Resenhas

Pluribus é um lançamento incrível sob qualquer ponto de vista

[Atenção: este texto pode conter alguns spoilers sobre os dois primeiros episódios da série Pluribus]

Se você é fã de ficção científica provavelmente já estava atento para a estreia de Pluribus. A nova série de Vince Gilligam (Breaking Bad, Better Call Saul) marca o retorno do diretor/roteirista/showrunner para a cidade de Albuquerque, mas dessa vez com uma história que está mais próxima de seus primeiros trabalhos na série Arquivo X do que com os dramas sobre crime que o tornaram um dos principais nomes da TV.

A série fala de uma “invasão” da Terra de modo diferente: uma sequência de RNA alienígena é descoberta, replicada em laboratório e acaba infectando quase toda a população mundial, que passa a viver como uma “legião”: todas as pessoas compartilham o mesmo conhecimento, habilidades, memórias e perdem totalmente as noções de individualidade. O mundo se torna um imenso ser coletivo único onde cada pessoa é apenas um membro desse ser.

Apenas 12 pessoas no mundo todo ficaram imunes a essa “invasão”, e elas são tratadas como reis pela entidade coletiva, que atende a todos os desejos que esses indivíduos possuem. E apenas uma delas – a protagonista Carol (interpretada pela incrível Rhea Seehorn) – perceber o quão merda toda essa situação é.

Uma das interpretações possíveis é de que Pluribus traz uma alegoria da epidemia de COVID – e de uma forma que pode ser entendida de forma diferente dependendo de qual o seu lado do espectro político. Pessoas mais à esquerda podem enxergar a invasão como um reflexo do conceito de “imunidade de rebanho” que foi defendido por muitas pessoas que não gostam muito de ciência. Assim como na invasão por RNA da série muita gente morreu para que a consciência coletiva fosse criada, isto pode ser um reflexo do conceito de se deixar todo mundo contrair a doença – matando milhões de pessoas no mundo – para que os sobreviventes pudessem viver uma “vida normal” – e a protagonista Carol como um reflexo das pessoas sensatas que achavam essa ideia um absurdo. Já pessoas (bem mais) à direita podem enxergar essa invasão como a campanha de vacinação da COVID: um monte de gente complacente após receber uma vacina que “ninguém sabe o que tinha dentro”, enquanto Carol é um exemplo de pessoa que não se deixou ser quebrada pelo sistema e manteve sua individualidade.

Uma outra forma de interpretar a invasão é através do prisma das inteligências artificiais. Afinal, o ser coletivo é muito parecido com uma IA generativa: ele é uma coleção de todo o conhecimento acumulado da humanidade e que promete estar ali apenas para ajudar a nos tornar pessoas melhores. Mas isso é feito de uma forma que elimina as individualidades e abafa qualquer fagulha criativa em se criar algo realmente novo – e não apenas uma replicação daquilo que já existe. Neste contexto, a recusa de Carol de se “curvar” para a facilidade de ter “todo o conhecimento do mundo” à sua disposição pode ser lida como uma ativismo anti-IA que enxerga essa facilidade prometida pela tecnologia como a morte daquilo que inerentemente nos torna humanos.

Ainda é possível interpretar a invasão de Pluribus sob o olhar religioso. Afinal, o objetivo da invasão é acabar com a violência e a opressão, criando paz e alegria constante entre todos os povos – um verdadeiro paraíso na Terra. Mas esse paraíso é feito através da imposição (afinal, a forma de vida coletiva não perguntou pra ninguém se eles concordavam com a ideia de paraíso dela) e da opressão (literalmente assumindo a mente das pessoas e extraindo delas todo o senso crítico e de individualidade). Então, ainda que a ideia de um mundo perfeito seja algo almejado por todos, o conceito de que ele deve ser alcançado passando por cima de qualquer vontade contrária e desejo individual é algo que pode ser facilmente assemelhado ao modo de muitas igrejas operarem. Porque sim, “salvar as almas do inferno” pode até ser um objetivo nobre, mas ele se torna menos nobre quando se resolve que essa salvação deve ser feita a qualquer custo e independente da minha vontade.

Eu tenho certeza que há ainda outros tipos de interpretação que muita gente vai encontrar nas próximas semanas e que ainda nem passaram pela minha cabeça. Mas, independente do ponto de vista usado para se interpretar esta invasão, uma coisa é sempre verdadeira: Pluribus é uma série de altíssima qualidade em todos esses vieses. E, se você é fã de ficção científica e narrativas únicas, não pode deixar de acompanhar essa história sobre uma escritora que nunca está feliz com nada tentando salvar o mundo da felicidade e contentamento eterno.

*Pluribus pode ser encontrado no catálogo da Apple TV

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Rafael Silva

Rafael Silva é jornalista formado desde 2017. Cresceu lendo revistinhas de videogame, entrou numa "nóia" quando percebeu que o “jornagames” ainda era feito para adolescentes que só tinham interesse de discutir qual console era melhor, e agora está numa missão de vingança para resolver isso com as próprias mãos.

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