ideia, um relatório da IDC (international Data Corporation) estima que o Steam Deck vendeu entre 3,7 e 4 milhões de unidades desde o lançamento em 2023. Enquanto isso, as mesmas análises de mercado apontam que o Xbox Series X vendeu esta mesmo quantidade de aparelhos apenas em 2020 (ou seja, em apenas dois meses, já que o console foi lançado em novembro daquele ano).

Então, ainda que a Valve tenha conseguido desenvolver toda a tecnologia para talvez emplacar o primeiro PC Gamer “de estante” do mercado, a Steam Machine dificilmente vai se tornar uma ameaça real à Sony e Microsoft no mercado de consoles devido à falta de estrutura da empresa para distribuir suas máquinas em larga escala. E isso foi confirmado pela própria Valve, que já avisou que a Steam Machine será vendida apenas nos mesmos mercados que ela lançou o Steam Deck.

Isso quer dizer que só será possivel comprar uma Steam Machine oficialmente nos EUA, Canadá, Austrália, Reino Unido, países da União Europeia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong. Ou seja, apesar de estar presente em diversos mercados importantes, ela continuará não vendendo em alguns bastante expressivos, como Brasil, Índia, Rússia e China. E considerando que o valor de mercado da Valve está estipulado em cerca de US$16 bilhões (o que significa que, apesar de ter a maior loja de jogos digitais do mundo, ela tem mais ou menos o mesmo poder aquisitivo da Bandai Namco, bem abaixo de empresas como Nintendo, Sony e Microsoft), ampliar essa estrutura de fabricação e distribuição não será uma tarefa fácil.

Por isso, é necessário botar um freio na empolgação. Sim, essa nova Steam Machine é uma tecnologia incrível e que pode ser o primeiro passo da evolução do mercado de consoles caseiros. Mas dificilmente será uma revolução em si pela incapacidade da Valve de disponibilizar esse console em grandes quantidades para o mundo todo.

Claro, ela terá aí pelo menos uns 3 ou 4 anos para se estruturar melhor, ampliar essa distribuição e pensar em competir de igual para igual com as gigantes do mercado. Mas não se espante se o novo Xbox sair daqui quatro anos, for uma versão apenas ligeiramente melhor da atual Steam Machine e vender em três meses a mesma quantidade de máquina que a Valve vendeu em três anos. Porque, quando a gente fala de mercado mundial, a capacidade de produção, distribuição e marketing é sempre mais importante do que a qualidade em si na hora de definir os produtos que serão abraçados pelo público.

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Rafael Silva

Rafael Silva é jornalista formado desde 2017. Cresceu lendo revistinhas de videogame, entrou numa "nóia" quando percebeu que o “jornagames” ainda era feito para adolescentes que só tinham interesse de discutir qual console era melhor, e agora está numa missão de vingança para resolver isso com as próprias mãos.

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