Por Pedro Zambarda, editor-chefe, com reportagem de Diadema.
O Drops de Jogos cobre a PerifaCon desde seu início, em 2019, com reportagens do ex-editor Kao Tokio. O problema é que, apesar de já ter entrevistado sua fundadora, Andreza Delgado, eu nunca havia colado no evento. E a primeira impressão da PerifaCon, como qualquer coisa boa, é a que fica.
O fato de eu não ter ido no evento mostra um problema gravíssimo: Classe média, eu sabia da importância da PerifaCon, mas não tinha colado no encontro que realmente vai apontar as mudanças na cena brasileira de games. Desculpem-me a sinceridade, mas esses encontros estão com ingressos cada vez mais caros e espaços cada vez mais elitizados.
Uma boa feira de games hoje faz você gastar algumas dezenas de reais para ter a experiência completa – a menos que você seja convidado VIP ou a imprensa. Se você quiser aproveitar tudo, fora compras dentro do evento, mais de mil reais é fácil de sair da sua carteira.
A PerifaCon não tem nada disso. É de graça para entrar. E com responsabilidade: A Fábrica de Cultura de Diadema foi preparada pela organização para ter monitores orientando filas e fiscalizando as entradas. As salas foram equipadas com ar condicionado e vimos a biblioteca dela ser invadida por computadores de jogos indie brasileiros. Um cômodo que lotou.
Entre as palestras, algumas inesquecíveis: O ministro Silvio Almeida, diante do rapper Rashid e do quadrinista Marcelo D’Salete, anunciou que o governo Lula terá um edital nerd pela defesa dos Direitos Humanos. Os YouTubers Gustavo Gaiofato, OraThiago, EnfimKarol, Tiago Santinelli e a própria fundadora Andreza Delgado falaram sobre como tudo é política na cultura pop, gente de peso e de seguidores. O evento também trouxe os cinco primeiros minutos da série Cidade de Deus: A Luta Não Para, baseada no filme de 22 anos atrás que impactou o Brasil como um todo.
Andreza Delgado também entrevistou os atores hollywoodianos Ryan Reynolds e Hugh Jackman, do filme Deadpool & Wolverine. O meu resumo não dá conta de todas as coisas que estavam na PerifaCon 2024.
E além dos cosplays maravilhosos de Spider-Man e tudo o que você imaginar na cultura pop, a Rede Progressista de Games, parceira deste Drops de Jogos, foi convidada para dar mentorias aos desenvolvedores de jogos indie que se inscreveram no evento.
Érika Caramello, da Dyxel Gaming, tratou de questões de negócios e marketing dos jogos. Marco Nepomuceno e Horácio Corral abordaram questões de localização, narratividade e enredo desses games. Breno Rodrigues, trabalhou em Ruff Ghanor com o Jovem Nerd, trouxe sua experiência como producer. E este, que vos escreve, deu seus pitacos sobre comunicação.
A alimentação saiu por um valor entre R$ 20 e R$ 30 por dia, algo que destoa muito do buffet de R$ 90 da Gamescom Latam, pensando sempre na inclusão dos periféricos na PerifaCon. O Artist’s Alley trouxe nomes consagrados, quadrinistas políticos e até comunistas da Soberana.
Érika Caramello, da Dyxel, e Rafael Braga, da Subsolo Games, ainda fizeram uma palestra sobre os primeiros passos na cena brasileira de games, quebrando mitos como o “GTA brasileiro” – que muitos devs querem e que não tem as condições de um mercado como o dos EUA. A mediação da conversa foi realizada por Juh Oliveira, que trabalhou em eventos como a Game Jam Plus.
Lucas Toso, social media do podcast Desce a Letra Show e do Controles Voadores, também palestrou com Marcos Silva (AfroGames e Sue the Real), Livia Scienza e Melina Yuuki Juraski sobre Joguinhos Brasileiros, Gostoso Demais – tema da camiseta do Toso. Num painel patrocinado pela Seven Boys.
Aliás, importante notar as marcas de peso patrocinando a PerifaCon: Google, Neon, Transpetro (da Petrobras), Sebrae, Warner e Garena. Mas importante leis de incentivos ajudaram o evento a acontecer, como Proac (estado de São Paulo) e Lei Rouanet (governo federal).
Se há uma revolução possível no meio nerd e geek, infestado de extrema direita e bolsonarismo, ele está na PerifaCon, que deveria acontecer em todos os estados do Brasil, nas suas principais cidades.
Conectando as periferias, salvando a vida de jovens e mudando de vez a cara dessa sociedade, que não é branca e nem de classe média. Muito menos de elite.
O povo brasileiro é em sua maioria preto, é pardo e precisa enterrar de vez suas desigualdades sociais.
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