Nesta última quarta-feira aconteceu mais um State of Play, o evento de novidades da PlayStation. Entre um novo trailer de Marvel’s Wolverine, data de lançamento de Nioh 3e um trailer mais extenso sobre a sequência de Returnal, o evento de hoje teve muitas novidades. E, se você quiser saber sobre elas, a gente preparou um resumão.
Mas quais são as mensagens que se escondem por trás dos trailers e anúncios? Qual é a imagem que a Sony está projetando sobre o próprio futuro? É isso que vamos analisar neste texto. Começando com algo que ficou bem claro já desde o início:
State of Play virou um evento protocolar
Eu ainda me lembro quando praticamente todo ano a Sony era considerada como a “vencedora” da E3 – ou estava sempre disputando este “título” com a Nintendo. As duas eram aquelas que mais se preocupavam em não apenas oferecer trailers de jogos, mas entretenimento. Cada uma do seu jeito – a Nintendo com apresentações pitorescas de seus diretores que mal falam inglês, a Sony com espetáculos que transformavam o estágio da E3 em um ambiente imersivo para os jogos mostrados – mas ambas apresentavam algo que faltava em quase todas as outras conferências: carisma.
E esse carisma parece não existir mais na Sony. Enquanto a Nintendo conseguiu continuar encantando com seus eventos online na era pós-E3, a Sony perdeu essa “mágica”. Não importa o quão legais são os jogos mostrados no State of Play, esses eventos estão sempre bem longe do que eram as apresentações no palco da E3.
Antes, as apresentações da empresa me deixavam empolgado. Hoje, sempre que um State of Play é anunciado a sensação é de que marcaram uma reunião obrigatória no fim do expediente. E não ajuda o fato de tudo ser editado e exibido como se fosse um vídeo corporativo daqueles que um CEO aparece falando de “todas as coisas incríveis que a empresa tem feito” e nenhuma delas é aumento de salário, melhores benefícios ou qualquer coisa que vá beneficiar diretamente o “chão de fábrica”.
A “Era Jim Rayan” graças a Deus chegou ao fim, mas foi meio que tarde demais pro PS5
O que isso quer dizer: o PlayStation 5 continuará a ser um console “sem jogos”. Claro, é um exagero falar que o PS5 não tem jogos – mas essa é a percepção que o público tem, principalmente quando comparado à era PS4.
No console anterior, qualquer evento da Sony era marcado por uma meia dúzia de grandes jogos “exclusivos PlayStation”. Esses jogos quase sempre era do tipo “AAA” (como as franquias Uncharted, God of War, The Last of Us, Horizon e Bloodborne) ou jogos de menor investimento, mas de criadores que tinham já um público cativo para suas “maluquices” (como The Last Guardian ou Gravity Rush 2). Você pode não gostar de todos esses jogos, mas eles eram o tipo de título que faziam uma pessoa pensar “é, eu preciso comprar um PS4 pra jogar essa bosta”.
E isto é algo que o PlayStation 5 não tem na mesma quantidade. No último evento, o único jogo mostrado que entra nesta categoria foi Marvel’s Wolverine. E sim, ele é o tipo de jogo pra vender console e provavelmente vai ser um dos melhores lançados anos que vem, mas é um só. E isso é muito pouco para uma empresa que, durante quase uma década, nos acostumou a mostrar 3 ou 4 desses títulos por evento.
Claro, o cenário de games mudou. A exclusividade não é mais algo que as empresas estão buscando, pois perceberam (pasmem!) que as vendas são maiores se o jogo estiver disponível para mais do que apenas uma plataforma. Mas não é possível tirar a culpa de Jim Ryan, o ex-CEO que foi o grande responsável por criar essa impressão de que o PS5 “não possui jogos”.
Quando assumiu a divisão de entretenimento da Sony em 2019, Ryan teve como principal tarefa cuidar da transição do Ps4 para o PS5, que seria lançado em novembro de 2020. E Ele definiu que, para o novo console, a Sony iria mudar sua estratégia: ao invés de se concentrar nos jogos single player exclusivos que marcaram as eras do PS3 e do PS4, no novo console a empresa iria produzir jogos multiplayer do tipo “live service” exclusivos, que tentariam “surfar” no sucesso de jogos como Fortnite.
Assim, Ryan investiu pesado no desenvolvimento de jogos do tipo das grandes marcas da PlayStation, e foi na gestão dele que surgiram rumores de versões multiplayers de jogos como The Last of Us e God of War estavam em desenvolvimento e era neste tipo de jogo que a empresa apostava seu futuro.
E aí veio Concord.
Este exclusivo PlayStation deixou uma marca na história, mas não do jeito que a Sony esperava. O game que, de acordo com rumores, custou cerca de US$400 milhões para ser desenvolvido, foi um fracasso tão grande que a empresa achou que a melhor forma de contornar a situação era devolver o dinheiro de todo mundo e fechar os servidores para sempre. O fracasso do game foi um grande motivador para a queda de Ryan, e desde então a empresa já cancelou 8 jogos do tipo “live service” exclusivos, e há uma chance de mais dois irem pra vala (Marathon e Fairgame$ ainda estão em desenvolvimento, mas as últimas notícias de ambos não são boas).
E é aí que está os “exclusivos” que estão faltando para o PS5. Se todos esses dez jogos ainda estivessem sendo desenvolvidos, muito provavelmente a empresa continuaria conseguindo mostrar 3 ou 4 grandes “exclusivos PlayStation” por evento. Mas o baque dessa mudança brusca de estratégia no meio do caminho é algo que será difícil de esconder.
Sob a nova liderança de Hideaki Hishino, a empresa parece que voltou a se concentrar naquilo que ajudou o PS4 a ser um sucesso: jogos single player cinematográficos e exclusivos. A parceria com Kojima para criar Physint, jogo que almeja ser o sucessor de Metal Gear, é um bom exemplo disso. Mas muito provavelmente é “tarde demais” para o PS5, e essa retomada só será sentida no fim da vida do console, durante a transição para o ainda não anunciado PlayStation 6.
Xbox venceu a “guerra” dos consoles
Desde o ano passado, a “guerra” entre Microsoft e Sony pelo mercado de consoles – que existia desde a era PS3/Xbox 360 – chegou ao fim com a decisão de lançar jogos que até então era exclusivos do Xbox nos consoles PlayStation.
E a decisão foi um sucesso financeiro para a Microsoft. Inclusive, durante diversos meses jogos da Xbox foram os mais vendidos na PlayStation Store. Muita gente acha que, com esta decisão, a Microsoft “perdeu” a guerra de consoles. Mas dá pra dizer mesmo que alguém que passou a pegar uma boa parte do mercado de seu concorrente realmente perdeu uma disputa financeira?
Com a confirmação de uma versão para o PS5 de Microsoft’s Flight Simulator 2024, a Xbox vai esfregar ainda mais areia na ferida. Afinal, não é apenas mais um jogo feito pela Microsoft que provavelmente vai aparecer no topo da lista de mais vendidos da PS Store, mas é um jogo que tem a marca MICROSOFT no nome.
A Sony (e muitos fãs de fórum) podem até tentar te convencer que ela ganhou a “guerra” porque a Microsoft desistiu do ramo de exclusivos. Mas este argumento fica mais fraco quando é dito sobre um gráfico de mostra que boa parte dos dólares que deveriam ser da Sony estão indo diretamente para a conta bancária da Microsoft.
2026 será mais uma disputa entre Insomniac e Rockstar
Em 2018, a Insomniac e a Rockstar competiram competiram arduamente pelo título de “Jogo do Ano” – a primeira com Spider-Man e a segunda com Red Dead Redemption II.
Essa disputa deverá acontecer novamente em 2026: enquanto a empresa da Sony irá lançar seu novo jogo de herói – Marvel’s Wolverine – a Rockstar promete entregar o aguardado GTA 6.
Em 2018, nenhuma das duas conseguiu o prêmio de “Jogo do Ano” mais cobiçado – o da The Game Awards, que ficou com God of War. Mas, dessa vez (aparentemente) não teremos nenhum outro jogo da Santa Monica na disputa.
Sony continua fazendo apostas estranhas de hardware
A Sony perdeu o carisma que ela tinha para eventos, mas uma coisa ela mantém: o apreço por lançar hardwares superfaturados de gosto e estética duvidosa.
A novidade agora são as caixinhas de som sem fio Pulse Elevate, que possuem um design que lembra muito (ou imita?) aquelas caixinhas de som que todo mundo já teve instalado no computador nos anos 2000. A diferença é que aquelas caixinhas eram de qualidade duvidosa e vinham da China, e essas são de alta qualidade fabricadas (provavelmente) na China.
A Sony não falou sobre preços no último State of Play, mas muito provavelmente serão mais caras do que qualquer caixinha bluetooth de qualidade equivalente. Afinal, ela já pratica essa precificação nos fones, não deve mudar agora.
Essas caixinhas também é uma prova de como o mundo roda para não sair do mesmo lugar. Nos anos 2000, a gente comprava o famoso “kit multimídia”, que eram duas caixinhas de som + um leitor de cd para instalar no computador. Entre o Pulse Elevate e o PS5 que vem sem o leitor de CD, o dono de um console da Sony pode voltar a ter essa experiência de kit multimídia que já tinha “morrido” desde a época do PlayStation 2.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

