[Atenção: este texto pode conter alguns spoilers sobre a série Pacificador]
O mundo está cheio de séries e projetos que tem tudo para ser incríveis e acabam deixando a “peteca cair” justamente na hora de finalizar as coisas. Infelizmente, a segunda temporada de Pacificador é exatamente assim. O problema é que ela nem tenta trazer um desfecho.
De modo geral, eu acho que a segunda temporada da série levanta uma narrativa que tinha tudo para ser incrível. Nos encontramos personagens que acabaram de salvar o mundo, e tudo o que receberam em troca foi “comer merda”. para Chris – o Pacificador do título – a recompensa por salvar o mundo de uma invasão nazista é ser visto como uma grande piada entre os outros heróis. Para os amigos dele da Argus, a recompensa por revelar os esquemas de corrupção envolvendo a agência é perder o emprego e não conseguir mais trabalhar nunca mais no ramo da espionagem.
E a gente não precisa ir longe para traçar paralelos reais. Isso é exatamente o que aconteceu com Snowden: o cara desvendou toda uma conspiração do governo dos EUA ignorar barreiras diplomáticas e usar a internet para vigiar cidadãos de todo o mundo, e o “prêmio” por revelar esse absurdo é ter que viver escondido e isolado para não ser preso.
Em seus primeiros sete capítulos, a segunda temporada de Pacificador cria um cenário extremamente interessante: temos um herói desesperançoso, sem perspectiva de futuro, que encontra um “outro mundo” onde o pai e irmão dele estão vivos e constituem uma família amorosa, e a “crush” dele é toda apaixonada e faria de tudo por ele. E essa pessoa se vê tão “cega” por conseguir o afeto que sempre desejou que ignora todos os sinais bem claros de que esse “mundo perfeito” é dominado por nazistas.
E aí tudo é jogado no lixo no último episódio.
Ao invés de fechar todos os arcos de histórias abertos nos sete episódios anteriores, o episódio final de Pacificador é um “piloto escondido” de uma nova série que abusa tanto dos “tiques” de James Gunn que se torna insuportável. Inclusive com quase dez minutos do episódio sendo dedicados a mostrar shows de bandas de hair metal que ninguém se importa (e olha que eu amo Nelson e fiquei feliz que eles apareceram no episódio, mas nem eu tava esperando os caras tocarem uma música inteira num cruzeiro como parte do série).
No fim, todo o arco evolutivo do Pacificador serviu apenas para uma desculpa para Gunn introduzir os personagens que irão compor a Checkmate, um grupo de espiões dos quadrinhos da DC que provavelmente irão ganhar uma série própria. Ao longo das duas temporadas da série, Chris evoluiu de um patriota criado por um nazista que obedecia ordens sem se perguntar o porquê delas existirem, se transformou em alguém que ainda faz merda mas está consciente de seus defeitos e quer melhorar, para alguém em depressão por achar que é o responsável pela morte de todos aqueles a quem ele ama para…ser jogado numa outra dimensão onde poderá ficar abandonado para sempre caso John Cena e a Warner não consigam chegar a um acordo sobre um novo contrato?
Esta segunda temporada de Pacificador condensou em oito capítulos aquele mesmo sentimento que quem acompanhou as oito temporadas de Game of Thrones sabe muito bem qual é: o de ver algo muito promissor ser jogado na vala porque a ideia de “final épico” dos criadores ou ignora tudo aquilo que foi desenvolvido nos episódios (ou temporadas) anteriores, ou apressa de forma abrupta coisas que se encaminhavam para aquele desfecho mas precisariam de mais tempo para ser desenvolvidas.
Ao longo dos primeiros sete episódios, a segunda temporada de Pacificador era mais uma prova do porquê colocar todo o universo DC nas mãos de James Gunn era uma ótima ideia. A série era mais um projeto que não tinha medo de ter ideias próprias e usar o conceito de “multiverso” (algo que já tá ficando chatão de tanto que é abordado por tudo quanto é lugar) para contar histórias intimistas e que não sejam apenas sobre “o fim do mundo”.
E toda essa positividade é jogada no lixo em apenas um episódio. E para que? Para criar um “piloto” de uma série que está fadada a ninguém se importar de tão ruim que foi essa introdução para a criação dela.
E de mais uma comprovação de que a DC está em mãos seguras, Pacificador se tornou a primeira “mancha” no currículo de James Gunn como showrunner, e cria algo que até então só existia na cabeça das viúvas de Snyder: a dúvida de se o diretor é mesmo a melhor escolha para decidir sozinho todo o futuro da DC na TV e nos cinemas.
*O Pacificador pode ser encontrado no catálogo da HBO MAX
Veja nossa campanha de financiamento coletivo, nosso crowdfunding.
Conheça os canais do Drops de Jogos no YouTube, no Facebook, na Twitch, no TikTok e no Instagram.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

