Por Pedro Zambarda, editor-chefe.

O diretor alemão de Asas do Desejo, o filme bom que deu origem ao filme ruim Cidade dos Anjos, muito mamão com açúcar, não entrega menos em Paris Texas, de 1984. Por trás de uma travessia no deserto de um homem que procura tudo, menos a capital da França, há um retrato do machismo, do vazio e da solidão.
O filme estrou em 25 de setembro de 2025 nos cinemas brasileiros em uma versão restaurada em 4K com distribuição da O2 Play. Eu fui ver no Instituto Moreira Salles, o IMS, na Paulista.
A estreia mundial da versão aconteceu em Cannes 2024, como parte da mostra Cannes Classics. Nos anos 80, o longa recebeu uma série de prêmios internacionais, incluindo a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1984.
Segundo a Rolling Stone Brasil, a restauração digital do filme foi realizada em 2024. O negativo original de 35 mm foi digitalizado em 4K no L’Immagine Ritrovata, em Bolonha, com apoio financeiro do CNC. A restauração e a correção de cores ocorreram na Basis Berlin Postproduktion, com o apoio da Chanel e do German Film Heritage Funding Program (FFE).
A sinopse da produção entrega muito pouco: O filme conta a história de Travis (Harry Dean Stanton, Lucky), um homem que é encontrado exausto e sem memória em um deserto no Texas, após quatro anos desaparecido. Aos poucos, ele começa a se recordar de sua vida e é acolhido pelo irmão Walt (Dean Stanton), que vive com sua esposa Anne (Aurore Clément). Eles também cuidam de Hunter (Hunter Carson, Invasores de Marte), o filho de Travis, que gradualmente vai se reconectando com o pai. À medida que Travis e Hunter reconstroem seu relacionamento e desenvolvem uma forte amizade, o homem saí em busca de sua ex-esposa Jane (Nastassja Kinski, Tess).
A jornada de Travis, um homem machucado por um passado que ele diz não lembrar, na verdade é marcado por erros profundos e um remorso que não é representado por uma atuação dramática. Quem assiste, contempla por exemplo a tensão sexual que ele tem até por Anne, a mulher do irmão Walt, a busca por Jane e as mudanças de relacionamento com a criança que ele leva em sua viagem de carro pelo Texas. “Sempre teremos Paris”, diria Rick Blaine no final de Casablanca.
Mas a Paris Texas de Travis é o deserto do masculino e do abandono, cercado por pessoas machucadas. Não há reconexão, não tem recomeço e há uma beleza na melancolia dessa jornada. Algo que Wim Wenders, o diretor, sempre pregou em seus filmes.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
