Yves Guillemot, CEO da Ubisoft (Créditos: Divulgação/Ubisoft)
A Ubisoft está mesmo vivendo um inferno de sua própria criação: depois de anos de problemas envolvendo denúncias de assédio sexual, ambientes de trabalhos tóxicos, flop atrás de flop e a sensação de que o futuro da empresa depende de um jogo que já teve o lançamento adiado duas vezes e que parte do público já decidiu odiar sem nem jogar, agora a empresa também precisa se preocupar com protestos de investidores.
De acordo com a IGN, o CEO da AJ Investimentos, Juraj Krúpa, está planejando um protesto em frente à sede da Ubisoft em Paris. Krúpa é um investidor minoritário da desenvolvedora de jogos, e está organizando o protesto como resposta ao que ele chama de “má administração” da Ubisoft.
Entre os motivos que ele citou como prova de uma má gestão estão:
Para Krúpa, todas essas ações são benéficas apenas para os grandes grupos de investimentos que possuem dinheiro na Ubisoft, como o Credit Agricole, Goldman Sachs e Morgan Stanley. Investidores menores como ele acabam sendo prejudicados por essas decisões, pois não possuem recursos grandes o suficiente para ajustar suas posições em cima da hora e sem o planejamento adequado.
Por isso, Krúpa está tentando organizar todos os investidores que também estão sofrendo com a estagnação da diretoria da Ubisoft a protestar na frente da sede da empresa, em Paris, no mês de maio. A data um tanto distante seria para dar a chance da empresa tomar decisões que sejam do interesse desses investidores, o que faria com que o protesto fosse cancelado.
Pessoalmente, eu acho toda essa história hilária e, ao mesmo tempo, triste demais. Hilária porque só a ideia de investidores organizando um “protesto”. Protestos, greves e piquetes historicamente sempre foram a ferramenta da classe trabalhadora – as pessoas cuja única forma de fazer suas vontades serem ouvidas eram recusando oferecer sua força de trabalho e atrapalhando as atividades de produção dos patrões.
Não importa se você era um protestante de “esquerda” ou de “direita”: se você era um trabalhador, essa é a única forma de ter suas necessidades ouvidas. Diferente dos investidores, que sempre tinham lugar cativo na mesa de negociações porque eram eles que tinham o dinheiro. E, como já disse Don Draper:
Então a simples ideia de um protesto organizado por investidores já é em si hilária. E fica ainda mais engraçado quando percebemos que esses investidores transformam este protesto em uma moeda de troca. “Olha, a gente não quer protestar, então você tem dois meses pra deixar a gente feliz. Mas se você não fizer isso a gente vai, tá?” Pra quem está querendo botar “medo” na diretoria da Ubisoft, essa atitude totalmente pelega e “pau-mole” só torna tudo ainda mais engraçado.
Mas, ao mesmo tempo, essa história também me deixa triste. Triste porque ela mostra que estamos num momento do capitalismo em que até as pessoas que têm dinheiro estão sujeitas a um sistema classista que as exclui de certos locais.
Primeiro, é preciso entender que ninguém cria uma firma de investimentos com o saque do FGTS e um sonho. É claro que Juraj Krúpa é um cara endinheirado. Mas em um cenário onde bancos e grandes firmas de investimentos tem valores de mercado maiores que o PIB de muitos países, ele é “peixe pequeno”. Mesmo que possivelmente tenha grana o suficiente para nunca mais precisar trabalhar na vida se assim quiser.
E aí a gente olha para a natureza da reclamação dele, onde boa parte delas não é necessariamente sobre as decisões em si, mas sobre a Ubisoft não ser transparente com todos os seus investidores. Ele dá a entender que não é que nenhum investidor sabia das conversas sobre a venda da empresa, mas que os investidores minoritários não sabiam.
De certa forma, os efeitos do nosso momento de capitalismo tardio pesam ainda mais em alguém como Krúpa: eu, que sou um zé ninguém, mero trabalhador/consumidor, já estou acostumado a ter meus anseios ignorados pelo mercado. Mas ele pagou para conseguir um lugar na mesa, e mesmo assim é ignorado do mesmo jeito porque existem aqueles que pagaram muito mais.
E, nessa disputa, quem perde somos nós, o público consumidor. Porque a gente sabe bem o que agrada acionista: é projeto NFT, é enfiar microtransação em tudo, é falar que vai usar IA generativa no jogo mesmo sem saber exatamente como isso vai funcionar, ou se o resultado será melhor do que aquilo que já existe.
E enquanto os caras protestam pelo fato de nós não estarmos sendo ferrados o suficiente, o nosso único protesto aqui é sobre a cor de pele de uma figura histórica.
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