Amores Materialistas é uma história de amor de nossos tempos - Drops de Jogos

Amores Materialistas é uma história de amor de nossos tempos

Em Amores Materialistas, a diretora Celine Song conta uma história de amor que critica o cinismo das relações por apps e do “amor Disney”.

(Imagem: divulgação)

[Atenção: este texto pode conter alguns spoilers sobre o filme Amores Materialistas]

Uma coisa que só quem me conhece muito bem sabe: eu amo bons filmes românticos tanto quanto amo filmes de ação. Tanto que do top 5 de filmes que já vi na vida, três deles são romances: Moulin Rouge, Alta Fidelidade Nasce Uma Estrela.Amores Materialistas tem a chance de ser o quarto a entrar nessa lista nos próximos anos.

A trama em si não tem nada de mais, e é o clássico “triângulo amoroso” entre uma mocinha bonita com cara de sonsa (Dakota Johnson) e dois mocinhos bonitos mas muito diferentes entre si (Pedro Pascal e Chris Evans). Mas a história de Celine Song se sobressai de todas as outras histórias do tipo por seu conteúdo.

Apesar da cara de sonsa, a personagem de Dakota Johnson é bem diferente da típica mocinha sonhadora e que só que sonha em achar o par ideal para casar e viver felizes para sempre. Ela sabe que é desejada pelos homens e, por isso, sabe bem o que quer: um cara bonito e rico – de preferência muito rico.

A protagonista tem todas aquelas características que, em outras comédias românticas, a tornariam uma vilã: é ambiciosa, “superficial”, e enxerga relacionamentos como contratos e transações que precisam ser feitas para elevar o status de uma pessoa. Ela é alguém que já encontrou a “pessoa ideal” – no sentido de ser a pessoa que ela sabe que pode contar e com quem ela sabe que quer que esteja ao lado dela – mas que não era ideal. Num português mais claro, era pobre.

Assim, Amores Materialistas conta a história dessa moça descobrindo que aquilo que ela quer não necessariamente é aquilo que ela precisa. Mas também que você não precisa – e nem deve – jogar tudo pro alto por causa do amor, porque algumas necessidades são reais demais para serem supridas apenas por um sentimento.

E é justamente por isso que o filme é talvez um dos melhores romances já feitos nos últimos anos. Sim, ele é uma crítica do capitalismo – principalmente da formo como ele transformou a todos nós em produtos. A personagem de Dakota fala sobre formar casamentos da mesmo forma que eu já vi diversos diretores de marketing falar sobre as próximas campanhas da empresa: é tudo uma questão de encontrar seu nicho, adaptar sua mensagem e encontrar o cliente certo para o seu produto.

Mas além da crítica ao capitalismo, Amores Materialistas também pode ser visto como uma crítica às duas abordagens mais comuns do conceito de amor. Afinal, o filme critica muito a natureza transacional e extremamente superficial das relações baseadas nos apps de encontros, mas também critica com a mesma ferocidade o conceito de “amor Disney”, onde toda mulher é uma princesa à procura de seu príncipe encantado e que apenas o amor irá resolver todos os problemas do mundo.

Qualquer pessoa que já teve um relacionamento sério de verdade sabe que ainda que o amor ajude a superar muita coisa, não é só ele que vai resolver coisas como fome ou a sensação de falta de dignidade. E, neste sentido, o longa de Celine Song faz parte do seleto grupo de filmes que abordam o amor de maneira romântica mas não ingênua.

Amores Materialistas não é um filme romântico padrão, mas é bastante real. E mostra que, mesmo em um mundo onde as opções que existem parecem ser apenas “aceitar ser uma mercadoria” ou “viver uma fantasia irreal”, ainda é possível conseguir um relacionamento de verdade se você conseguir saber o que você realmente precisa e o que é possível deixar de lado. Porque o relacionamento perfeito não é gabaritar um checklist, mas ter duas pessoas que gostam tanto uma da outra que se esforçam para deixar parte de si mesmas de lado a fim de tornar o fardo da vida mais leve para ambas.

*Amores Materialistas pode ser encontrado no catálogo da HBO MAX

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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